O aposentado Luiz Carlos Vareiro, o Véio, réu pelo roubo da propina de R$ 300 mil do corretor de gado José Ricardo Guitti Guímaro, o Polaco, informou à Justiça que “teme pela sua vida” e se escondeu em uma fazenda. Em depoimento ao Ministério Público Estadual, ele disse que foi contratado pelo advogado Rodrigo Souza e Silva, filho de Reinaldo Azambuja (PSDB), para matar o corretor e evitar delação premiada em 2017.
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A audiência de instrução e julgamento do aposentado e mais seis homens pelo roubo da propina estava previsto para sexta-feira (29), a partir das 13h30. No entanto, devido à pandemia da covid-19, a juíza May Melke Amaral Penteado Siravegna, da 4ª Vara Criminal, cancelou os depoimentos das testemunhas de acusação e suspendeu o processo por 60 dias.
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Conforme a denúncia dos promotores Marcos Alex Vera de Oliveira e Clóvis Amauri Smaniotto, o sargento da Polícia Militar e primo do tucano, Hilarino Silva Ferreira, e o despachante, David Cloky Hoffman Chita, contrataram Vareiro e mais quatro – Jozué Rodrigues das Neves, o Cézar Cantor, Vinicius dos Santos Kreff, Fábio Augusto de Andrade Monteiro e Jefferson Braga de Souza, o Jê – para roubar a propina entregue a Polaco.
No dia 27 de novembro de 2017, eles cercaram o comerciante Ademir José Catafesta na BR-262, enviado para receber o dinheiro, e roubaram a propina e o veículo. O plano deu errado quando o carro foi recuperado pelo Batalhão de Choque. Os policiais prenderam os integrantes da suposta quadrilha, que confessaram terem sido contratados pelo filho do governador.
Em entrevista ao MPE, repercutida pelo Fantástico, da TV Globo, Vareiro revelou que o objetivo era matar Polaco, simulando um acidente de trânsito e jogando seu carro fora da rodovia. No entanto, na primeira vez, ele teria vindo com o filho. Na segunda, a propina teria sido entregue a intermediário, no caso, Catafesta.
Os promotores incluíram imagens das câmeras de segurança e quebra dos sigilos telefônicos para comprovar os fatos narrados pelos réus. A juíza aceitou a denúncia contra os sete réus. O julgamento sofreu atraso por causa da pandemia.
No dia 28 de setembro deste ano, conforme os autos do processo, Luiz Carlos Vareiro ligou para o cartório da 4ª Vara Criminal para informar o novo endereço e pediu sigilo. Ele alertou a magistrada que “teme pela sua vida” e pediu para ser defendido pela Defensoria Pública.
David Chita pediu para o processo ser transferido para Terenos, onde teria ocorrido o roubo da propina. No entanto, a juíza negou o pedido. Ele também alegou que os réus teriam sofrido coação para delatar os detalhes do suposto roubo. Para a magistrada, os depoimentos foram gravados e ficou claro que não houve nenhuma ameaça ou coação contra os acusados.
Rodrigo Souza e Silva foi denunciado como mandante do roubo da propina, mas May Melke rejeitou a denúncia feita pelo MPE. Os promotores recorreram da decisão e a 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul acatou, por unanimidade, a ação penal contra o filho do governador do Estado.
O processo retornou para a 4ª Vara Criminal, comandada pela magistrada May Melke Siravegna. Até setembro deste ano, o oficial de Justiça não tinha notificado o herdeiro do tucano para apresentar a defesa prévia na ação.
Rodrigo foi denunciado, ao lado do pai, por corrupção passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro no Superior Tribunal de Justiça pela sub-procuradora-geral da República, Lindôra de Araújo. O caso vai ser analisado pela Corte Especial.
O governador negou o envolvimento do filho na denúncia do roubo e do plano para matar Polaco. Em nota sobre a denúncia no STJ, ele voltou a ressaltar que é inocente e classificou a ação do MPF como “coleção de equívocos”.