O advogado Jail Benites Azambuja, preso pela Polícia Federal no mês passado em Campo Grande, ganha R$ 20.363,53 por mês por ser ex-juiz. Condenado a seis anos de prisão por falsidade ideológica e denunciação caluniosa e acusado de tentativa de assassinato contra um magistrado, ele recebe aposentadoria quatro vezes superior ao valor máximo que um trabalhador teria direito após 35 anos de serviço.
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O magistrado ganha, sem a necessidade de bater ponto nem por uma hora, o valor pago a um trabalhador em aproximadamente dois anos. Para acumular o salário pago a ele em um único mês, o operário vai precisar suar a camisa por 21 meses. O valor consta do Portal da Transparência do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
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Depois de ser afastado da magistratura no Paraná pelo Superior Tribunal de Justiça em 2015, Jail Azambuja passou a atuar como advogado em Campo Grande. Ele passou a advogar para o então prefeito da Capital, Gilmar Olarte, e ganhou notoriedade.
Políticos poderosos e influentes passaram a recorrer aos serviços de Azambuja, como o senador cassado Delcídio do Amaral, o ex-deputado federal Edson Giroto e o deputado federal Vander Loubet (PT). O petista se viu obrigado a trocar de advogado com a prisão do ex-juiz no dia 12 de março deste ano.
Só que Jail continuou respondendo pelos crimes cometidos em Umuarama, onde era juiz federal. Aliás, como titular da 2ª Vara Federal da cidade paraense é que ele cometeu os crimes.
Em 2007, Jail determinou uma grande operação contra 47 políticos e policiais paranaenses, que supostamente estavam envolvidos com contrabando. Só que o grupo era inocente. Para se safar da armação, ele passou a interferir na investigação conduzida pela Polícia Federal, chegando a interrogar as testemunhas e emitir ofício usando colegas de toga para obter informações.
Ao ver que a situação estava ficando complicado, Jail Azambuja teria simulado um atentado contra si próprio em fevereiro de 2008. A PF descobriu a farsa e ele acabou sendo condenado por falsidade ideológica e denunciação caluniosa a seis anos e 10 dias de prisão.
Em setembro de 2008, na esperança de evitar a remoção, ele teria sido o mandante do atentado contra o juiz federal Luiz Carlos Canalli, atual desembargador do Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
O autor do atentado já foi condenado e Jail iria a júri popular em 9 de março deste ano. Como ele faltou e vinha usando artifícios para postergar o julgamento, a Justiça Federal do Paraná determinou a prisão do advogado.
Por causa desses crimes, Jail foi punido com aposentadoria compulsória pelo STJ, em caso semelhante ao juiz Gustavo, da novela O Outro Lado do Paraíso, da TV Globo.
Só que a aposentadoria rende R$ 20,3 mil por mês ao ex-juiz, o da vida real. É um valor 21 vezes superior ao salário mínimo de R$ 954 pago por mês para um trabalhador que sua 44 horas por dia durante seis dias por semana.
Só que Jail Azambuja recebe este benefício sem derramar uma gota de suor. Em 19 meses, o ex-juiz vai receber o valor que um operário comum só ganharia com 35 anos de trabalho.
O trabalhador seria aposentado com um salário mínimo.
O pior é que a reforma da previdência, que deverá ser retomada em 2019, voltará a discutir meios para dificultar a aposentadoria pelo INSS, sem acabar com absurdos como aposentadoria milionária paga a criminosos da toga.