A ministra da Agricultura e Pecuária, Tereza Cristina, foi apresentada pelo jornal francês Le Monde como “senhora desmatamento” de Jair Bolsonaro (sem partido). Ela disputa o papel de vilã da Amazônia com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que protagonizou o polêmico vídeo em que defendeu “passar boiada” em mudanças polêmicas na área durante a pandemia do coronavírus.
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Esta não é a primeira vez que a poderosa ministra ganha apelido. Em junho de 2018, como deputada federal e representante da bancada ruralista, ela foi chamada de “Musa do Veneno” por defender a modernização da legislação sobre agrotóxico. Para artistas e ambientalistas, a medida agrava o índice de veneno em produtos agropecuários brasileiros, já considerado um dos mais altos do mundo.
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Na época, Tereza Cristina não se incomodou com a campanha nacional nem com o título. Na ocasião, de acordo com o jornal Folha de São Paulo, a ministra reuniu ruralistas em restaurante caro e tradicional de Brasília para festejar o apelido e a aprovação do projeto pela comissão da Câmara dos Deputados.
Nesta sexta-feira (29), o Le Monde publicou um longo perfil da “poderosa ministra da Agricultura” do Brasil. No título, ao chama-la de “senhora desmatamento”, o periódico francês liga Tereza Cristina ao desmatamento recorde na Amazônia. De acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), houve aumento de 55% na retirada da floresta – 1.200 metros quadrados, que equivale a 1.400 campos de futebol. O desmatamento foi considerado recorde para tempo de chuva na região.
O jornal até publica um elogio. “Ela é o rosco respeitável desse governo de loucos”, teria afirmado um observador, que não foi identificado. Com a reportagem, Tereza Cristina divide com o ministro Ricardo Salles o papel de vilão do meio ambiente.
De acordo com o jornal francês, formada em Agronomia, a ministra estudou em Nova Iorque, quando teria ido morar com uma tia, esposa de diplomata. Na época, o músico Tom Jobim cantava na sala com outros cantores líricos.
O perfil de Tereza Cristina vai na contramão da imagem construída pela ministra no mundo. No ano passado, apesar das polêmicas criadas por Bolsonaro, ela fechou acordos com a Ásia e o Oriente Médio.
O perfil do Le Monde surge no momento em que a União Europeia decide incluir a defesa do meio ambiente nos acordos comerciais. Dois programas lançados neste ano preveem a redução de 50% no uso de pesticida na agricultura até 2030, de 50% de antibióticos em animais e de aumento de 25% na agricultura orgânica.
Partidos de esquerda, defensores do meio ambiente e até políticos de centro-direita vão cobrar a revisão dos acordos comerciais para condicionar às metas ambientais. “A UE é a primeira potência comercial do mundo, por isso temos que usar esses acordos comerciais para contribuir com nossa visão do que é a globalização correta”, afirmou ao Guardian o presidente da comissão ambiental do Parlamento Europeu, Pascal Canfin.
Isso inclui o acordo do Mercosul com a União Europeia, bastante celebrado no ano passado pelo Governo brasileiro.