Natural de Aquidauana, o ex-prefeito Gilmar Olarte (sem partido) passou boa parte da audiência da Coffee Break, onde é um dos réus pela articulação que resultou na cassação de Alcides Bernal (PP), repetindo não ser o “Goiano”. Trajando camisa e uma máscara branca, ele lamentou a passagem pela prefeitura de Campo Grande.
[adrotate group=”3″]
“Perdi minha família, meu casamento, meu escritório de contabilidade. Perdi as 40 igrejas que fundei, os 20 templos que construí. Em 24 horas, fui tirado da entidade porque fui preso. Mas ainda vou provar minha inocência. Se fosse essa pessoa monstruosa que mostram na imprensa e nos processos não estaria na situação difícil que estou”, diz Olarte, preso por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Veja mais:
Tiro pela culatra: após STJ, juiz dispensa depoimento e mantém André como réu na Coffee Break
Liminar do STJ concedida às 22h21 de segunda livra Puccinelli de depor na Coffee Break
Coffee Break: vereadores e políticos se complicam ao explicar ligações de João Amorim
João Baird falta a depoimento na Coffee Break e poderá ser julgado como réu confesso
De acordo com denúncia, o “Goiano”, citado em várias ligações interceptadas na operação Lama Asfáltica, é o ex-prefeito. A sigla teria nascido das iniciais GO (Gilmar Olarte), que depois, virou goiano. Ainda em 2015, quando o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) deflagrou a Coffee Break, o ex-vereador Mario Cesar identificou que “Goiano” era Olarte.
Durante a audiência na manhã de sexta-feira (dia 21), o juiz David de Oliveira Gomes Filho, da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos de Campo Grande, lembrou ao ex-prefeito que ele foi identificado com esse nome por um dos réus que já prestou depoimento.
Os vários áudios citando “Goiano” incomodou Karlen Obeid, advogado de Olarte. Mas o juiz primeiro disse que o advogado teria espaço para falar após o interrogatório. Além de afirmar que essa etapa não é para arrancar confissão do réu, mas apresentar as provas para conhecimento do denunciado.
Olarte confirmou conhecer Fábio Machinsky, o Fabão, mas negou que ele fizesse a ponte entre ele e o empresário João Baird, conhecido como Bill Gates Pantaneiro devido às empresas de informáticas. Olarte disse que conheceu Baird quando já era prefeito. Na ocasião, o empresário foi ao Paço Municipal por ter contrato com a administração pública.
Sobre João Amorim, dono da Proteco Construções e também réu no processo da Coffee Break por improbidade administrativa, o ex-prefeito disse que conheceu o empresário quando era vereador. Ele confirmou ter ido à casa de Amorim quando já era o vice-prefeito da Capital.
Segundo Olarte, muitas pessoas, de diversos o segmento, o procurava para saber se ele era diferente de Bernal. “O Bernal era uma pessoa legal. Mas na gestão, era muito complicado. Não conversava, não reunia os companheiros, não havia abertura nenhuma. As poucas reuniões com vereadores antes da posse terminaram em desentendimento”.
Com a cassação do progressista pela Câmara Municipal, em março de 2014, Olarte assumiu o comando da Capital e logo montou primeiro escalão, incluindo vereadores no secretariado.
Ele disse que só fez escolhas técnicas, rechaçando loteamento de cargos como contrapartida pela cassação.
Questionado pelo promotor Humberto Lapa Ferri se houve negociação anterior a posse, Olarte rasgou elogios aos escolhidos, como o ex-vereador Jamal Salém (que ficou com a Saúde), Edil Albuquerque (que assumiu a pasta de Desenvolvimento Econômico) e André Scaff (ex-procurador da Câmara empossado na secretaria de Finanças).
Inclusive, Olarte perguntou para Lapa Ferri se ele sabia quem criou Secretaria de Desenvolvimento Econômico. O promotor destacou que não estava questionando a qualificação dos escolhidos. Olarte completou que o criador foi Edil.
Em várias passagens, Olarte respondeu não se lembrar de fatos ou pessoas, sempre destacando que foi injustiçado e com autoelogio de ter assumido o comando da cidade e “trocado o pneu com o carro em movimento”.
Mágico – Preso recentemente para cumprir pena de oito anos da operação Adna, a do golpe dos cheques em branco, Olarte afirmou que no presídio é chamado de mágico.
O apelido, carregado de ironia, é porque teria conseguido transformar os R$ 120 mil dos cheques em R$ 23 milhões para comprar vereadores.
A Justiça concluiu o interrogatório dos réus na segunda-feira (24) com o senador Nelsinho Trad (PSD) e o vereador Jamal Salem. Em seguida, o juiz inicia o depoimento das testemunhas, que vai até o final de junho deste ano.