De olho na especulação imobiliária, o prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD), deve manter a guerra contra os católicos. Depois de não conseguir o apoio dos vereadores para anular a lei municipal, que prevê a permuta da área com a Arquidiocese de Campo Grande, ele deverá ir à Justiça para impedir a construção do santuário mariano no Bairro Chácara Cachoeira.
Evangélico, Trad transformou a pendenga em projeto pessoal.
Nesta terça-feira, a Câmara Municipal não aceitou revogar a lei. Onze vereadores votaram contra a proposta do Executivo, que cancelava a Lei 5.608, de 17 de agosto de 2015, e retomava os 15.125 metros quadrados – 2 mil foram doados ao Setlog (Sindicato de Transporte Logístico de Mato Grosso do Sul) e 5 mil foram destinados à igreja por meio de permuta.
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A ganância do prefeito previa até o cancelamento da praça prevista no local, já 8.125 metros quadrados foram destinados para a construção da área de lazer.
Um dos pontos contra a revogação da lei é a bagunça em que as instituições se transformaram no Brasil. Campo Grande corre o risco de virar a casa da “mãe Joana” – a cada prefeito, uma lei. A cidade corre o risco de não oferecer segurança jurídica aos investidores, porque tudo muda, até a lei, dependendo do gosto e da vontade do prefeito.
Este foi o principal motivo que levou o vereador Eduardo Romero (Rede) a votar contra a revogação. Ele defendeu a lei porque prevê permuta onerosa, com troca de terrenos e dinheiro, com a Igreja Católica. Não é doação como propagam os assessores do Executivo.
A mesma opinião tem o vereador André Salineiro (PSDB). “A Arquidiocese irá pagar pelo terreno”, destacou o tucano. “Pelo entendimento de boa parte dos vereadores, possíveis erros na lei, poderiam ser sanados sem a necessidade de revogação desta lei”, explicou.
Este era o principal motivo para revogar a lei, segundo o secretário municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, José Marcos da Fonseca.
No entanto, outra lei aprovada pela prefeitura tem o mesmo erro e será corrigida por meio de correção na legislação. Este é o caso da área doada para a Indústria e Comércio de Massas Alimentícia Pallacio, que ganhou área de 500 metros quadrados no Bairro Paulo Coelho Machado. O problema é que a área é maior, de 569,7 metros quadrados.
No entanto, como a área não é da igreja nem fica em área nobre, Marquinhos não fez escândalo nem ameaçou revogar a doação. Ontem, ele enviou um projeto propondo a correção do erro e fazendo a “correção necessária”.
Agora, os católicos não vão poder comemorar a vitória no legislativo nem iniciar as obras da Catedral de Nossa Senhora da Abadia, padroeira da Arquidiocese, e projetada para ser o maior templo religioso da cidade.
José Marcos Fonseca, da Semadur, anunciou, em entrevista ao Correio do Estado, que o prefeito poderá recorrer à Justiça para suspender a permuta da área.
O poder público deve ser laico na concessão de bondades e ao cobrar o cumprimento da lei. Marquinhos vem se mostrando disposto a tudo para cancelar a permuta com os católicos. Como ninguém denunciou o caso, ele está disposto a provocar o Ministério Público para ingressar com ação para anular o negócio.
Por outro lado, ele se nega a cumprir sentença judicial, que determinou a retomada de área doada para a Assembleia de Deus no Bairro Coophmat, igreja de Gilmar Olarte. Neste caso, a área foi doada pelo irmão, Nelsinho Trad (PTB), sem exigir qualquer contrapartida, e para o segmento evangélico, o mesmo do prefeito.
A área do Chácara Cachoeira pode render até R$ 20 milhões aos cofres públicos, sem considerar outros benefícios para os envolvidos, que não vem ao caso discutir.
Para quem suspeita, maldosamente, ser perseguição religiosa, fica o aviso de que a presença de fiscais da Semadur, no domingo à noite, para verificar se a igreja Cristo Luz dos Povos, fundada há 50 anos, faz barulho e incomoda os vizinhos, foi mera coincidência.
O fato do pároco, Wagner Divino de Souza, ser um dos principais assessores do arcebispo Dom Dimas Lara Barbosa, outra coincidência.