Após sofrer o desgaste de ser denunciado de não cumprir a carga horária prevista no contrato em outubro de 2015, o médico cardiologista Gerson Gattas Orro de Campos teve o mérito do trabalho reconhecido pela Justiça. Apontado por pacientes e testemunhas como profissional dedicado e exemplar, ele foi absolvido na ação por improbidade administrativa contra seis médicos do Distrito de Aguão, na zona rural de Campo Grande.
O caso virou ares de escândalo por envolver o deputado estadual Paulo Siufi (MDB),condenado em primeira instância por receber sem trabalhar no distrito. O parlamentar recorreu, mas foi considerado culpado por cumprir apenas 18% da jornada de trabalho. Ele recorreu da sentença.
Veja mais:
Médico aceita ressarcir saúde, médica exemplar é absolvida e deputado pode ficar inelegível
No entanto, outros cinco médicos acabaram arrolados na “farra de Aguão”. O cardiologista Gerson Gattas Orro de Campos pode ser considerado vítima da burocracia. Ao contrário de muitos, ele trabalhava mais do que o declarado na folha de frequência.
De acordo com a sentença do juiz David de Oliveira Gomes Filho, da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, publicada nesta segunda-feira, mas datada de 5 de maio deste ano, Campos é um médico exemplar.
Conforme depoimento de Maria Helena, gerente da Unidade Básica de Saúde Manoel Cordeiro, ele chegava antes das 7h e só fechava o consultório quando o último paciente era atendido. Em depoimento prestado à Justiça, ela contou que sempre fechava o posto de saúde às 17h, mas, quando era o plantão do Gerson Campos, já ia preparada para voltar para casa mais tarde.
Dois funcionários da escola em frente ao posto de saúde confirmaram a versão do médico. Gerson contou que o contrato passou a ser de plantonista em 2006, com jornada semanal de 12h.
A fama de médico atencioso e detalhista fazia até pacientes da Capital fazerem o caminho inverso de muitos moradores: em busca do atendimento de excelência, eles se deslocavam por 24 quilômetros até o distrito para serem atendidos pelo médico na zona rural.
Ao ser questionado pelo Ministério Público Estadual sobre o preenchimento da folha de frequência, o profissional explicou que o município não paga hora extra e devolvia o relatório para ser preenchido de acordo com a orientação.
“Esta pontualidade persistente realmente é incomum e gera forte suspeita de que horários marcados não correspondiam à realidade, conforme alega a defesa”, observa o magistrado, sobre os horários anotados, de chegada às 7h e saída às 19h, sem horário para almoço.
Na defesa, o médico lamentou a denúncia feita pelo MPE, que o transformou em “vítima de especulações jornalísticas”.
Com a absolvição, Gerson Campos se livra da única denúncia a lhe causar transtornos e deve ser considerado exemplo como médico e profissional da saúde pública.
Afinal de contas, é reconhecendo os bons exemplos em meio ao caos da saúde pública que começamos a construir um País melhor.
Espera-se que muitos médicos sigam o exemplo para amenizar o sofrimento da população brasileira, que sofre os efeitos da corrupção e dos desvios dos recursos em áreas essenciais, como a saúde.