Esquecer as regras de um passado próximo, com pouco mais de um ano, tem sido a rotina da maioria das pessoas desde a intensificação do contágio da pandemia de covid-19. A doença afetou a vida de todos e, para alguns, tornou-a irreconhecível. Em companhia do medo de morte trazido pelo Sars-CoV-2, chegaram dúvidas, desemprego, desespero e luta. É com esse material que os jornalistas lidam todos os dias.
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Na mediação esperada entre governos, iniciativa privada, organizações não-governamentais e a população estão pessoas, os jornalistas. É gente que assiste as limitações impostas pelo pequeno e eficiente coronavírus, que vão desde o fim da vida até a continuidade dela em um universo ainda pouco conhecido de sequelas. Nem todos somos iguais (ainda bem que é assim), mas para alguns, como nós da equipe O Jacaré, a pandemia é a perfeita tradução da dor.
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Dói analisar aquelas colunas em que figuram números de exames, cidades, idade e estado clínico de pessoas mortas, sem que haja um só nome. Cada dado ali inserido teve a mão de um profissional, seja ele médico ou enfermeiro, a quem louvamos pelo cuidado. Pela mãos dos jornalistas, contudo, um pouco do anonimato da estatística é retirado em favor da comunhão da história de quem parte.
Nossa humanidade é questionada todos os dias quando nos deparamos com as colunas de boletins epidemiológicos em que bailam estatísticas de internações, de falta de leitos hospitalares e, sem dúvida, de óbitos. A interrupção da vida é tanta e para tantos, que não deixou de nos afetar. A covid-19 já nos tirou familiares, amigos, colegas de profissão, ídolos e isso nos faz compreender que o sofrimento imposto de maneira coletiva por essa pandemia, também é particular.
Nossos corações ainda estão em pranto pela perda do nosso querido amigo Guilherme Zurutuza Filho, para quem a informação era o mais poderoso instrumento de poder de um povo. Até a internação, motivada pelo agravamento da infecção causada pelo Sars-CoV-2, Guilherme fez o que sabia: informou. Também amou muito e, como resultado, vive agora nas recordações de filhos, netos e companheiras.
Sonhamos para o Guilherme aquilo que nos é cobrado quando abordamos as vidas ceifadas pela covid-19. Nós o queríamos na coluna dos recuperados, porque eles são mesmo muitos, como familiares e outros amigos a quem pudemos celebrar uma espécie de renascimento.
Infelizmente, na estatística, ele figura na coluna das perdas e, mesmo que haja um grande número de recuperados, este é só mais um aspecto que desnuda essa doença. Existem muitos recuperados porque existem muitos infectados e, se houver muitos infectados, haverá muitas mortes.
Ainda que protagonize grande parte da atual pauta do jornalismo, a morte ocasionada pela covid-19 é mais um dos muitos efeitos da pandemia. Buscamos incluir no nosso cardápio de notícias conselhos, análises e a esperança, esta última materializada pela vacina, principalmente.
E assim vamos continuar até que não seja mais preciso falar deste tema. Até lá, ainda que em luto, persistimos.