Uma nova polêmica marca a corrida contra o tempo para controlar a pandemia da covid-19 em Mato Grosso do Sul: a destinação de 150 mil doses da Janssen apenas aos 13 municípios de fronteira. Responsável pelo atendimento da saúde da maior parte dos sul-mato-grossenses, Campo Grande acabou excluída e deixou o prefeito Marquinhos Trad (PSD) indignado.
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A reação irritou o prefeito de Ponta Porã, Hélio Peluffo (PSDB), que classificou a reação como “egoísta, muito egoísta”. Contudo, ele só permite a aplicação da vacina contra a covid-19 nos moradores do seu município. Apesar de ter sido agraciado com doses extras, para imunizar 100% dos ponta-poranenses, o tucano é um dos poucos que exige comprovante de residência para aplicar a vacina.
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Não bastou ter a sorte de ser contemplado pela estratégia do Ministério da Saúde, que decidiu imunizar 100% dos fronteiriços, Peluffo não faz questão de compartilhar a boa sorte com quem estiver passando pela cidade. O egoísmo é tanto, que ele fica longe, por exemplo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que permite a imunização de qualquer brasileiro residente ou de passagem por aquele país.
Só que Peluffo reagiu apenas contra Marquinhos Trad. “Chiadeira desnecessária, desproposital, desmedida e egoísta, muito egoísta”, afirmou o prefeito de Ponta Porã em entrevista ao Campo Grande News. Ele reagiu a crítica da campanha de imunização de 100% não incluir a Capital.
“Não há porque tirar as vacinas de Campo Grande e levar para as fronteiras. Conversamos com o ministro da Saúde e levamos o nosso o inconformismo ao Governo do Estado”, afirmou Marquinhos.
Ao contrário de Ponta Porã, Campo Grande só exige cadastro e documento com foto para aplicar a vacina. Estudo técnico da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) revelou que mais de 30% dos imunizados na Capital são provenientes de outros municípios. Apesar do estudo, Marquinhos manteve a estratégia e não seguiu o exemplo do prefeito de Ponta Porã, de exigir comprovante de residência.
A CDL (Câmara dos Dirigentes Lojistas) divulgou nota para condenar a exclusão de Campo Grande do estudo. “A sociedade campo-grandense foi surpreendida com a notícia de que a Secretaria Estadual de Saúde solicitou que TODAS as vacinas Janssen, que serão disponibilizadas para o Estado pelo Ministério da Saúde, sejam destinadas exclusivamente para as cidades do interior, sem que nenhuma dose fique na capital para atender aos campo-grandenses”, afirmou.
“Nossa Capital, além de ter a maior população, ainda recebe pacientes de todo o Estado. De acordo com auditoria realizada pela Prefeitura, 65% da capacidade hospitalar da cidade foi ocupada, nas últimas semanas, por pessoas que vieram em busca de socorro, fugindo da falta de estrutura da saúde pública no interior”, pontuou. A Prefeitura de Campo Grande investe R$ 1,4 bilhão em saúde por ano, quase o valor destinado pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB), R$ 1,6 bilhão, para atender os 79 municípios.
“Não bastasse recebermos toda essa sobrecarga em nosso sistema hospitalar, ainda somos atacados com decretos que impõem rígidas restrições, com mudanças abruptas nos critérios das bandeiras e com mais ameaças de fechamentos”, lamentou o presidente da entidade, Adelaido Vila. As lojas só não fecharam na Capital porque Marquinhos se recusou a acatar a recomendação do Estado e permitiu a reabertura dos estabelecimentos. A decisão acabou sendo acertada, já que o novo decreto manteve a bandeira vermelha no município.
As doses destinadas para a fronteira são para um estudo do VEBRA COVID-19 (Vaccine Effectiveness in Brazil Against COVID-19), que vai pesquisar a efetividade e impacto da vacinação em massa na região de fronteira. Será avaliado o impacto de vacinação em massa em pessoas entre 18 a 50 anos em 13 cidades de fronteira do estado de Mato Grosso do Sul.
Além de Ponta Porã, os municípios são: Mundo Novo, Japorã, Sete Quedas, Paranhos, Coronel Sapucaia, Aral Moreira, Antônio João, Bela Vista, Caracol, Porto Murtinho, Corumbá e Ladário.