A população brasileira começa a ficar dividida sobre como enfrentar a pandemia do coronavírus: parar tudo para salvar vidas ou ignorar a letalidade do vírus para salvar a economia? Dois fatos deixam claro a fratura social causada pelo terror do século. Em desabafo emocionado e indignado, o deputado federal Fábio Trad (PSD) chamou de “homicidas” os defensores do isolamento vertical. Por outro lado, carreatas pedem a reabertura do comércio na Capital e em Dourados.
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Alarmada com o efeito devastador da Covid-19, a maior parte da sociedade adotou o isolamento social e passou a adotar as medidas recomendas pelas autoridades de saúde, como lavar as mãos, usar álcool gel e máscaras. O divisor de águas ocorreu na terça-feira à noite. Em rede nacional de rádio e televisão, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) classificou a quarentena de criminosa e conclamou a população voltar ao trabalho e os estudantes às escolas.
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No dia seguinte, o presidente reforçou o pedido para evitar colapso na economia. Preocupado com os impactos na reeleição em 2022, Bolsonaro defendeu o isolamento vertical, ou seja, apenas do grupo de risco – idosos, portadores de doenças autoimunes, diabéticos, hipertensos, entre outros.
Elogiado pela conduta no ministério, Mandetta acabou recuando ao não desmentir o presidente. O ministro até criticou o fechamento de igrejas. Bolsonaro baixou o decreto em que declarou como serviços essenciais restaurantes, lotéricas e igrejas. O próximo passo do Governo federal é sugerir o isolamento social, colocando em lados opostos a classe científica e autoridades de saúde e os seguidores do bolsonarismo.
Primo de Mandetta, irmão prefeito da Capital e do senador Nelsinho Trad (PSD), que contraiu o coronavírus e ficou quatro dias internado, Fábio Trad fez desabafo emocionado no Twitter. “Isolamento vertical agora em que os índices de contaminação estão crescendo no Brasil? Isto é um crime. Autoridades que endossarem este absurdo serão coautores de homicídios. Crianças e jovens vão contaminar seus pais e avós – grupos de risco – em casa. Canalhas, canalhas!”, bradou o parlamentar, que é advogado e foi presidente da OAB/MS.
“É preciso senso de cidadania para levantar a voz e dizer que isolamento vertical agora é crime. Não pode! Não pode porque isso vai ocasionar genocídio em relação da todas as pessoas do grupo de risco no Brasil”, gritou. Ele ressaltou, sem citar Mandetta, que quem adotar esta medida será “dolosamente homicida”.
Por outro lado, empresários, comerciantes e motoristas de aplicativo decidiram ir às ruas para pressionar Marquinhos a suspender a quarentena em Campo Grande. Na tarde de hoje, centenas de veículos participam de carreata, que começou no Aeroporto Internacional de Campo Grande e percorreram as principais vias da Capital.
A Guarda Municipal e a Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) bloquearam os acessos à prefeitura e acabaram gerando congestionamento no Centro. Eles fizeram buzinaço para pedir a reabertura do comércio na Capital.
De manhã, em Dourados, de acordo com o Midiamax, a carreata para pedir a reabertura do comércio reuniu motocicletas, automóveis e até ônibus em uma extensão de cinco quilômetros.
Nas redes sociais, a advogada Giselle Marques criticou a manifestação. “Parabéns ao prefeito de Campo Grande por ter coragem em enfrentar a insanidade de alguns que, de carro, protestam para ver os ônibus lotados com os mais pobres adoecendo”, criticou.
A pressão de Bolsonaro já surgiu o efeito em Amambai e Rio Brilhante. Os prefeitos suspenderam a quarentena e determinaram a reabertura do comércio nesta sexta-feira.
Na Capital, Marquinhos autorizou a reabertura de restaurantes e lotéricas. A Associação dos Bares e Restaurantes, devido à falta de clientes, 80% dos estabelecimentos vão continuar fechado, conforme o Correio do Estado.
O prefeito também autorizou a volta dos cultos e missas presenciais na Capital a partir de segunda-feira. No entanto, a Arquidiocese de Campo Grande mantém suspensas as missas presenciais e toda as celebrações da Semana Santa. As igrejas evangélicas planejam retomar à atividade.