Por que alguns países implantam a quarentena para controlar a pandemia de covid-19, como recomenda a ONU (Organização Mundial de Saúde), e o Japão não estabelece este tipo de rotina? Esse é um dos principais argumentos dos grupos contrários à medida para evitar prejuízos à economia. Epidemiologistas são cautelosos e reforçam que para impedir o trânsito SARS-Cov-2, o coronavírus causador da covid-19, a quarentena é a melhor medida.
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Entre as explicações para o controle da transmissão da doença no Japão está o trabalho imediato de identificação dos casos e a rotina de testes. “Japão, Coreia e Singapura fizeram um trabalho precoce e agressivo de testar as pessoas. Testar quem tivesse feito qualquer tipo de contato com doentes”, explica o professor de infectologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Amâncio Paulino de Carvalho.
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Também integrava a rotina a observação permanente as pessoas em contato com os indivíduos que tiveram o resultado positivo. “Quem fosse positivo ia para o isolamento e eram rastreadas as pessoas que tivessem mantido contato previamente até dois antes. Então, isso teria sido feito na Coreia. Controle inicial bastante rigoroso e, aí, neste caso, a transmissão não teria ocorrido por conta dessa iniciativa”, enfatiza.
O virologista afirma que desconhece elementos culturais relacionados à resposta sanitária de países como o Japão à pandemia. Entre os comportamentos sociais que poderiam reduzir a transmissão do agente causador da covid-19 estaria o uso de máscaras e luvas, como detalhou o economista comportamental da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, Donald Law, em entrevista à BBC, de Londres.
Conforme o pesquisador, em países como China, Japão, Tailândia e Taiwan, a experiência com a SARS em 2003 mudou o comportamento de governos e, em consequência, da população. “Colocar uma máscara todos os dias antes de sair é como um ritual, como vestir um uniforme, e no comportamento ritual você sente que precisa viver de acordo com o que o uniforme representa, que é um comportamento mais higiênico, como não tocar seu rosto ou evitar lugares lotados e distanciamento social “, disse Donald Low, economista comportamental e professor da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong.
Embora sejam noticiados os métodos sanitários rigorosos e classificados até como draconianos nos países, a pandemia de SARS-Cov-19 fez 177 vítimas na Coreia (10.156 infectados) e 69 no Japão (2.935 infectados) em curvas crescentes e acentuadas de contaminação.
Em desabafo no Facebook, a epidemiologista Silvia Uhera, explicou o caso do Japão, onde o controle inicial de doentes e contatos tem, ainda, o suporte de leitos hospitalares de alta complexidade em maior número que o Brasil. “A situação da COVID no Japão é totalmente diferente, eles conseguiram controlar os primeiros casos e os contatos, com contenção da epidemia. Como não há grande número de doentes e como há pequeno índice de transmissão interna neste momento, além de haver leitos disponíveis em hospitais e CTI, eles não precisam fazer a quarentena”.
Sobre o Brasil, a médica é enfática sobre a necessidade de quarentena. “Peço para todos ficarem em casa por enquanto e peço muitas orações por todos. Cuidem-se. O Brasil não é o Japão. Os países que não fizeram quarentena pararam pela doença e estão com a economia ruim; os que pararam a tempo também estão com a economia em dificuldade, mas a diferença é o número de doentes e de mortos”, alerta.
Peço orações por todos e cuidem-se, recomenda infectologista
Em depoimento no Facebook, a médica infectologista do Hospital Universitário de Campo Grande, Silvia Uehara, fala da falta de equipamentos e pede, fiquem em casa. E pede orações por todos.
Confira:
“Oi Pessoal, a situação da COVID no Japão é totalmente diferente, eles conseguiram controlar os primeiros casos e os contatos, com contenção da epidemia. Como não há grande número de doentes e como há pequeno índice de transmissão interna neste momento, além de haver leitos disponíveis em hospitais e CTI, eles não precisam fazer a quarentena.
Não temos nem teste suficiente para saber o real número de casos, tanto que agora só os casos graves internados estão fazendo o teste na cidade que moro, então percebam que o número que aumenta todo dia é de casos graves. Os contatos não estão nem sendo testados até que cheguem mais testes.
No Brasil há transmissão sustentada sem controle, não há leitos de UTI nem de internação simples disponíveis. Não há sequer material de proteção suficiente para os profissionais.
Eu tive que comprar os meus e só tenho poucas máscaras N95 para menos de um mês se por acaso tiver que cuidar de casos positivos e macacões que não são de proteção biológica.
O hospital está controlando ao máximo para tentar fornecer para os profissionais em caso de necessidades. Por isso que todos os médicos estão pedindo para as pessoas ficarem em casa.
Esse índice de 2,7 leitos de UTI para cada 1000 habitantes que estão divulgando, 75% é em rede privada. E já estão lotados em São Paulo. Por isso tiveram que improvisar leitos no Anhembi e no estádio.
Para terem uma ideia, em algumas cidades tiveram a ideia de pedir para as clínicas veterinárias reservarem os ventiladores respiratórios dos bichinhos para usar em humanos se a situação explodir.
Cada cidade e estado tem que analisar a sua situação e tomar as medidas necessárias.Peço para todos ficarem em casa por enquanto e peço muitas orações por todos. Pela saúde de todos. Espero de verdade ver todos bem de novo. Cuidem-se. O Brasil não é o Japão.
Os países que não fizeram quarentena pararam pela doença e estão com a economia ruim; os que pararam a tempo também estão com a economia em dificuldade, mas a diferença é o número de doentes e de mortos.
Precisamos ficar em casa para que os que precisam trabalhar em serviços essenciais não adoeçam. Do contrário, eles adoecerão e aí sim, tudo ficará mais difícil ainda. Sejamos solidários com quem tem menos que a gente.
De novo, cuidem-se.”