Primeira e única mulher a presidir a OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil, seccional de Mato Grosso do Sul) em 42 anos, Elenice Pereira Carille não só fez história, como participou ativamente de momentos históricos, como a Constituição Estadual de 1989 e o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. Ela também participou ativamente de um dos maiores movimentos populares, a campanha pelas Diretas-Já em 1984.
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Na época em que apenas de 50 a 60 mulheres militavam na advocacia, Elenice foi a grande zebra na disputa. Sem integrar banca famosa e importante, a criminalista e professora do curso de Direito da FUCMAT, atual UCDB (Universidade Católica Dom Bosco) surpreendeu com a abertura das urnas ao conseguir mais votos do que a soma dos dois adversários.
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A vitória da primeira mulher na disputa surpreendeu o presidente nacional da OAB, Márcio Thomaz Bastos. Ele tinha o hábito de conversar com os candidatos favoritos antes da eleição. Só tomou conhecimento da advogada Elenice com a vitória estrondosa. Para compensar a descortesia, ele veio à Capital prestigiar a posse e acabou se tornando amigo de Elenice. Márcio foi um dos maiores criminalistas brasileiros e foi ministro da Justiça na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Um dos marcos do primeiro mandato (1989-90) foi a participação da elaboração da Constituição estadual, feita para se adaptar a Constituição Cidadã, promulgada em 1988 pelo deputado Ulisses Guimarães (MDB). “A Constituição nova deflagrou diversas reformas de leis ordinárias e a OAB era o carro-chefe”, relembra.
No segundo mandato (1991-92), a advogada participou da célebre marcha conduzida pela OAB e ABI (Associação Brasileira de Imprensa) para protocolar o pedido de impeachment de Collor. O parecer foi assinado pelo ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, Evandro Lins e Silva, outro amigo de Elenice.
Elenice relembra que foi eleita com o discurso de mudança na OAB/MS em 1988. Ela explica que a entidade precisava estar mais voltada para o advogado, proteger os profissionais. Na sua opinião, o presidente da OAB/MS precisa ser atuante. “A Ordem precisa estar acima de políticas partidárias”, defende.
Elenice foi candidata a presidente da OAB/MS pela 3ª vez, em 1997, quando perdeu para Carlos Marques por pouco mais de 30 votos. Na gestão de Vladimir Rossi, ela foi presidente da Caixa de Assistência dos Advogados. Como foi eleita antes do Estatuto da Ordem, Elenice é membro-nato do Conselho da OAB, com direito a voz e voto.
Na atual campanha eleitoral, Elenice apoia a advogada Rachel Magrini, pré-candidata de oposição. “É o momento da OAB dar mudada, virada, (está) muito no compadrio”, defende. “Está difícil advogar e não é só por causa da pandemia”, avalia. Elenice se tornou a primeira mulher a presidir a Ordem com o discurso de mudança.
“A alternância de poder faz bem para as instituições e para a democracia”, propõe. O atual presidente, Mansour Elias Karmouche, está no segundo mandato e tenta manter o grupo no poder com a eleição do advogado Luís Cláudio Alves Pereira, o Bitto.
Apesar das mulheres já representarem 53% dos inscritos na entidade, somente os homens se revezaram no comando da Ordem desde 1992. Na sua opinião, Rachel não só tem condições de fazer história, ao quebrar o tabu de três décadas, como de ajudar a construir uma estrutura melhor para os advogados.
Além de amigos notáveis, a advogada tem uma penca de alunos famosos, que passaram pela sua sala de aula na FUCMT, como os juízes federais Odilon de Oliveira e Pedro Pereira dos Santos, o desembargador do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, Nery da Costa Júnior, os desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, Marcos José de Brito Rodrigues e Marco André Nogueira Hanson, entre outros.
Elenice também sofreu preconceito e enfrentou boatos pelo fato de ser mulher. Para menosprezar a imagem, os adversários espalhavam calúnias. Atualmente, em decorrência das redes sociais, os boatos se espalham com velocidade maior e com maior alcance. “Acabam com a imagem de uma pessoa num piscar de olhos”, analisa a ex-presidente.
Rachel Magrini chegou a ser vítima de fake news na atual pré-campanha, de que era esquerdista radical e seguidora do presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz. A mentira tinha o objetivo de queimar a pré-candidata com os seguidores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Para Elenice Pereira Carille, o dirigente da Ordem deve ter equilíbrio e defender a sociedade. “É preciso falar na hora certa”, propõe. E para os advogados e advogadas, em época de fake news, ela dá um conselho para não cair em mentiras: manter o foco na proposta.
“Se quiser manter o que está aí, vote no Bitto. Agora, se quiser mudar, uma estrutura melhor para os advogados, é a Rachel”, conclui.