Em meio a pressão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e desfile de tanques militares em Brasília, as deputadas Bia Cavassa e Rose Modesto contrariaram o PSDB e acompanharam Dr. Luiz Ovando e Loester Trutis, ambos do PSL, pela volta do voto impresso nas eleições de 2022. Quatro deputados de Mato Grosso do Sul ajudaram a derrotar a proposta no plenário da Câmara dos Deputados na noite desta terça-feira (10).
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A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 135/19, de autoria da deputada Bia Kicis (PSL), do Distrito Federal, teve o voto favorável de 229 deputados e contrário de 218. O deputado federal Aécio Neves (PSDB), que foi candidato a presidente da República em 2014 e chegou a denunciar fraude nas eleições, foi a única abstenção. Ele mudou de posição após o PSDB realizar auditoria nas urnas eletrônicas e descartar a fraude quando perdeu para Dilma Rousseff (PT).
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Beto Pereira (PSDB), Dagoberto Nogueira (PDT), Fábio Trad (PSD) e Vander Loubet (PT) voltaram contra a impressão do voto e contagem pública em 2022. Trad já tinha votado contra a proposta na Comissão Especial. Os quatros começaram a ser bombardeados pelos seguidores de Bolsonaro nas redes sociais.
O voto impresso passou a ser a principal bandeira do presidente Jair Bolsonaro, que até ameaçou não permitir a realização de eleições em 2022 se a proposta não fosse aprovada pelo Congresso. O capitão até chegou a realizar desfile de tanques militares em Brasília, chamada de “tanqueciata” pelos seguidores, para mostrar força e pressionar os deputados a aprovarem a medida.
O presidente afirmou que sem voto impresso haverá fraude para garantir a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele admitiu a derrota da PEC na Câmara e culpou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Luís Roberto Barroso, de pressionar os parlamentares a enterrar a proposta.
Professora Rose, que enfrentou a fúria dos bolsonaristas por ter votado a favor do aumento do fundo eleitoral de R$ 2 bilhões para R$ 5,7 bilhões em 2022, resolveu não correr risco e se alinhou ao bolsonarismo. “O voto auditável será mais um mecanismo de segurança para nosso processo eleitoral, auxiliando na lisura das urnas eletrônicas”, afirmou a tucana, que foi a mais votada no atual sistema na última eleição. “Esse é um importante passo para nossa democracia, acredito que o debate amplo com a população e os poderes será o melhor caminho para darmos a resposta que a população anseia”, justificou-se.
Dr. Ovando também votou a favor de se torrar R$ 5,7 bilhões nas eleições do próximo ano, mas ele mantém a coerência de atender aos pedidos de Bolsonaro. O deputado chegou a participar de atos a favor da volta do voto impresso na Capital.
Para Fábio Trad, não houve a apresentação de nenhuma prova de que houve fraude na votação por meio da urna eletrônica. Bolsonaro foi eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro por sete vezes e chegou a presidência da República pelo eletrônico. Ele só passou a criticar o atual sistema após aparecer em baixa nas pesquisas eleitorais.
“Eu voto contra a PEC 135/19 pois, até agora, não foi me apresentado nenhum argumento plausível ou prova de que houve um episódio sequer de fraude nas urnas eletrônicas. Portanto, se o sistema é bom, célere e fidedigno, não vejo razão para mudar”, ressaltou.
Nas redes sociais, Beto Pereira diz que o sistema eleitoral atual já é auditável. “Agora, na votação do tal voto impresso, porque auditável ele já é, atuei da mesma forma”, explicou. “Vou continuar seguindo assim, as vezes momentaneamente incompreendido, mas certo que estou fazendo o melhor!”, justificou-se.
“Nunca fui um homem suscetível à pressões. Sempre me pautei por princípios, pela análise técnica e por minha consciência. Foi assim lá atrás quando relatei a reforma da previdência em MS, quando participei da comissão especial da Previdência Nacional e na votação do Coaf”, relembrou o tucano.
Bolsonaro prometeu, mas não apresentou provas de que houve fraude no sistema eleitoral. Na última live a respeito do assunto, o presidente repetiu mentiras veiculadas nas redes sociais e admitiu não ter como provar as suspeitas. Até o Japão, usado como exemplo pelos bolsonaristas, usa urna eletrônica, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral.
Os deputados continuam analisando mudanças nas eleições de 2022, como acabar com o segundo turno, adotar o distritão na eleição proporcional e o real valor do fundo eleitoral. Bolsonaro pretende dobrar o valor destinado às campanhas eleitorais, de R$ 2 bilhões para R$ 4 bilhões.