Os 75 mil servidores estaduais acumulam perdas de 36,24% na gestão de Reinaldo Azambuja (PSDB). Com a decisão conceder reajuste zero neste ano, o governador reduz o poder de compra e deixa o funcionalismo mais pobre, já que teve aumento de apenas 6,07%, enquanto a cesta básica subiu 60,9% no período. Os combustíveis ficaram até 124% mais caro.
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O atual Governo só concedeu reajuste linear aos funcionários em duas ocasiões, de 2,94% em 2017 e de 3,04% em 2018. De acordo com a economista Andréia Ferreira, do DIEESE (Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicas), a defasagem nos salários é de 36,24%, considerando-se a inflação calculada pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
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“É péssimo porque a inflação não indica somente a variação dos preços, mas quanto o servidor está perdendo do seu poder de compra”, pontua. “Seis anos sem reajuste em um governo de oito anos, com cenário econômico que apresentou, sim, dificuldades, mas que nem se compara a situação de muitos estados, inclusive os industrializados, diz muito da incapacidade do gestor em valorizar as pessoas que dão vida ao Estado”, explicou Andréia.
O custo da cesta básica em Campo Grande, conforme o DIEESE, teve aumento de 60,9% no período, dez vezes o índice de reajuste concedido aos servidores, já que passou de R$ 364,35, em maio de 2015, para R$ 586,26 neste mês. Um exemplo hipotético para deixar claro o poder de compra dos trabalhadores: em 2015, com um salário de R$ 1,5 mil, ele comprava 4,11 cestas básicas na Capital. Com o reajuste de 6,07% concedido por Reinaldo, ele só consegue comprar 2,7 cestas.
Entre 2015 e 2021, o litro da gasolina ao consumidor acumula aumento de 70,38%, conforme a ANP (Agência Nacional do Petróleo), com o preço médio em MS passando de R$ 3,319 para R$ 5,65. O combustível ficou mais caro também graças ao aumento de 20% na alíquota do ICMS de 25% para 30% no início do ano passado.
Salário de servidor subiu 6%. E o resto?
Item | Valor 2015 | Valor 2021 | Variação |
Cesta básica | 364,35% | 586,26 | 60,90% |
Salário mínimo | 788 | 1.100 | 39,59% |
Gás de cozinha | 53,82 | 84,44 | 56,80% |
Gasolina | 3,319 | 5,655 | 70,38% |
Etanol | 2,31 | 4,365 | 88% |
Carne | 19,9 | 37,03 | 86% |
Óleo | 3,14 | 7,01 | 123% |
Arroz | 2,25 | 4,66 | 107% |
Feijão | 4,5 | 7,77 | 72,66% |
Leite | 2,67 | 4,54 | 70% |
Até o etanol, que teve redução no ICMS, teve aumento de 88% no custo do litro ao sul-mato-grossense, com o valor médio saltando de R$ 2,31, em maio de 2015, para R$ 4,365 neste ano. Há seis anos, o consumidor encontrava o produto derivado da cana de açúcar a R$ 1,76, considerando-se o menor valor praticado na Capital. Agora, o litro não sai por menos de R$ 3,95, aumento de 124%.
Reinaldo autorizou reajuste inferior até o salário mínimo, que teve alta de 39,59% no período, de R$ 788 para R$ 1,1 mil.
O anúncio do reajuste zero frustrou sindicalistas e servidores porque o Governo sinalizou a reposição da inflação dos últimos 12 meses, que oscilou entre 4,5% e 6,1%. Contudo, no mesmo dia do anúncio, o chefe do Ministério Público Estadual, promotor Alexandre Magno Benites de Lacerda, e o presidente do Tribunal de Contas do Estado, conselheiro Iran Coelho das Neves, publicaram recomendação contra qualquer reajuste ao funcionalismo público estadual.
Eles alertaram, mesmo sem serem provocados ou consultados pelo Governo do Estado, de que o poder público estava obrigado a cumprir a lei federal que autorizou o socorro aos estados, mas vetou qualquer tipo de aumento nos salários dos servidores públicos.
Entre os sindicalistas, o termo mais educado para se referir ao reajuste zero, o 5º em sete anos da gestão de Reinaldo Azambuja, é “sacanagem”.