A transparência no pagamento do auxílio emergencial continua causando polêmica em Mato Grosso do Sul. A lista de beneficiários inclui mais parentes de políticos, como dono de restaurante, advogada e até a “grande família” do prefeito de Corumbá, Marcelo Iunes (PSDB), que recebe o 6º maior salário no Estado.
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A situação repercutiu até em Brasília, após o presidente nacional do PTB, ex-deputado federal Roberto Jefferson, insinuar que parentes do senador Nelsinho Trad (PSD), teriam sido incluídos na farra. A postagem causou a fúria do ex-prefeito de Campo Grande, que acionou a Polícia Federal para investigar o caso.
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Criado para ajudar pobres, desempregados e trabalhadores autônomos durante a pandemia do coronavírus com R$ 600, por três meses, o auxílio emergencial acabou sendo pago a preso, foragido, bandido, servidor público, aposentado e até milionário. O Jacaré também revelou o pagamento a parentes de políticos donos de fortunas, como a esposa e filha do vice-prefeito de Bataguassu, Akira Otsubo, e da nora do prefeito de Costa Rica, Waldeli Rosa (MDB), que devolveram o valor.
No entanto, teve gente que utilizou o dinheiro. Este é o caso do empresário André Delgado Baird, que tem duas empresas ativas em seu nome em Costa Rica. Filho do ex-prefeito Jesus Baird e irmão do vereador Arthur Baird, ele confirmou que recebeu o auxílio emergencial.
“Moço, eu toco um restaurante que caiu 80 % do movimento”, justificou Baird. “Se o senhor pesquisar meu nome assim como fez… vai ver que não gozo de um bom momento financeiro”, justificou-se. “Peguei porque me enquadro e precisei”, relatou. À Justiça Eleitoral, o seu pai, Jesus Baird, declarou, em 2012, patrimônio de R$ 914,3 mil, que incluiu 110 cabeças de gado.
Outro beneficiado foi o ex-prefeito Laurindo Corrêa de Oliveira, que seria produtor rural. O Jacaré não conseguiu contato com o fazendeiro para saber por que solicitou o auxílio.
Em Corumbá, o Governo federal pagou auxílio para os irmãos, a sogra e o cunhado do prefeito Marcelino Nunes (PSDB), que tem salário de R$ 26 mil por mês, o 6º maior entre 52 prefeitos pesquisados.
Ao jornal Midiamax, o tucano afirmou que o irmão, Ernani Aguilar Iunes, é trabalhador informal, enquanto a irmã, Josefina Aguilar Iunes, está desempregada. Ele não explicou a situação da sogra, Ana Cláudia Balancieri, e do cunhado, Amando André Balancieri. Todos receberam R$ 600.
Em 2016, quando era candidato a vice-prefeito de Ruiter Cunha de Oliveira (PSDB), Iunes declarou à Justiça Eleitoral patrimônio de R$ 592,4 mil. Após assumir a prefeitura, ele se envolveu em polêmica ao empregar vários familiares na prefeitura de Corumbá.
Em Bandeirantes, a advogada Cristiane Santos Souza Sauer recebeu o auxílio de R$ 600. Ela é esposa do vereador de Bandeirantes, Luís Fernando Sauer (PSD), que se envolveu em polêmica por gasto expressivo com diárias. Em 2016, ele informou ao Tribunal Regional Eleitoral, que tinha apenas um carro avaliado em R$ 18 mil.
Ainda em Bandeirantes, o ex-prefeito Márcio Justino de Queiroz também recebeu o auxílio. Em 2016, quando perdeu a eleição, ele afirmava ter patrimônio de R$ 100 mil, que incluiu uma Ford F-250.
Ainda sobre o auxílio ocorreu um entrevero entre Roberto Jefferson e Nelsinho. Ao receber no celular prints de vários beneficiários com o sobrenome Trad, o mesmo do prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad, e do deputado federal Fábio Trad, o ex-deputado, condenado no escândalo do Mensalão do PT, nem tentou checar a informação e foi para o ataque.
“Deus nos deu um livramento, quando o senador Nelson Trad, irmão do prefeito de Campo Grande, MS, deixou o PTB. Toda sua família, bem posta na vida, recebeu o auxílio emergencial, três parcelas, pago pelo Governo federal. Uma vergonha, o senador deve uma resposta ao Brasil”, postou o petista.
A resposta de Nelsinho foi imediata. “A verdade precisa prevalecer. Já tomei todas as precauções legais para que a população não seja enganada por pessoas de má índole. Não aceito calúnia e nem difamação contra mim e minha família”, afirmou.
“Sobre essa acusação falsa de que existem pessoas da família Trad que receberam o auxílio emergencial do Governo, não existe nenhum parente meu, consanguíneo, que recebeu esse benefício. Portanto, irei nesta tarde à Polícia Federal e Polícia Legislativa do Senado, em Brasília, fazer uma queixa-crime e, também, vou à Caixa Econômica Federal averiguar de quem são esses cadastros. Isso é fraude! Tanto os autores quanto os responsáveis por disseminar essa fake news irão responder na Justiça pelos seus atos”, anunciou o senador na última terça-feira (23).
A polêmica continua e ainda deverá causar muita dor de cabeça para quem não estava acostumado com a transparência nos gastos públicos.