O pagamento de propina pela Ice Cartões Especiais foi feito pela PSG Tecnologia Aplicada, oficialmente em nome de Antônio Celso Cortez, que era sócia do grupo paulista no contrato com o Detran (Departamento Estadual de Trânsito). Conforme a Operação Motor de Lama, houve a distribuição de R$ 2,4 milhões entre a esposa, cunhada e sobrinhos do ex-secretário-adjunto estadual de Fazenda, André Cance.
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De acordo com a Polícia Federal, o percentual pago a título de propina consta da planilha encontrada no escritório de Cance. Esses dados já foram revelados na Operação Computadores de Lama, 6ª fase, deflagrada em 28 de novembro de 2018. O percentual da propina variava de 2% para CNH, 3% para vistoria e 7% sobre total repassado.
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Na planilha, dos R$ 2,686 milhões repassados pelo Governo do Estado para a Ice Cartões, Cance anotou repasse de R$ 256,3 mil, que representa 9,54% do total. Em mensagens no celular, a esposa, Ana Cristina Pereira da Silva, informou o pagamento de R$ 50 mil, mesmo valor repassado por Cortez.
A PF suspeita que a propina era distribuída entre a mulher do ex-secretário-adjunto de Fazenda, Ana Cristina, a cunhada, Thereza Nunes da Silva, os sobrinhos, Thiago e Raphael Nunes Cance, e o funcionário da esposa, Mário Cassol Neto. O total repassado para eles somou R$ 2,4 milhões, conforme trecho de despacho do juiz Bruno Cezar da Cunha Teixeira, da 3ª Vara Federal de Campo Grande.
A propina era paga pela PSG, que teria lucrado R$ 14 milhões em dois anos de sociedade com a Ice Cartões no contrato com o Detran. As empresas firmaram sociedade em conta de participação logo após o Governo anunciar o grupo paulista como vencedor da licitação no órgão de trânsito.
“Tomando o caso da PSG Tecnologia Aplicada Ltda que investiu o montante de R$ 2.104.703,15 na sociedade com ICE Cartões e conseguiu o retorno financeiro de R$ 14.007.824,00 no período de 48 meses (maio/2013 a abril/2017), e dada a influência de Andre Cance e João Roberto Baird nas contratações junto ao Governo do Estado de MS, há indícios que a contratação e a parceria da ICE Construções e PSG podem ter ocorrido sob influência ou pressão do grupo criminoso constituído por André Cance, João Roberto Baird, Antonio Celso Cortez e com participação de gestores do DETRAN/MS, para que o contrato fosse executado em ‘sociedade’ com a PSG Tecnologia Aplicada e ainda permitisse a Andre Cance arrecadar propina a partir de percentual estabelecido sobre cada pagamento mensal”, anotou o magistrado.
Além das transferências, a PF aponta ainda o repasse de R$ 350,6 mil de João Roberto Baird, o Bill Gates Pantaneiro, para Cance. Cortez ainda teria entregue mais R$ 241,1 mil em dinheiro.
Também teria sido confirmada a suspeita feita na Operação Computadores de Lama, de novembro de 2018, de que o aluguel do apartamento em São Paulo para Ana Cristina entrou como contrapartida para a propina. Ela teria sido beneficiado ao não precisar pagar R$ 10 mil por mês pelo uso do imóvel por seis meses.
De acordo com a Operação Motor de Lama, o esquema de pagamento de propina no Detran não terminou com o fim da gestão de André Puccinelli. Cance teria feito a transição para o advogado Rodrigo Souza e Silva, filho do governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
Uma das suspeitas é de que os pagamentos teriam sido feitos para o corretor de gado José Ricardo Guitti Guímaro, o Polaco, a pedido do herdeiro tucano. Quebra do sigilo revelou transferência de R$ 1,930 milhão de Cortez para ele.
A 7ª fase da Lama Asfáltica foi deflagrada na terça-feira (24) e cumpriu 11 mandados de busca e apreensão.