No artigo “No Japão, Olímpiada; no Brasil, ameaça de golpe!”, o ensaísta e economista Albertino Ribeiro afirma que o Brasil ficaria isolado do mundo caso os militares resolvam interromper a ordem democrática com a reimplantação da ditadura após 36 anos. “Hoje, uma aventura golpista seria tiro no próprio pé dos militares, pois não teriam apoio nem dos EUA e nem da Europa, o que certamente provocaria um isolamento diplomático do Brasil e, como consequência, sofreríamos um embargo econômico – o que seria um caos”, alerta.
[adrotate group=”3″]
“Mas se alguém for supersticioso e, ao mesmo tempo, for simpatizante de uma disrupção, acreditando que existe padrão, ou seja, correlação entre as Olimpíadas no Japão e um golpe militar no Brasil, deve estar tomando por comichão”, afirma, sobre a coincidência entre o golpe militar e a Olímpiada de Tóquio, que ocorreu em 1964.
Veja mais:
Papel do Estado foi fundamental para o milagre econômico dos tigres asiáticos, diz economista
Taxar em 20% o lucro dividido entre sócios é o grande acerto de Guedes, afirma economista
Psicologia pode revolucionar e elevar produção da agricultura familiar, conta economista
“Meu Deus! Até quando vamos esgarçar a interpretação constitucional – “ a regra é clara” – e permitir que esses jogadores de truco – modalidade que ainda não tem na Olimpíada – ameacem às instituições sem que recebam a devida punição?”, defende, cobrando uma ação exemplar para livrar o Brasil de vez de qualquer ruptura institucional.
“No Japão, Olimpíada; no Brasil, ameaça de golpe!
Albertino Ribeiro
Existe uma lenda sobre o Japão que atribui o nascimento do país ao momento em que Deus cravou a espada da justiça no mar e quando a retirou, os respingos formaram as ilhas que compõem a terra do sol nascente. A lenda faz alusão a um povo guerreiro e destemido e representa fielmente a história nipônica que foi, por 700 anos, protagonizada pelos samurais.
A Olimpíada, que acontece no Japão, não é algo novo para a sociedade japonesa. Em 1964, Tóquio também recebeu os jogos olímpicos. Naquele ano, o país dos guerreiros samurais fortalecia a sua democracia e vivia o seu milagre econômico que lhe permitiu, no final daquela década, alcançar o segundo lugar no pódio das maiores economias do planeta, ficando atrás apenas dos EUA.
Enquanto isso, por aqui – naquele mesmo ano olímpico, nossos guerreiros tupiniquins destruíam a democracia e levantava suas armas contra o próprio povo.
Nossos guerreiros jogaram sujo e, diferentemente de uma criança inocente, inventaram um “inimigo imaginário” – o comunismo. Naquela época – em um contexto bem diferente ao de hoje – o Exército brasileiro teve total apoio dos EUA, inclusive, na deflagração do golpe, uma esquadra da Marinha americana estava pronta para entrar em ação caso o presidente Jango resistisse.
Era, em certa medida, compreensível do ponto de vista lógico – mas não aceitável – uma aventura golpista, pois o mundo estava no auge da guerra fria e o governo americano praticava uma modalidade de política externa pautada na máxima da doutrina Monroe: “América para os americanos”.
Hoje, uma aventura golpista seria tiro no próprio pé dos militares, pois não teriam apoio nem dos EUA e nem da Europa, o que certamente provocaria um isolamento diplomático do Brasil e, como consequência, sofreríamos um embargo econômico – o que seria um caos.
Superstição à vista
Mas se alguém for supersticioso e, ao mesmo tempo, for simpatizante de uma disrupção, acreditando que existe padrão, ou seja, correlação entre as Olimpíadas no Japão e um golpe militar no Brasil, deve estar tomando por comichão. Esta semana, o jornal O Estado de São Paulo, publicou uma matéria que disparou o gatilho mental (não foi trocadilho) do golpe de 1964. Segundo o Estadão, o ministro da Defesa, general Braga Neto, teria, no dia 8 de julho deste ano, ameaçado o presidente da Câmara, o deputado Artur Lira com ruptura institucional caso o legislativo não aprovasse a PEC 135/2019 ( PEC do voto impresso).
Meu Deus! Até quando vamos esgarçar a interpretação constitucional – “ a regra é clara” – e permitir que esses jogadores de truco – modalidade que ainda não tem na Olimpíada – ameacem às instituições sem que recebam a devida punição?
O general Hamilton Mourão – que nessas horas costuma agir como bom capitão de equipe olímpica – usou de sua expertise e tentou acalmar os ânimos, afirmando que haverá eleições em 2022 “com ou se sem voto impresso”.
Contudo, o estrago já está feito e a melhor forma de acalmar os ânimos, na minha opinião, seria o antidesportivo e antidemocrático, general Braga Neto, pedir exoneração do cargo ou ser exonerado de ofício pelo presidente Jair Bolsonaro. Bolsa de apostas: Quais as chances desse fair play acontecer em um governo que tem o hábito de dobrar a aposta quando faz algo errado?
O fantasma volta para nos assombrar?
Hoje, 57 anos depois que aconteceu a Olimpíada na terra do sol nascente e golpe na terra das palmeiras onde a “cobra quer fumar”, um espectro ronda o Brasil e não é o comunismo, como dissera Karl Marx há 172 anos.”