O deputado federal Carlos Marun (PMDB) foi escolhido relator da CPMI da JBS para cumprir apenas um papel: defender o presidente da República, Michel Temer (PMDB), o primeiro na história da República denunciado e investigado por corrupção no Supremo Tribunal Federal. E o eleitor de Mato Grosso do Sul que se prepare para passar vergonha todo dia, do começo ao fim da “investigação”.
Marun não está preocupado com a opinião pública. Aliás, ele se acha dono do mandato de deputado federal e até debocha do eleitor.
Pit Bull do ex-presidente da Câmara dos Deputados, o peemedebista defendeu Eduardo Cunha (PMDB) até mesmo na cadeia. Sem se importar com nada, ele usou dinheiro da Câmara dos Deputados para visitar o “amigo” na prisão em Curitiba, onde cumpre pena de 14 anos por corrupção.
A empolgação de Marun começou com o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), quando chegou a ser ovacionado pela multidão que foi às ruas contra a corrupção. Ele se vestiu de verde e amarelo para pedir um basta à roubalheira praticada pelo PT.
No entanto, os amigos de Marun não roubam os cofres públicos, apesar das evidências e provas. Ele acredita piamente que Temer é inocente, apesar das gravações e da mala com R$ 500 mil carregada pelo ex-assessor Rocha Loures (PMDB).
Temer já foi denunciado por corrupção passiva no caso da JBS ao Supremo Tribunal Federal, mas não foi investigado porque não houve autorização da Câmara dos Deputados.
Acusado de ser chefe do “quadrilhão do PMDB” e de ter recebido R$ 31 milhões em propinas, o presidente da República ainda é alvo de mais investigações da Polícia Federal.
Marun tem a missão de reunir munição para salvar Temer ou, pelo menos, garantir a conclusão do mandato até dezembro de 2018.
A escolha do deputado sul-mato-grossense para relator da CPMI do JBS já causou duas baixas. Em protesto contra o relator, os senadores Renato Ferraço (PSDB/ES) e Otto Alencar (PSD/BA) deixaram a comissão. O baiano chamou Marun de “testa de ferro de Temer”.
No mesmo dia, o deputado recebeu um apoio importante, do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), também acossado por denúncias de corrupção e acusado de receber R$ 38,5 milhões em propinas da JBS em troca de aproximadamente R$ 1 bilhão em incentivos. O tucano acredita que a escolha de Marun será importante para Mato Grosso do Sul.
Além de Marun, a escolha dos integrantes da CPMI já é um escândalo. Doze receberam doações da JBS na campanha eleitoral de 2014, segundo o Congresso em Foco. O peemedebista recebeu R$ 103 mil – esta quantia foi declarada à Justiça Eleitoral.
Um dos terços dos componentes definidos até ontem era réu ou investigado no Supremo por corrupção.
Além de buscar livrar os políticos envolvidos em denúncias de corrupção, a CPMI deve se transformar em palco para as eleições de 2018. O presidente da comissão, senador Ataídes Oliveira (PSDB), quer transformá-la em vitrine da sua campanha a governador do Tocantins.
O vice-presidente, Ronaldo Caiado (DEM), sonha em disputar a presidência da República. Os dois tramam para que a investigação seja prorrogada até o fim do primeiro semestre do próximo ano.
Marun também acredita que poderá ganhar votos ao aparecer diariamente no Jornal Nacional, da TV Globo. Para o deputado e seus assessores, existe aquele eleitor que ficará contente em ver um representante de Mato Grosso do Sul aparecendo diariamente no Jornal Nacional, da TV Globo, e não se importará com a defesa dos acusados por corrupção.
Não se pode comparar o deputado com o então senador Delcídio do Amaral, que estreava no parlamento e ganhou os holofotes ao comandar a CPMI dos Correios. Na época, ele não poupou os principais caciques do PT, apesar de ser mesmo partido do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Entretanto, após a Lava Jato e outras operações da Polícia Federal, descobrimos que Delcídio protegeu Aécio Neves (PSDB). Ele agiu como Marun nos bastidores, mas foi inteligente o bastante para atuar como justiceiro diante das câmeras.
No pântano da corrupção em que se transformou a República, com as denúncias atingindo todos os poderes constituídos, fica difícil saber quem ainda não nos fará passar vergonha ou debochar da nossa indignação.
A esperança só será sepultada se em outubro de 2018, o eleitor esquecer tudo que estamos passando hoje e … (não vou dizer para não dar azar)