O empresário João Amorim usou um amigo para driblar o bloqueio das contas bancárias e bens determinado pela Justiça para continuar recebendo mesada mensal de aproximadamente R$ 300 mil da PSG Tecnologia Aplicada, que mantém contratos milionários com o Governo do Estado. Essa é uma das revelações da Operação Motor de Lama, denominação da 7ª fase da Lama Asfáltica. O repasse não foi interrompido nem durante a prisão do empresário.
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Conforme a quebra do sigilo bancário, houve repasse de R$ 5,095 milhões, entre outubro de 2015 e setembro de 2018, para o engenheiro Quirino Piccoli e suas empresas pela PSG Tecnologia e seu principal sócio, Antônio Celso Cortez. Nova quebra de sigilo encontrou o repasse de mais R$ 1,120 milhão durante o período em que Amorim ficou hospedado no Centro de Triagem Anísio Lima.
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Isso mostra que os empresários mantiveram o repasse após a deflagração da primeira fase da Operação Lama Asfáltica, ocorrida em 9 de julho de 2015. Nem os bloqueios dos bens, determinados nas fases seguintes, como Fazendas de Lama (maio de 2016), Aviões de Lama (julho de 2016), Máquinas de Lama (maio de 2017) e Computadores de Lama (novembro de 2017), inibiram os acusados de integrar a organização criminosa.
Conforme despacho do juiz Bruno Cezar da Cunha Teixeira, da 3ª Vara Federal, ao ser inquerido pela primeira vez pelo delegado Marcos Damato, o engenheiro não soube informar os motivos dos depósitos feitos pela PSG. Dois meses depois, em 6 de agosto de 2019, Piccoli lembrou-se de tudo e revelou que o dinheiro era repassado para João Amorim.
“E as contas dele foram todas meio bloqueadas. Ele devia muito, banco Rural, Bradesco, então ele chegou pra mim, pela nossa amizade, ‘Quirino, preciso de um favor teu. Eu tenho um negócio com o Antônio Celso Cortez e ele me remete dinheiro todo mês, só que não pode cair na minha conta. Você deposita na sua conta, você saca e me passa para eu manter minha família, meus negócios’. Tudo bem, não tem problema nenhum. E ele me mandava, como tá aí no computador, esses valores na minha conta. Eu sacava o dinheiro em um dia, dois (dias), um dia ou dois depois, sacava em dinheiro e dava pra ele, entregava na mão dele. Não sei o que ele ia fazer, o que ele fez com o dinheiro. Você já me perguntou e eu também não sei o que ele fez com o dinheiro”, contou o engenheiro, em depoimento à Polícia Federal.
No segundo depoimento, Piccoli ressaltou que entregava o dinheiro em mãos para Amorim. No entanto, como nova quebra de sigilo revelou a manutenção dos repasses por Cortez mesmo após a prisão do poderoso dono da Proteco, ocorrida por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, em maio de 2018, ele foi intimado novamente.
No dia 10 de outubro de 2019, o amigo disse que sacou o dinheiro e repassou aos familiares indicados por João Amorim. Ele disse que nunca ficou sabendo do destinado dado ao dinheiro pelo empresário.
“Ora, os extratos bancários de QUIRINO PICCOLI e o teor de suas declarações à Polícia Federal deixam bem claro que seu surgimento como ‘laranja’ para os repasses milionários em benefício de JOÃO BAIRD para JOÃO AMORIM por intermédio de ANTONIO CORTEZ só ocorreu em razão do estrangulamento financeiro e avanço das investigações na detecção dos outros canais de movimentação de recursos anteriormente empregados”, observou o juiz.
“As movimentações espúrias persistiram mesmo com as múltiplas decisões proferidas, e mesmo no período em que JOÃO AMORIM estava preso preventivamente, no ano de 2018, demonstrando o desprezo dos representados em relação às determinações do Poder Judiciário”, destacou Bruno Cezar, constatando que as medidas determinadas pela Justiça não foram suficientes para estrangular as ações dos acusados de integrar a organização criminosa.
Este foi um dos motivos que levou a Polícia Federal a pedir a decretação preventiva de João Amorim e do Bill Gates Pantaneiro. O juiz Bruno Cezar da Cunha Teixeira acatou o pedido, mas substituiu a prisão por medidas cautelares, como entrega dos passaportes.