O recuo Jair Bolsonaro (sem partido) na carta à nação, em que até fez elogios ao ministro Alexandre de Moraes e prometeu respeitar as instituições, não frustrou os bolsonaristas em Mato Grosso do Sul. Líderes dos movimentos e os políticos aliados do presidente adotaram o pragmatismo para manter o apoio incondicional. Nem a participação de Michel Temer (MDB) abalou a fé no capitão.
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“Eu confio e continuarei confiando no presidente Bolsonaro”, afirmou o vereador Tiago Vargas (PSD), que até ameaçou sair do partido caso apoiasse o impeachment de Bolsonaro. “Estarei ao seu lado juntamente com à nação brasileira em prol de um Brasil melhor e mais justo até o fim. O Presidente Bolsonaro precisa, mais do que nunca da nossa união!!!!”, comentou o parlamentar.
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Nem a participação do ex-presidente Michel Temer abalou a confiança do vereador em primeiro mandato na Capital. “Foi uma troca de experiências”, ponderou, sobre a carta cujo esboço teria sido feito pelo emedebista. Em seguida, o vereador manteve as críticas ao ex-presidente. “Continuo achando o Temer corrupto e canalha”, acusou.
O deputado estadual Coronel David (sem partido) comparou o atual momento à saída do ex-juiz Sergio Moro do Governo no ano passado, quando houve uma grande frustração na base bolsonarista. “Não posso deixar de lembrar que alguns ficaram bravos e revoltados com a saída do Moro do governo. Depois o tempo mostrou que o homem tinha razão. Mais uma vez isso acontecerá”, previu.
“Posso afirmar que, ao contrário do que muitos pensam de forma precipitada, o Presidente Bolsonaro não recuou. Na verdade, foi habilidoso e estratégico ao adotar uma conduta bem diferente daquela que a esquerda gostaria que ele adotasse: de rasgar a Constituição”, explicou, após contar que participou da reunião com os caminhoneiros no Palácio do Planalto.
“A atitude tomada pelo Presidente esvazia esse discurso de golpe e o firma como lider, que são aqueles que compreendem o seu papel numa situação difícil e adotam posições pensando no melhor para todos”, afirmou o deputado, mantendo a fé na gestão de Bolsonaro.
“O Brasil e o mundo vivem um momento ímpar em razão da pandemia, que felizmente começa a se dissipar e que devem ser levados em consideração quando se analisa a conjuntura social e econômica do país. O caminho do diálogo deve ser sempre buscado”, defendeu o vereador Alírio Villasanti (PSL). “No entanto, cada poder deve te ater as suas atribuições e principalmente deixar o executivo federal governar, para o qual foi eleito democraticamente. O ativismo político não deve ser uma prática do judiciário. É momento de união e pacificação”, concluiu, sobre o recuo de Bolsonaro em relação aos ataques ao STF.
O vereador Sandro Trindade (Patri) avaliou que as pessoas foram às ruas ao atender convocação do presidente para o protesto contra alguns ministros do Supremo. No entanto, ele considera que há uma guerra no País e é preciso ter uma estratégia para a batalha. “É preciso saber a hora de recuar”, explicou. “Meu apoio ao presidente continua firme e vamos aguardar os próximos capítulos”, concluiu.
O empresário Rafael Tavares, do EndireitaMS, afirmou que é soldado do presidente. “Bolsonaro tem meu apoio e confiança nas decisões que tomar. Sou soldado do presidente nessa guerra”, afirmou.
No dia 7 de setembro, movimentos de direita, pastores evangélicos e políticos realizaram manifestação no Centro da Capital. O evento contou com a participação de 40 mil pessoas. A maior parte pedia a destituição do ministro Alexandre de Moraes, a criminalização do comunismo e intervenção militar.
Em discurso em Brasília e em São Paulo, Bolsonaro atacou o Supremo e chamou o ministro Alexandre de Moraes de “canalha”. Ele disse que não cumpriria mais as ordens do magistrado. Na carta, esboçada com a ajuda de Temer, que indicou Moraes para o STF, Bolsonaro o chamou de “professor e jurista” com qualidades e prometeu cumprir as decisões.
Confira a carta do presidente Bolsonaro:
“Declaração à Nação
No instante em que o país se encontra dividido entre instituições é meu dever, como Presidente da República, vir a público para dizer:
1. Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar.
2. Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news.
3. Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder não têm o direito de “esticar a corda”, a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia.
4. Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum.
5. Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do Ministro Alexandre de Moraes.
6. Sendo assim, essas questões devem ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais previsto no Art 5º da Constituição Federal.
7. Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país.
8. Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição.
9. Sempre estive disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles.
10. Finalmente, quero registrar e agradecer o extraordinário apoio do povo brasileiro, com quem alinho meus princípios e valores, e conduzo os destinos do nosso Brasil.
DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA
Jair Bolsonaro
Presidente da República Federativa do Brasil”