Assustadora para a maioria dos moradores de Mato Grosso do Sul, a pandemia da covid-19, que ganhou velocidade neste mês no Estado, com 7,3 mil casos e 71 mortes, não é considerada grave por parte da sociedade. Além disso, em postagens nas redes sociais, eles põem a boca no trombone para detonar os políticos, minimizar as mortes e fulminar o “alarmismo” dos meios de comunicação, inclusive O Jacaré.
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“Politicagem pura, é preciso gerar pânico para aparecerem os heróis”, afirmou um internauta, sobre o aumento de 516% no número de casos em apenas um mês, de 1.186, no dia 27 de maio, para 7.307 ontem. No mesmo período, os óbitos tiveram crescimento de 317%, de 17 para 71.
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“Covid-19, tem política por de trás do vírus kkk”, postou outro. No Brasil, a tese é de que pandemia tem o objetivo de derrubar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que repetiu em várias entrevistas e convocou rede nacional de TV para classificar a covid-19 “como gripezinha” e incentivar a população a desafiar as medidas de isolamento propostas pelos prefeitos e governadores.
A acusação de uso político não está restrita ao Brasil. Nos Estados Unidos, aliados e seguidores veem armação para impedir a reeleição do republicano Donald Trump. Em novembro deste ano, os americanos vão às urnas para escolher o novo presidente.
“Povo já tá quebrado mesmo. Em ano de eleição, quanto mais dinheiro federal entrar, melhor, tão pouco se f. para Covid”, lamentou outro. “Só morre de covid para governadores, prefeitos e jornaleiros que ganham muito $$$$$$$$$$$$$$”, pontuou um leitor.
“Mentira, propaganda do terror paga pelo prefeito e governador”, defendeu outro, como se a pandemia fosse benéfica para os prefeitos que vão buscar a reeleição. Ao causar desemprego e expor a fragilidade do sistema público de saúde, o coronavírus ameaça a renovação de muitos mandatos, principalmente, nas cidades onde a situação sair do controle.
Os negacionistas também miram os sites, jornais, emissoras de televisão e rádio, qualquer um que divulgue os boletins divulgados diariamente pelo secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, prefeitos ou secretários municipais de saúde.
“Nossa agora morre a outra meta do povo que não morreu ainda, essa mídia quer ver o caos”, disparou um, sobre os recordes sucessivos registrados pela pandemia em MS. “TV funerária”, engrossou outro, repetindo o slogan de Bolsonaro contra a TV Globo.
“Ontem, no vespertino, TODOS OS QUASE 100 TESTES REALIZADOS DERAM NEGATIVO! O Jacaré, mais um jornaleco DE MERDA!”, detonou outro, reprovando a divulgação das informações repassadas por médicos, pesquisadores e autoridades sobre a covid-19.
“Reportagem idiota, claro que a economia iria encolher, os estados saqueando os cofres públicos”, postou outro, criticando a divulgação do FMI (Fundo Monetário Internacional) de que a haverá queda no PIB brasileiro e do mundo com a pandemia.
“Mentira que eu trabalho lá e não tem essa história aí não, presta atenção no que vocês andam publicando, ninguém precisa de mentiras pra viver”, acusou um internauta, questionando os dados divulgados pelas autoridades de saúde.
Outro assunto repetido pelos negacionistas são as mortes. “De outras doenças ninguém morre mais?”, questionou um, ignorando as notícias de que a dengue matou 39 pessoas e o vírus influenza oito neste ano em Mato Grosso do Sul. Sem mencionar as postagens na internet de câncer, infarto, AVC, etc.
Devido a chegada do frio, houve aumento no número de doenças respiratórias, o que levou outros a aderirem a teoria conspiratória de que as autoridades passaram a computar gripe, resfriado e pneumonia como coronavírus. “Muita gente indo para a fila por estar com sintomas de gripe e alergia, (estamos na época das doenças respiratórias) e é normal q diante de todo pânico que a mídia tem propagado, que elas tentem fazer o exame p descartar a doença”, explicou um, apesar do teste no drive thru só ser agendado por quem apresentar os sintomas da covid-19.
O barulho causado pelos negacionistas nas redes sociais não é ignorado pelas autoridades. “Esse negacionismo ajuda a contribuir. Sabemos que têm muita gente que nega a doença, que não acredita nela. Tive contato até com idosos, empresários, que dizem não acreditar nessa doença”, admitiu o secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende, conforme registro feito pelo Midiamax.
“Uma tarefa que tem sido feita exaustivamente está sendo em vão, como se estivesse pregando para o deserto. As pessoas só parecem que vão acreditar se algum ente querido, muito próximo, for de fato acometido (pela doença) e, logicamente, se essa pessoa tiver um desfecho desfavorável”, alertou.
“Toda essa rede de negacionismo vem e nos consome, porque você tem de desviar o foco para dar uma informação que, de alguma forma, convença que a doença existe. Enquanto infectologista, nunca vivi um enfrentamento tão grande, realmente desafiador enquanto manejo clínico e que consome forças que deveríamos reunir neste momento”, explicou a infectologista Mariana Croda.
Esta é a primeira pandemia desde a gripe espanhola, em 1917, que atinge toda a população mundial e segue sem vacina e sem remédio. É um problema enfrentado por todo mundo ao mesmo tempo. O medo do morador de Mato Grosso do Sul e do chinês, onde tudo começou, em tempos de globalização e informação em tempo real, é o mesmo.
Para piorar a luta contra o desconhecido, toda hora surge uma nova fake news com mais uma teoria conspiratória, remédio novo (geralmente falso) e até disseminando mentiras, de o uso de máscara propaga o vírus ou agrava o estado de saúde da população. A única certeza de tudo é que tudo isso vai passar, só precisamos ter paciência. Talvez dar um pouco mais de valor à vida, à família e aos amigos, unir forças, para chegar mais fortes e vivos no amanhã.