O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, cobrou, em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) unificado contra a pandemia do coronavírus. Na mais dura crítica pública ao chefe, o médico campo-grandense destacou que a situação leva “pro brasileiro uma dubiedade”. “Ele não sabe se escuta o ministro da Saúde, se ele escuta o presidente, quem é que ele escuta”, justificou o ministro.
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Balançando no cargo em meio à maior crise sanitária do Brasil no século, o médico campo-grandense subiu o tom contra o presidente da República. Há uma semana, Mandetta saiu fortalecido após a ala militar impedir a sua demissão. No início do feriadão da Semana Santa, ele voltou a balançar com indiretas do presidente.
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Bolsonaro afirmou que o médico não abandona o paciente, mas o paciente pode trocar de médico. Além das indiretas, o presidente da República passou a contrariar, de forma mais ostensiva, as recomendações do Ministério da Saúde, para que o brasileiro evite aglomerações, fique em casa e adote o isolamento social.
Na entrevista à TV Globo, tratada como inimiga por Bolsonaro e seus seguidores, o ministro decidiu deixar claro que não concorda com o chefe. O sul-mato-grossense ainda cobrou mudança no discurso do presidente da República. “Eu espero que essa validação dos diferentes modelos de enfrentação possa ser comum e termos uma ala úncia, uma fala unificada”, destacou.
O ministro da Saúde previu a explosão no número de casos da Covid-19 no Brasil nos meses de maio e junho. De forma didática, Mandetta explicou que o número dependerá do comportamento da sociedade. Com o atual cenário, com a maior parte da população nas ruas, o sistema hospitalar do Brasil entrará em colapso nos meses de maio e junho.
“Dias duros. Dias em que nós seremos taxados de ‘olha, vocês não fizeram o que tinham que fazer, por isso o sistema está entrando em colapso. Olha, vocês deveriam ter sido mais duros, menos duros, porque a economia está assim, está assado’”, afirmou o ministro.
Atualmente, o Brasil contabiliza 22.318 casos positivos e 1.230 mortes. A situação deve piorar, conforme Mandetta.
“Nós estamos agora vivendo um pouco do que fizemos duas semanas pra trás. Se iniciarmos precocemente uma movimentação, nós vamos voltar a ter aquele mesmo padrão do início aonde você tinha dia após dia um aumento do surgimento de brotes epidêmicos. A gente imagina que os meses de maio e junho serão os sessenta dias mais duros para as cidades. A gente tem diferentes realidades. O Brasil a gente não pode comparar com um país pequeno, como é a Espanha, como é a Itália, a Grécia, Macedônia e até a Inglaterra. Nós somos o próprio continente. Sabemos que serão dias duros. Seja conosco ou qualquer outra pessoa. Maio, junho, em algumas regiões julho, nós teremos dias muito duros”, previu, admitindo que pode ser demitido nos próximos dias.
O embate entre Mandetta e Bolsonaro deve marcar o início da semana. A crise voltou a rondar o Ministério da Saúde no fim de semana, com a divulgação da conversa entre o deputado federal Osmar Terra (MDB/RS), louco pelo cargo de ministro da Saúde, e o ministro da Cidadania, Onyz Lorenzoni.
A situação voltou aos holofotes com a fala de Bolsonaro, de que o paciente pode trocar de médico. Além disso, o presidente reforçou a posição contra o isolamento social, medida adotada contra a pandemia por praticamente todos os países do mundo.
No entanto, Mandetta decidiu esticar a corda ao escolher a Globo, considerada a maior inimiga de Bolsonaro, para criticá-lo publicamente. Analistas políticos avaliam que, com o gesto, o sul-mato-grossense desafiou o presidente a demiti-lo.
Caso seja demitido por Bolsonaro, Mandetta não deverá ficar desempregado. O seu passe passou a ser disputado por governadores, como Ronaldo Caiado (DEM), de Goiás, e João Doria (PSDB), de São Paulo.
(veja entrevista completa ao Fantástico)