Em apenas 13 dias, mais que dobrou o número de pacientes da covid-19 internados em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) na Capital e hospitais públicos e privados correm risco de ficar sem anestésico no pico da pandemia em Mato Grosso do Sul. Usado para entubar doentes no centro de terapia intensiva, o medicamento está em falta em todo o mundo. Mais dez mortes foram confirmadas nas últimas 24 horas e já são quase 14 mil diagnósticos positivos no Estado.
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Novo epicentro da doença, apesar dos esforços das autoridades, Campo Grande teve 196 novos casos positivos, com o total de casos saltando de 4.640 para 4.836. Já são 43 óbitos causados pela doença na Capital, sendo 35 apenas em 13 dias deste mês. Dourados segue em segundo, com 3.481 casos e 46 mortes.
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Outra triste notícia foi a confirmação da primeira morte no Asilo São João Bosco, um dos locais mais vulneráveis à pandemia. Lídio Chamorro, 67 anos, morreu ontem à noite no Centro Regional de Saúde do Bairro Tiradentes. De acordo com o Campo Grande News, outros 12 idosos apresentaram os sintomas e foram submetidos a exames.
O aceleramento do contágio permanece em todo o Estado. Conforme a Secretaria Estadual de Saúde, foram confirmados 473 novos casos em 24h, com o total de pacientes passando de 13.461 para 13.934 nesta terça-feira. Com mais dez óbitos, o Estado contabiliza 177 mortes pela pandemia de março até ontem.
O mais grave é a falta de anestésico e relaxamento muscular, usados para internar pacientes na UTI. O sumiço do medicamento coincide com o aumento de 115% no número de doentes internados em UTI na Capital, de 33, no dia 30 de junho, para 71 ontem, conforme boletim da Secretaria Municipal de Saúde.
Com oito pacientes internados no CTI, o Hospital El Kadri vem fazendo milagre para garantir o tratamento dos infectados pela covid-19. De acordo com o diretor administrativo, Rudney Leal, a instituição aguarda há 20 dias pela entrega do produto, que era entregue toda semana. Nenhum outro hospital da Capital tem o medicamento para emprestar ou vender. O El Kadri reservou toda a ala intensivista, com 20 leitos para adultos, para os pacientes com o coronavírus.
A Santa Casa de Campo Grande também confirmou a falta do anestésico. “A Santa Casa de Campo Grande ainda continua com problemas na compra e recebimento de medicamentos essenciais para o atendimento de pacientes no Centro de Terapia Intensiva e nas demais enfermarias, devido à falta deles no mercado. Os fornecedores alegam que a produção está sendo feita de acordo com a disponibilidade da matéria-prima, mas que está deficitária nesse momento. Por isso temos recebido poucas remessas de medicamentos e todas de forma fracionada”, informou o hospital, por meio da assessoria.
“Em relação aos estoques dessas medicações (anestésicos), eles estão com uma baixa muito importante, por isso, seguimos com a restrição da permanência de casos urgentes no hospital para não comprometer os novos atendimentos, priorizando os casos de emergência, uma medida que foi pactuada com a Secretaria Municipal de Saúde desde o dia 10/6, como forma de garantir a dispensação racional dos insumos e medicamentos, que influencia nos novos atendimentos”, pontuou.
O Jacaré apurou que o estoque no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul Rosa Pedrossian, referência no tratamento da covid-19, é suficiente para menos de 20 dias. A diretora Rosana Leite foi procurada para falar do problema ontem, mas não se manifestou até o momento.
“Estamos atentos”, garantiu o secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende. Ele confirmou a falta do fármaco, mas garantiu que há o estoque para os próximos “20 a 30 dias”. A expectativa é de que vários processos de compra em andamento tenham êxito. O Ministério da Saúde e a OPAS (Organização Pan-americana de Saúde) estão realizando compras para distribuir aos estados.
Também houve união das secretarias estaduais de saúde para realizar licitação unificada para comprar o anestésico. Conforme Resende, a expectativa é de que milhões de ampolas sejam adquiridas nos próximos dias, a tempo do medicamento faltar nos hospitais.
O superintendente do Hospital Universitário de Campo Grande, professor Cláudio César Silva, confirmou a deficiência, mas garantiu que o estabelecimento dispõe do medicamento. Ele explicou que a falta atinge todo o mundo, devido a utilização em excesso por causa da pandemia. “O consumo teve alta de quatro a cinco vezes em relação ao normal”, explicou.
O cenário é assustador, porque o problema não é apenas a falta de leitos de UTI para quem precisar. Os hospitais podem ter dificuldade de manter os doentes nos leitos existentes.
Pressionado por médicos e especialistas em saúde, para decretar lockdown, e por comerciantes e empresários, para evitar o isolamento total, o prefeito Marquinhos Trad (PSD) deve anunciar a medida nas próximas horas.
Na semana passada, ele já seguiu a recomendação dos técnicos, ao antecipar o toque de recolher para as 20h e limitar a ocupação de igrejas, estabelecimentos comerciais e empresas em apenas 40%.