Principal articulador político de Alcides Bernal (Progressistas), o ex-vereador Paulo Pedra fez duras críticas ao ex-prefeito no depoimento, feito na última terça-feira (1º), do julgamento histórico da Operação Coffee Break. Ele tergiversou e evitou confirmar as declarações feitas em 2015 ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), de que houve compra de vereadores e recebeu proposta de R$ 1 milhão para votar a favor da cassação.
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O político trocou o PDT pelo MDB do ex-governador André Puccinelli, um dos 24 réus por improbidade administrativa na 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos. Além de testemunha de acusação convocada pelo Ministério Público Estadual, ele também falou como de defesa de Luiz Pedro Guimarães, um dos autores do pedido de impeachment, e do ex-vereador e ex-vice-prefeito da Capital, Edil Albuquerque.
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Em março de 2014, Pedra foi o principal articular político contra a cassação de Bernal. Quando o progressista conseguiu retornar ao cargo de prefeito, em agosto de 2015, já como ex-vereador após ter o mandato cassado pela Justiça Eleitoral, ele se transformou em uma espécie de conselheiro do Alcides Bernal.
No entanto, no depoimento à Justiça, Paulo Pedra fez duras críticas a Bernal. Inicialmente, ele disse que o ex-prefeito “tinha dificuldades de manter relação republicana” com os poderes, como a Câmara Municipal e o Poder Judiciário. “O Bernal tinha dificuldade de manter relação com todos os poderes”, ressaltou.
“Votei contra a cassação com convicção, que era o melhor para Campo Grande”, disse. Em seguida, contou que tentou evitar o afastamento do prefeito do cargo, mas não tinha ajuda do progressista. “A gente queria ajudar, mas ele se ajudava. Os vereadores queriam conversar com ele, mas ele não os recebia”, frisou. “O Bernal era muito temperamental”, lamentou.
“Ele insistia em desgastar a imagem da Câmara Municipal, repetia que não servia para nada. Ele dizia que os vereadores não faziam nada”, contou. “Foi um desgaste muito grande, a relação azedou de vez”, disse, responsabilizando o ex-prefeito pela falta de apoio político no legislativo. Caso tivesse oito votos, ele não teria sido cassado.
Paulo Pedra não repetiu a declaração no Gaeco de que teria recebido proposta de R$ 1 milhão, por meio de emissários de Fábio Portela Machinsky, e Luiz Pedro Guimarães, para mudar de lado e votar pela cassação de Bernal. Inicialmente, o ex-vereador disse que estava fechado em copas com os seis parlamentares fiel ao então prefeito e a Câmara estava como uma panela de pressão, tomada por boatos.
Diante da insistência dos promotores Adriano Lobo Viana de Resende e Humberto Lapa Ferri, de que teria dito ao Gaeco, Pedra tentou desconversar. “Existia uma panela de pressão (no dia da cassação), eu não me lembro disso”, afirmou. Ao ser questionado pelo advogado Élvio Marcos Dias Araújo, ele disse que ninguém lhe ofereceu ou procurou para ofertar R$ 1 milhão pela cassação de Bernal.
Ao ser novamente inquirido a respeito do assunto pelo juiz David de Oliveira Gomes Filho, o ex-vereador disse que recebeu a proposta, mas de um estranho, que não tinha conhecimento da origem nem levou em consideração.
Sobre o empresário João Amorim, que seria dono da Solurb e estaria articulando para cassar Bernal por causa do risco de perder a concessão do lixo, ele não foi enfático. De acordo com Pedra, a declaração foi feita ao Gaeco com base em “ouvir falar”. “Esse era o comentário feito na época”, justificou-se.
Paulo Pedra deu outra versão para a informação de que teria recebido uma ligação de João Amorim no dia da votação da cassação de Bernal. De acordo com o promotor, ele teria ligado de volta e deixado o recado de que o progressista não seria cassado. À Justiça, Pedra disse que não tinha certeza de que o telefonema era de Amorim. “Alguém me ligou dizendo ser o João Amorim, não posso dizer 100% que era ele”, disse.
De acordo com Ferri, ao Gaeco, o ex-vereador, então no PDT, contou que conhecia Luciano Potrich Dolzan, um dos sócios de 50% da Solurb, e ele “não tinha condições de ser sócio de direito de fato de uma empresa tão grande”. “Não tenho como confirmar isso, sei pelos comentários”, tergiversou, lembrando que conhecia Paulo Dolzan, pai do empresário, que faleceu em abril deste ano.
Pedra não foi o primeiro não repetir as declarações feitas ao Gaeco. A ex-vereadora Luiza Ribeiro (PT) também amenizou as acusações feitas no MPE e até deu outra versão para a cassação de Bernal, que teria sido política e não criminosa.
Os depoimentos vão ser retomados no dia 14 deste mês.