Sem conseguir suspender a greve dos servidores administrativos da educação, que pode ganhar a adesão dos trabalhadores da segurança pública nos próximos dias, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) decidiu recorrer à tática adotada pelo ex-prefeito da Capital, Gilmar Olarte, e ao “terrorismo” para convencer o funcionalismo público estadual a concordar com o reajuste zero.
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Depois de conceder reajuste de 16,37% no próprio salário e nos subsídios do primeiro escalão, o tucano alega não ter dinheiro para, pelo menos, repor a inflação acumulada nos últimos 12 meses. Nem mesmo a incorporação do abono, que elevaria o desembolso mensal com o benefício de R$ 8 milhões para R$ 14 milhões, é admitido pelo Governo do Estado.
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O primeiro movimento contra o reajuste zero foi a greve por tempo indeterminado dos administrativos da Educação, que começou na segunda-feira (20). Apesar da liminar do desembargador Luiz Tadeu Barbosa Silva, que obriga dois terços dos funcionários na ativa, a paralisação não dá sinais de arrefecimento.
De acordo com a Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação), cerca de dois mil dos seis mil administrativos das escolas estaduais estão de braços cruzados. Como há déficit expressivo, muitos estudantes estão sendo prejudicados com a greve. A paralisação afeta, principalmente, as escolas em tempo integral, porque não há funcionário para garantir o almoço e os lanches.
O presidente da entidade, Jaime Teixeira, conta que os administrativos querem a incorporação do abono, política salarial para elevar o piso dos atuais R$ 854 para até o valor de um salário mínimo (R$ 998) e a contratação dos aprovados no último concurso. Na campanha eleitoral do ano passado, Reinaldo anunciou o concurso e prometeu contratar 500 administrativos, mas, depois de reeleito, nem com a greve dá sinais de cumprir a promessa.
Pelo contrário, o Governo decidiu partir para o ataque. Em matéria publicado nesta quinta-feira (23), o Campo Grande News (veja a matéria aqui) publicou os salários de 11 diretores da Fetems, que custariam R$ 1,4 milhão aos cofres estaduais.
Apesar de não citar nenhum administrativo, que seria o representante da categoria em greve, o site ataca sem dó nem piedade os sindicalistas. Nenhum ganha mais que o governador, que teve o salário reajustado para R$ 35.462 em janeiro deste ano.
A estratégia de divulgar salários de sindicalistas para inibir o movimento foi adotada por Olarte quando enfrentou a maior greve dos professores na história de Campo Grande. Na ocasião, para desgastar os dirigentes da ACP (Sindicato Campo-Grandense dos Profissionais da Educação Pública), ele fez propaganda com os seus salários. Aliás, o então prefeito divulgou os salários de todos os professores.
Jaime Teixeira disse que é uma tática velha e antiga, muito usada no passado. O governador Pedro Pedrossian, na época no PTB, usou o mesmo recurso para forçar o encerramento de uma greve na educação.
Além de usar os jornais e sites, Reinaldo incorporou pessoalmente o papel de profeta do caos e fazer terrorismo com os 75 mil servidores públicos. De acordo com o governador, só há dinheiro suficiente para pagar os salários em dia até o próximo mês. A mensagem subliminar é de que se houver reajuste, a situação pode ficar muito pior.
“O problema é que estamos vivenciando é que se olhar para março a receita caiu, em abril a receita caiu mais ainda, em maio deve cair, significa que o Brasil está em retração. A gente não sabe qual a profundidade, não podemos fazer previsão de regularidade se a receita não está entrando mais, mas para junho posso te garantir que até o quinto dia útil vai ser cumprido”, afirmou Azambuja, conforme registro feito pelo Campo Grande News (leia aqui).
Ao jornal Midiamax, o tucano foi ainda mais alarmista. Ele previu que toda a sociedade sul-mato-grossense pode ser penalizada em caso de reajuste dos servidores estaduais. “É um momento de responsabilidade. Não é que o governador é insensível, que o governador não queira fazer. É que nós estamos impossibilitados de fazer por uma questão legal que pode impor a Mato Grosso do sul sanções que podem prejudicar a sociedade como um todo”, ressaltou o tucano (veja a matéria completa).
“Se tivéssemos condições, nós faríamos. É que legalmente estamos impossibilitados, mas o diálogo é necessário e a livre manifestação faz parte do dia-a-dia”, explicou-se, conforme o Midiamax. “O Governo não governa só para funcionários públicos, ele governa para todos”, disse, sem explicar porque tem dinheiro para dar reajuste de 16,37% ao primeiro escalão, mas falta para atender quem ganha menos de um salário mínimo.
Para o presidente do Sintss (Sindicato dos Trabalhadores na Seguridade Social), Ricardo Bueno, a ofensiva do Governo para convencer os servidores estaduais a aceitarem o reajuste zero sem reagir.
Depois dos administrativos da educação, o segundo movimento pode começar neste sábado. Os policiais militares e bombeiros farão assembleia conjunta para decidir como vão reagir à proposta de reajuste zero do Governo.
Os policiais civis paralisam as atividades no dia 31 deste mês e não descartam greve por tempo indeterminado. O movimento segue com os agentes penitenciários, que convocaram assembleia para discutir o assunto na próxima semana.
O primeiro sinal concreto do governador para demonstrar a existência da crise era revogar o reajuste de 16,37% no próprio salário e do primeiro escalão. Se a lei vale para todos, o mesmo vale para a crise. Afinal, não se pode dizer que governa para todos, se só os menos afortunados pagam a conta.