Compras milionárias sem licitação e que contemplaram empresas de outros estados; empregos para derrotados nas eleições, parentes e até donos de jornais; caos na saúde; omissão na fiscalização das empresas de ônibus e a operação tapa-buraco sem qualidade e com pouco tempo de vida útil. Estes “pecados” marcaram os 100 dias da gestão do prefeito Marquinhos Trad (PSD), que prometia gestão inovadora e repete os erros dos antecessores, inclusive em não apontar soluções inovadoras para graves e antigos problemas.
O atual prefeito teve dignidade no tratamento com os 22 mil servidores municipais, que começaram o ano sem os salários de dezembro e 13º. Marquinhos não repetiu a prática comum em início de gestão, que é parcelar a folha do funcionalismo em atraso e só pagar em dia as do seu mandato. Ele buscou recursos e quitou todos os débitos herdados de Alcides Bernal (PP) com o funcionalismo.
Já o mesmo não se pode dizer dos fornecedores e prestadores de serviços, que não receberam até o momento por créditos com valor superior a R$ 25 mil. Na sexta-feira, em edição extra do Diário Oficial, o prefeito ampliou o prazo do calote até fim de junho deste ano. Ou seja, a prefeitura deverá começar o pagamento dos débitos só no segundo semestre e, conforme o chefe do Executivo já sinalizou, só para quem oferecer desconto.
Marquinhos deve enaltecer que vem se esforçando para acabar com a principal dor de cabeça os motoristas campo-grandenses: os milhares de buracos. No entanto, a operação peca pela falta de qualidade. Apesar do secretário adjunto de Infraestrutura, Ariel Serra, anunciar que será exigido qualidade de cinco anos para o serviço, o cidadão leigo no assunto vê que o buraco reaparece até com menos de um mês após o serviço.
Não bastasse a falta de qualidade e de planejamento, a operação ainda contemplou sete empresas com R$ 20 milhões sem licitação. O prefeito escolheu as preferidas para entregar os contratos milionários.
Aliás, a falta de licitação para escolher empresas marca a gestão de Trad. Além de pagar 81% a mais pelos uniformes, ele escolheu a Reverson Ferraz, da pequena Cerquilho, no interior de São Paulo, após aderir à ata da Prefeitura da Estância Turística de Embu das Artes, aquela do prefeito ligado ao PCC. Vai contribuir com mais empregos na cidade paulista ao pagar R$ 7,8 milhões pelos uniformes, enquanto Bernal pagou R$ 4,6 milhões no ano passado para um número maior de alunos.
A prefeitura também aderiu a ata do FNDE para comprar R$ 2,3 milhões em conjuntos escolares da Maqmóveis, a empresa localizada em Paragominas, no interior do Pará e localizada a 2.544 quilômetros de Campo Grande.
A carona também foi usada para comprar os kits escolares, que vão custar R$ 3,4 milhões. Apesar do modus operandi, os produtos vão ser entregues com atraso para os estudantes da rede municipal de ensino.
O caos na saúde é outra marca dos 100 dias. No fim de semana, hospitais entraram em colapso e postos de saúde improvisaram leitos para manter pacientes internados, apesar de estarem em estado grave.
Um dos primeiros atos de Marquinhos, com aval da Justiça, foi anular o decreto de Bernal que cancelava o contrato com a Solurb. Apesar das boas relações com a empresa, ele repetiu o antecessor até nisso e a cidade teve greve dos trabalhadores da coleta do lixo por 24 horas na sexta-feira passada.
A paralisação reflete o amadorismo da equipe atual, porque havia dinheiro, mas os trabalhadores ficaram sem os salários de março porque o acordo com a Justiça do Trabalho acabou e ninguém se antecipou para evitar o problema.
As nomeações para cargos comissionados causaram polêmica. Vários derrotados foram nomeados para cargos, como o Léo Matos, que foi acomodado na Secretaria de Governo após não conseguir ser reeleito prefeito em Naviraí.
A Controladoria Geral do Município foi criada para combater a corrupção, mas ganhou fama pelas nomeações polêmicas. A primeira foi do empresário Tony Ueno, que tem o jornal eletrônico Diário de Mídia e o instituto de pesquisa, para ser o ouvidor geral do município.
O órgão também acomodou a jovem advogada Vanessa Joseph Mouniergi Chamoun, namorada do sobrinho do prefeito, Fábio Trad Filho, filho do ex-deputado federal Fábio Trad. Para manter a futura sobrinha no cargo de corregedora geral, Marquinhos mobilizou a base na Câmara e acabou com a exigência de que só concursado poderia exercer a função.
Mas houve uma mudança radical em 100 dias: a postura dos vereadores. Apesar dos problemas da cidade, eles deixaram as armas de lado com a saída de Bernal e passaram a prestar atenção apenas nas boas intenções do atual prefeito. Enquanto a cidade sofre com as velhas “doenças”,eles até recorrem ao regime de emergência para mudar o nome da rua no Indubrasil e fazer homenagem ao pai de um vereador.
O Tribunal de Contas do Estado também mudou a postura em relação a prefeitura – de rigoroso com as licitações do prefeito anterior, não se viu nem uma cobrança de explicações sobre as caronas em licitações país afora para compras milionárias.
Nesta segunda-feira, a prefeitura publicou o edital adiando a licitação da revitalização da Avenida Ernesto Geisel, que segue desmoronando. Mesmo caríssimo e reduzido pela metade, o projeto teve novo revés e segue o desafio de superar o feitiço de ser maravilhoso, mas não sair do papel desde 2012.
As outras obras paradas, seguem sem perspectivas de retomada. No entanto, dinheiro em caixa, há, conforme balanço do primeiro bimestre.