A farra com o pagamento do auxílio emergencial não ficou restrita apenas a servidores públicos, aposentados abonados, foragidos e assassinos. Em Mato Grosso do Sul, familiares de políticos milionários fizeram o cadastro e foram aprovados para receber a bolsa de R$ 600 a R$ 1,2 mil, criada em regime emergencial para ajudar os pobres e evitar que famílias passem fome durante a crise causada pela pandemia da covid-19.
[adrotate group=”3″]
Ex-deputado estadual e federal, o atual vice-prefeito de Bataguassu, Akira Otsubo, tem patrimônio declarado à Justiça Eleitoral de R$ 3,2 milhões, que inclui fazenda de 500 hectares e uma casa no Jardim dos Estados, em Campo Grande. No entanto, a mulher e a filha, respectivamente, Taiko Wagatuma Otsubo e Suely Midori Otsubo Tanaka, donos de uma emissora de rádio, estavam cadastradas e receberam R$ 600.
Veja mais:
Governo federal paga auxílio emergencial de R$ 600 para vítima de assassinato em MS
Sem vagas, trabalhadores lotam agência em busca de emprego e de seguro-desemprego
Auxílio emergencial foi pago desde aposentado rico, servidor público, foragidos e assassinos
O caso virou escândalo em Bataguassu e viralizou na região leste do Estado. Akira divulgou nota e responsabilizou a neta pela inscrição da esposa e filha no programa emergencial criado pelo Governo Federal. Nas redes sociais, ele até postou o boleto com a devolução dos R$ 1,2 mil. O detalhe é que só anunciou a medida após o caso ser divulgado pelo blog A Onça.
Em Nioaque, a empresária Janaína Câmara Preguiça teria recebido R$ 1,2 mil, benefício pago a mulher dona de casa e responsável pelo sustento dos filhos. Ela é esposa do vereador João Carlos Veras Gonçalves, o Corumbá (PSB), que recebe salário de R$ 6,5 mil por mês da Câmara Municipal.
Além disso, conforme a Justiça Eleitoral, ele tem R$ 360 mil em patrimônio, que inclui o Mercado do Corumbá e uma S-10. Ele era secretário municipal e deixou o cargo para concorrer à reeleição. O parlamentar não se manifestou até o momento sobre o pagamento do benefício à esposa.
O ex-prefeito de Bela Vista, Douglas Rosa Gomes (Progressistas), também recebeu o auxílio emergencial de R$ 600. Nas eleições de 2016, ele declarou patrimônio de R$ 180 mil, que inclui casa e dois carros populares. Além dele, a esposa, Belinda Lopes Gomes ganhou R$ 600. A filha, que reside em Antônio João e está desempregada, recebeu R$ 1,2 mil.
Ele afirmou ao Midiamax que toda a família se enquadra nos critérios do governo para receber o benefício, ou seja, que não tem condições de manter o sustento durante a pandemia.
Outro caso envolve a fisioterapeuta Thamara Caroline Chapius Rosa, nora do prefeito de Costa Rica, Waldeli dos Santos Rosa (MDB). Moradores da cidade ficaram surpresos com a aprovação do nome dela na lista, já que o sogro declarou à Justiça Eleitoral em 2016 um patrimônio de R$ 15,342 milhões, que inclui cerca de 20 propriedades rurais e 4.288 cabeças de gado.
Conforme o Portal da Transparência, a fisioterapeuta teve o cadastro e recebeu duas parcelas. O prefeito confirmou que a nora recebeu, porque ela é microempreendedora individual. Como fechou a unidade de pillates em decorrência da pandemia, Thamara se inscreveu e recebeu duas parcelas.
No entanto, conforme o emedebista, ao tomar conhecimento da lei, ela devolveu as duas parcelas. Waldeli explicou que o filho tem pró-labore superior a três salários mínimos na empresa. Ele disse que o cadastro foi feito porque a televisão não deixou muito claro sobre as regras de quem teria benefício para receber o auxílio emergencial.
Até a paraguaia Mirna Orrego de Segovia, prefeita de Carmello Peralta, cidade na fronteira com Porto Murtinho, teve o cadastro aprovado para receber R$ 600. No entanto, ela explicou ao Campo Grande News que era beneficiária do Bolsa Família – neste caso, o cadastro é aprovado automaticamente.
“Penso que aconteceu o seguinte, quando minha filha estudava no Brasil, eu recebia em meu nome o Bolsa Família. Deve ser isso, porque não me cadastrei. Não pode ser. Estou averiguando se realmente esse dinheiro está na minha conta, não fiz esse cadastro, as fronteiras estão fechadas. Pode ser isso ou alguém deve ter cadastrado meu nome”, afirmou.
Instituído para ajudar trabalhadores autônomos, pobres e desempregados durante a pandemia, o auxílio emergencial virou uma farra para endinheirados. No entanto, o que muita gente não esperava era a divulgação da lista completa no Portal da Transparência.
A diversão do brasileiro durante a quarentena passou a descobrir qual vizinho endinheirado ou que recebe salário que está contemplado com o pagamento indevido do auxílio emergencial de R$ 600 a R$ 1,2 mil.