Em artigo especial para O Jacaré, o professor e advogado Porto Vanderlei fala, sem citar nominalmente, sobre as atitudes do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), em relação a pandemia da covid-19. “Compreender o negacionismo presidencial do atual chefe de governo em face da gravidade da pandemia é imprescindível compreender a estirpe o qual ele pertence, qual seja: trata-se de uma estirpe política calcada no princípio da conveniência, critério de avaliação para qualquer político. Portanto, esse chefe de governo é ‘farinha do mesmo saco’”, pontua.
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“Neste momento, que a sociedade brasileira está dividida e confusa, o Brasil mereceria um Estadista. Entretanto, o que se vê àqueles que olham antes de atravessar a rua é um ‘chefe de plantão’ em busca daquilo que atende ao gosto e às necessidades apropriadas ao seu bem-estar”, avalia.
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“Esse encontro histórico entre o negacionismo presidencial e a inteligência científica não me parece possível porque a negação sem veracidade ou fundamento não sustenta boa vontade nem a má vontade uma vez que ela é desprovida de intelectualidade que equivaler ato nulo”, afirma Porto.
O Negacionismo presidencial
Porto Vanderlei, professor e advogado
Seria de bom alvitre para a “humanidade brasileira” se houvesse um encontro histórico entre o negacionismo público e notório do chefe de governo desta humanidade com a inteligência científica planetária, para não dizer mundial.
Nessa reunião, o critério da pauta à discussão haveria de se considerar dois pressupostos: a história de vida pregressa de ambas representações; e os fundamentos de suas teses.
Em princípio, a tese do referido negacionismo é local porque está restrita à sociedade brasileira e destinatária a ela; já a tese advinda da ciência ultrapassa o local porque advém de uma certa e definida comunidade mundial. A propósito, uma é passageira e a outra é contínua e prospectiva já que corre atrás das suas potencialidades.
Compreender o negacionismo presidencial do atual chefe de governo em face da gravidade da pandemia é imprescindível compreender a estirpe o qual ele pertence, qual seja: trata-se de uma estirpe política calcada no princípio da conveniência, critério de avaliação para qualquer político. Portanto, esse chefe de governo é “farinha do mesmo saco”.
Tal compreensão não cabe à comunidade científica porque “uma comunidade científica pode ser entendida como o conjunto dos indivíduos que se reconhecem e são reconhecidos como possuidores de conhecimento específicos na área da investigação científica”.
Em princípio fica difícil comparar ambos representantes já que são imiscíveis, isto é, não se misturam porque a meta institucional da ciência é a ampliação dos conhecimentos certificados e reconhecidos (Merton, 1979); já, a meta desse governo atual é confusa e conveniente.
Quando, neste momento da pandemia no Brasil, o chefe de governo insiste em uma postura contrária ao isolamento social defendida pela ciência e prega o negacionismo porque seu discurso não favorece a vacinação, tal maneira de se comportar é proporcional ao tamanho da sua inteligência, que comparada ao tamanho da inteligência da ciência não chega na sua sandália. É lamentável pelo seu caráter medíocre e inteligência pequenez.
Quando, naquele dia após o Brasil ter batido o auge de mortes diárias, com 1.910 óbitos, o chefe de governo ao dizer que fechar o comércio seria “frescura”, “mimimi” e “até quando ficar chorando”, tal postura inoportuna é de se comparar a uma parvoíce de cuja pessoa qualquer comentário superficial pode se esperar.
Até porque, esse tipo de atitude inoportuna, de quem quer que seja, faz nos remeter à passagem do Evangelho de São Mateus, no Novo Testamento, que diz “Não deem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos; caso contrário, estes as pisarão, e aqueles, voltando-se contra vocês, os despedaçarão”.
Esse encontro histórico entre o negacionismo presidencial e a inteligência científica não me parece possível porque a negação sem veracidade ou fundamento não sustenta boa vontade nem a má vontade uma vez que ela é desprovida de intelectualidade que equivaler ato nulo.
A história de vida pregressa do autor desse negacionismo presidencial não pressupõe bom senso nem aquele olhar antes de atravessar a rua. A razoabilidade e o equilíbrio não fazem parte da sua história de vida, embora oportunidade sempre lhe haverá, porém o auge da pandemia, no Brasil, tem mostrado à humanidade brasileira o contrário.
Neste momento, que a sociedade brasileira está dividida e confusa, o Brasil mereceria um Estadista. Entretanto, o que se vê àqueles que olham antes de atravessar a rua é um “chefe de plantão” em busca daquilo que atende ao gosto e às necessidades apropriadas ao seu bem-estar.
Repito, esse encontro histórico entre o negacionismo presidencial e a inteligência científica não há como prosperar porque a principal finalidade da ciência é perceber e entender os fenômenos da natureza porque ela é considerada um instrumento indispensável na incessante busca de respostas que satisfaçam as mais diversas necessidades de toda a sociedade. (O pesquisador e a produção científica. DIAS, Fernanda DroescherI; SILVA, Edna Lucia da. Perspectivas em Ciência da Informação. On-line version ISSN 1981-5344. Perspect. ciênc. inf. vol.19 no.1 Belo Horizonte Jan./Mar. 2014).
Na atualidade, este chefe de governo não se mostra capaz ou suficientemente intelectual para oferecer uma resposta inteligente à crise sanitária brasileira nem entender as preocupação do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, ao afirmar que o avanço da pandemia de covid-19 no Brasil é “muito preocupante” e “deve levar esta luta muito a sério”.
No mesmo diapasão, Mike Ryan, especialista em emergências da OMS, disse que “agora não é hora de o Brasil ou qualquer outro lugar relaxar”.
Portanto, pelas razões acima expostas, esse encontro histórico não acontecerá. Resta a todo brasileiro que pensa de forma inteligente lamentar e aguardar o Plantão acabar, até porque ele tem um tempo certo e sabido.