Eleita senadora por Mato Grosso do Sul na onda bolsonarista em 2018 e vice-líder do Governo no Congresso Nacional, Soraya Thronicke (PSL) não garante que repetirá o voto em Jair Bolsonaro (PL) nas eleições deste ano. Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, a sul-mato-grossense ressaltou que não vai na onda só por ser representante do presidente no parlamento. “Eu não sou uma bajuladora de mandato. Não serei jamais”, afirmou.
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As declarações da senadora não surpreendem porque faz tempo ela está em pé de guerra com os bolsonaristas nas redes sociais. “Eu não quero ser confundida com essas pessoas, quero ter uma conduta equilibrada e firme. Eu falo o que eu tenho que falar. Não vou na onda, só porque eu sou vice-líder do governo no Congresso. Não tenho apego nenhum a esses crachás e voto do jeito que eu quero. Eu não sou uma bajuladora de mandato. Não serei jamais”, afirmou na entrevista publicada nesta segunda-feira (10).
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Grande surpresa das eleições há quatro anos, quando derrotou raposas da política regional como o ex-governador Zeca do PT, o ex-secretário estadual de Infraestrutura, Marcelo Miglioli (SD), o ex-senador Waldemir Moka (MDB) e o ex-senador Delcídio do Amaral (PTB), Soraya foi beneficiada da onda a favor de Bolsonaro.
No entanto, ela não garante que vai fazer campanha nem votar pela reeleição de Bolsonaro. “Se ele estiver do lado das (nossas) bandeiras, de repente eu estarei (com ele). Eu sou fiel aos princípios. Se ele não é, ele é que não estará ao nosso lado”, afirmou a senadora, que deverá assumir a União Brasil, sigla a ser criada com a fusão do DEM e PSL, em Mato Grosso do Sul.
Sem citar Bolsonaro, Soraya também atacou o presidente, que chegou a insinuar um golpe de estado e defendeu o fechamento do Supremo Tribunal Federal em setembro do ano passado. “Não é uma pauta racional e de democracia essas questões de fechar o STF, atacar os Poderes. Nós vivemos num Estado laico. Eu sou religiosa, mas isso é coisa minha, particular”, criticou a senadora.
Ela também não se mantém 100% fiel ao Governo no Congresso Nacional. “Nas bandeiras às quais ele se mantém fiel, sim. Eu sou fiel às bandeiras da direita de verdade, como Estado mínimo, liberdade econômica, até mesmo a bandeira armamentista. Mas, acima de tudo, defendo a bandeira anticorrupção, que foi deixada de lado”, ressaltou, criticando as medidas do presidente que minaram o combate à corrupção.
“A fidelidade tem que ser aos princípios e às bandeiras. Foi com isso que eu me comprometi e foi com isso que lá na campanha nós nos unimos. Essa ‘direita kamikaze’ se autodestrói”, criticou, sobre o grupo de Bolsonaro.
“Nós fomos eleitos (em 2018) levando a bandeira da direita, que estava adormecida e emergiu. Mas misturaram os assuntos. Eu comecei a perceber esses ‘gaps’ na compreensão, coisas esdrúxulas. Eu tenho falado em direita responsável porque a gente está vendo que ficou pejorativo ser de direita. Um monte de gente não sabe o que é ser de direita, não sabe quais são as bandeiras que nós carregamos, não age dentro de uma economia liberal que era a nossa maior proposta. Se somos Estado mínimo, o que a sexualidade das pessoas tem a ver com o Estado? Esses malucos que falam pela direita, para mim, nem de direita são”, detonou.
Ela repetiu o discurso contra o tratamento precoce, pregado por Bolsonaro e por seus seguidores como a melhor arma para combater a covid-19. “Teve um dia que eu entrei numa reunião da ala governista e estava o (Eduardo) Pazuello, já não era mais ministro (da Saúde), explicando como ia defender o tratamento precoce. Do jeito que eu cheguei, eu falei: ‘É disso que vocês estão falando? Não é possível. Alguém está louco aqui. Alguém está muito fora da casinha’. Ao mesmo tempo em que fui atacada, pessoas que não imaginavam que eu tinha esse pensamento começaram a prestar atenção”, contou.
Soraya defende em Mato Grosso do Sul a candidatura a governadora da deputada federal Rose Modesto, que deve trocar o PSDB pela União Brasil. Ela deverá contar com o apoio do Podemos, que planeja lançar o juiz Sergio Moro, símbolo da Operação Lava Jato, como candidato a presidente da República.