O empresário Ivanildo da Cunha Miranda, delator do ex-governador André Puccinelli (MDB) na Operação Lama Asfáltica, vendeu três fazendas aos filhos e sobrinhos do governador Reinaldo Azambuja (PSDB). No entanto, oficialmente, ele recebeu apenas 10% dos R$ 7,756 milhões. Na conclusão do inquérito 1.190, da Operação Vostok, a Polícia Federal suspeita que o restante foi pago com dinheiro da propina da JBS.
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A conclusão do delegado Leandro Alves Ribeiro, da Dicor (Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado) da Polícia Federal em Brasília, é que Miranda ajudou o tucano a dissimular parte da propina de R$ 67,791 milhões.
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No inquérito concluído em junho deste ano, a PF revela que as três propriedades foram vendidas no mesmo dia, em 23 de setembro de 2016, e o pagamento da entrada só ocorreu cinco meses depois, em fevereiro de 2017. Para dificultar a checagem, as prestações deveriam ser pagas até 2021.
A primeira fazenda, de 640 hectares e avaliada em R$ 2,978 milhões, foi vendido aos três filhos do governador: Rafael Souza e Silva, Rodrigo Souza e Silva e Tiago Souza e Silva. O cheque de Rafael com o pagamento da entrada, no valor de R$ 350 mil, foi descontado em fevereiro.
A segunda propriedade, de 340 hectares e comercializada por R$ 2,113 milhões, também foi transferida para Rafael, Rodrigo e Tiago. A entrada de R$ 314,9 mil também foi paga em fevereiro. Também não houve comprovação do pagamento do restante, conforme relatórios do Coaf, o xerife do sistema financeiro brasileiro.
O terceiro imóvel, de 429,7 hectares e com valor de R$ 2,664 milhões, foi vendido no mesmo dia aos sobrinhos do tucano, Roberto de Oliveira Neto e Gustavo Schmit de Oliveira Silva, filhos de Roberto de Oliveira Silva Júnior. Eles teriam pago R$ 368,4 mil, também em fevereiro de 2017.
O delegado aponta outra coincidência. Naquele mês, a JBS pagou R$ 2,501 milhões para Ivanildo. O ex-deputado estadual e ex-prefeito de Dois Irmãos do Buriti, Osvane Ramos, fez a transferência de mais R$ 1,080 milhão. No total, conforme a quebra do sigilo, a JBS, o deputado estadual Zé Teixeira (DEM), o empresário João Roberto Baird, o Bill Gates Pantaneiro, e outros pecuaristas envolvidos no suposto esquema de notas frias, repassaram R$ 13,4 milhões para Ivanildo.
Os depósitos foram feitos nas contas do empresário e da empresa Força Nova Distribuidora de Bebidas. Esta teria sido usada para o pagamento de caixa dois na campanha eleitoral de Reinaldo em 2014, mas é uma outra história.
As investigações ocorreram a partir da delação premiada da JBS, que revelou pagar propina a Reinaldo em troca de incentivos fiscais. O prejuízo aos cofres estaduais chegou a R$ 209,5 milhões.
Uma das fases da Operação Lama Asfáltica, a Máquinas de Lama, ajudou a reforçar a investigação contra Reinaldo com a apreensão de documentos, anotações e notas fiscais na casa e nas empresas de Ivanildo da Cunha Miranda. Delator do esquema de Puccinelli, ele nunca fez denúncias contra Reinaldo, que se transformou no principal adversário do emedebista nas eleições de 2018.
A delação premiada de Ivanildo no final de 2017 foi fundamental para levar André à prisão em novembro de 2017 e julho de 2018, tirando-o da disputa do Governo do Estado.
O inquérito contra o governador, o filho, Rodrigo Souza e Silva, e mais 20 pessoas por organização criminosa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro está com o procurador-geral da República, Augusto Aras. Ele poderá apresentar a denúncia ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), pedir novas diligências ou determinar o arquivamento por falta de provas.
Reinaldo sempre negou as denúncias e enfatizou ser vítima de facção criminosa, no caso, chefiada pelos donos da JBS, os irmãos Joesley e Wesley Batista. Por se tratar de líderes de organização criminosa, o tucano pediu a anulação da delação premiada, que será discutida em julgamento virtual do Supremo Tribunal Federal a partir da próxima sexta-feira (2).
Em junho, governador divulgou nota para rebater conclusão da Polícia Federal
“O governador Reinaldo Azambuja recebeu com estranheza e indignação a conclusão do inquérito. Trata-se de denúncia antiga, baseada em delações premiadas sem qualquer credibilidade e provas, que vêm sofrendo, em casos diversos no País, inúmeros questionamentos judiciais quanto à sua procedência e consistência.
Passados três anos de inquérito tramitando no STJ, não foi possível concluir ou ao menos indicar de que forma o governador teria praticado qualquer tipo de ilícito.
Desde a Operação Vostock, realizada de forma midiática e exorbitante, bem no meio da campanha eleitoral de 2018, não se conseguiu produzir uma única prova de que tenha recebido qualquer tipo de vantagem indevida da JBS.
Neste caso, é importante pontuar que a própria empresa confessou que os termos de acordo para benefícios fiscais do estado não estavam sendo cumpridos e aderiu a programas de recuperação fiscal, bem como efetuou o pagamento de valores devidos a título de imposto, de modo que não houve dano ao Erário, nem tampouco qualquer ato de corrupção praticado.
Com o fim do inquérito, o governador Reinaldo Azambuja entende que , em processo com ampla defesa, demonstrará a improcedência de todas as acusações a ele dirigidas.”