Após três operações de combate à corrupção, duas da Polícia Federal e uma do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), o sindicato dos servidores decidiu pedir a criação de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o Detran (Departamento Estadual de Trânsito).
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Um dos principais reflexos da corrupção no órgão é o cidadão pagar caro por um serviço precário. O Jacaré levantou que o valor da vistoria cobrado no Estado, de R$ 171,15, é o 3º mais caro no País. Em relação ao menor preço cobrado, de R$ 25,12 em Rondônia, o sul-mato-grossense paga 581% mais caro.
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Conforme a Polícia Federal, na Operação Motor de Lama, denominação da 7ª fase da Lama Asfáltica, há um esquema criminoso para beneficiar a Ice Cartões Especiais. Em troca do contrato milionário, a empresa paga propina a gentes públicos desde a gestão de André Puccinelli (MDB), conforme despacho do juiz Bruno Cezar da Cunha Teixeira, da 3ª Vara Federal.
O percentual varia de 1% a 7%. Na gestão emedebista, o beneficiário era o ex-secretário-adjunto de Fazenda, André Cance. O pagamento era feito pela PSG Tecnologia Aplicada, que se tornou sócia da Ice na prestação do serviço ao órgão de trânsito. Com a posse de Reinaldo Azambuja (PSDB), o suposto esquema, conforme a PF, passou a beneficiar o seu filho, o advogado Rodrigo Souza e Silva.
Só que esta não é a primeira ofensiva contra a corrupção no Detran. Em 2018, na Operação Computadores de Lama, 6ª fase da Lama Asfáltica, a PF já tinha mirado o departamento. Em agosto de 2017, o Gaeco prendeu a cúpula do Detran na Operação Antivírus. O então presidente, Gerson Claro (Progressistas), foi preso e virou réu por peculato e improbidade administrativa.
Agora, o Sindetran (Sindicato dos Servidores do Detran) defende a criação de CPI para investigar as falcatruas no órgão estadual de trânsito. “O importante de se instalar uma CPI é que os parlamentares são os representantes da população, e ela é a principal interessada em saber os motivos pelos quais, infelizmente, o Detran sempre está sendo palco de investigações policiais e corrupção”, justificou o presidente da entidade, Octacílio Sakai Júnior.
“É fato que a população paga um dos mais caros serviços de vistoria, emplacamento, CNH do País. E talvez esses altos custos estejam relacionados aos desvios de recursos financeiros que está ocorrendo”, pontuou.
“Lembrando que é dever/obrigação do poder legislativo fiscalizar os atos e as ações do poder Executivo. Por isso a importância de se instalar de fato uma CPI, para que a população saiba o que está ocorrendo no Detran e quais serão as medidas tomadas para sanar esses problemas”, defendeu.
Sakai percorreu os gabinetes de todos os deputados estaduais para entregar o ofício do sindicato propondo a criação de uma CPI. No entanto, em decorrência da pandemia da covid-19, que ganha força no Estado e do fim do ano, a proposta deverá ficar para 2021.
“Torço para que esses fatos não esfriem com o COVID e os recessos judiciário e parlamentar. Porque o sistema está massacrando e perseguindo quem luta por um Estado forte e mais justo”, disse o sindicalista.
No entanto, a entidade poderá ter um adversário poderoso no próximo ano. Gerson Claro, réu por supostos desvios de R$ 7,4 milhões no Detran, é o principal cotado para suceder Paulo Corrêa (PSDB) na presidência da Assembleia Legislativa a partir do próximo ano.
Atualmente, ele também desempenha uma função importante na Casa de Leis: líder do Governo de Reinaldo Azambuja, cujo filho é investigado na Operação Motor de Lama e foi denunciado pelo suposto recebimento de R$ 67,791 milhões em propinas da JBS no Superior Tribunal de Justiça.