Ao apresentar as mudanças no Governo, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) fugiu do script e atacou a delação premiada da JBS e a investigação feita pela Polícia Federal. Acusado de receber R$ 67,791 milhões em propinas e causar prejuízo de R$ 209,750 milhões aos cofres estaduais, o tucano chamou os delatores de “vagabundos”, saiu em defesa da sua secretária e ressaltou que desconstruirá as “mentiras que falaram contra mim”.
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O surto do governador, que inclusive divulgou o número do telefone celular, levou a equipe do Governo a apagar a live das redes sociais. Ele afirmou que apresentou a defesa ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) com 189 páginas para rebater ponto por ponto da denúncia feita pela subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo, que o acusa pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e de liderar organização criminosa.
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No mais, Reinaldo confirmou as mudanças anunciadas nos últimos dias. Ele cedeu à pressão do PSDB, que vetou a volta do engenheiro Marcelo Miglioli à Secretaria Estadual de Infraestrutura. A pasta vai ser comandada pelo pecuarista e biólogo Eduardo Riedel, que comandou a Secretaria Estadual de Governo e Gestão Estratégica desde o primeiro mandato. Ele assume o programa de obras, que prevê investimento de R$ 2,8 bilhões, para se capitalizar para disputar a sucessão do governador em 2022.
O Podemos passa a integrar oficialmente a gestão tucana. O empresário Sérgio Murilo Nascimento Mota, presidente regional e dono de construtoras, assume o papel de principal articulador político do Governo do Estado ao comandar a Segov. O curioso é que o Podemos se construiu como crítico ferrenho da corrupção praticada nos Governos do PT.
Com a aposentadoria do delegado Marcelo Vargas, Reinaldo nomeou o Adriano Garcia para comandar a Polícia Civil. O principal temor é que o novo delegado geral acabe com a Força-Tarefa criada para investigar as execuções misteriosas e insolúveis que ocorreram nos últimos anos na Capital e levaram o poderoso empresário Jamil Name à cadeia. A Operação Omertà, que agora mira o deputado Jamilson Name (sem partido), monitorado por tornozeleira eletrônica, está nas mãos do novo chefe da Polícia.
No entanto, a polêmica live foi marcada pela veemente crítica de Reinaldo aos donos da JBS, que classificou como “vagabundos”. “Eu falei que ia provar a minha inocência”, ressaltou, sobre a defesa entregue ao ministro Felix Fischer, relator da Operação Vostok no STJ.
Pela primeira vez, Reinaldo falou sobre o risco de ser afastado do cargo. “Todo mundo ficava falando do afastamento do governador, que iam sentar na nossa cadeira, mas isso nem faz parte da denúncia do MPF”, ressaltou. O tucano fez referência ao preceito constitucional, de que todo governador ao se tornar réu no STJ deve ser afastado do cargo por 180 dias. No entanto, a corte já suspendeu o artigo em outras situações.
Ele rebateu a linha adotada pela Polícia Federal para comprovar a história contada pelos delatores, com a utilização das ERB (Estação de Rádio Base). Ele saiu em defesa da secretária, Cristiane Andréia de Carvalho dos Santos Barbosa, a Cris. Ela teria recebido dinheiro do corretor de gado José Ricardo Guitti Guímaro, o Polaco, conforme a PF.
“A ERB da Cris é do Parque dos Poderes. Seria estranho se ela não tivesse aqui”, ressaltou, sobre a estação de rádio dela e de Polaco ser a mesma no dia do suposto repasse da propina, o Parque dos Poderes. “Pega até para frente do shopping”, falou o tucano.
De acordo com o delegado Leandro Alves Ribeiro, Polaco ligou 48 vezes para o terminal telefônico de Reinaldo e 95 para o seu filho, o advogado Rodrigo Souza e Silva, em 2015. “Usar ERB de celular para falar que eu conversei com o Polaco, celular que não era o meu”, rebateu o tucano. Em seguida, o governador citou o número do próprio telefone, o qual garantiu possuir há mais de 10 anos.
O inquérito 1.190 foi concluído em junho do ano passado. Reinaldo decidiu se manifestar a respeito oito meses depois. “Isso são injustiças que acontecem quando a gente está na vida pública”, explicou, garantindo que vai provar a inocência.
O governador classificou a denúncia como “enredo fictício” e “coisa absurda”. Na sua opinião, a decisão de Felix Fischer, de desmembrar a denúncia e só manter o governador no STJ, prova que não havia organização criminosa ou quadrilha. No despacho publicado na quinta-feira, Fischer justificou o desmembramento. O ministro destacou que o objetivo é garantir julgamento rápido do governador.