Ministro da Saúde, o médico campo-grandense Luiz Henrique Mandetta desafiou o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), de que a Covid-19 “não é gripezinha”. Em reunião com ministros na manhã de sábado (28), ele teria alertado para o risco da pandemia causar milhares de mortes no Brasil e ainda avisou que poderá criticar o capitão em público. As informações são do jornal O Estado de São Paulo.
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Conforme o periódico paulista, na tensa reunião realizada no Palácio do Planalto, o ministro comparou a morte de mil pessoas à queda de quatro aviões comerciais de grande porte. Atualmente, o Brasil confirmou 3,9 mil casos e 114 mortes pela doença. No mundo, o coronavírus infectou 678.857 pessoas e causou 31.776 mortes.
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“Estamos preparados para o pior cenário, com caminhões do Exército transportando corpos pelas ruas? Com transmissão ao vivo pela internet?”, teria questionado o ministro, de acordo com o Estadão.
Na semana passada, Bolsonaro fez pronunciamento em rede nacional para minimizar a pandemia e classificou a Covid-19 como “gripezinha” e “resfriadozinho”. Ele criticou a quarentena, defendeu que as pessoas voltem ao trabalho para não causar colapso econômico e pediu a reabertura de escolas e universidades.
Mandetta teria insistido para o presidente não menosprezar a gravidade da situação em manifestações públicas. Segundo o jornal, o ministro teria avisado o presidente que poderia criticá-lo. Bolsonaro teria reagido e alertou o sul-mato-grossense que pode demiti-lo do cargo de ministro.
O titular do Ministério da Saúde ainda teria feito apelo ao presidente para que crie ambiente favorável para um pacto entre o Governo federal, os estados e municípios. No atual momento, a unificação de regras e medidas seria fundamental para minimizar os efeitos da pandemia no Brasil.
Na semana passada, Bolsonaro e o governador São Paulo, João Doria (PSDB), trocaram farpas em pública e deixaram evidente o racha entre os estados e a União. Mandetta também teria discutido com secretários estaduais de saúde.
Na coletiva realizada no sábado, o ministro da Saúde defendeu o isolamento social, contrariando manifestação pública de Bolsonaro. Ele elogiou o primo, o prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD). Na capital, para evitar o avanço da Covid-19, o chefe do Executivo fechou o comércio, parou o transporte coletivo e decretou toque de recolher das 20h às 5h.
De acordo com o ministro, as medidas, além de impedir a propagação da doença, ajudaram a liberar leitos em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) ao reduzir o número de acidentes de trânsito e de violência.
Por outro lado, ele ressaltou que o presidente tem razão em estar preocupado com a economia e prometeu buscar soluções em conjunto com a equipe econômica.
O ministro da Saúde fez duras críticas ao trabalho dos meios de comunicação. “Desliguem um pouco a televisão. Às vezes ela é tóxica demais. A quantidade de informações e, às vezes, os meios de comunicação são sórdidos, porque eles só vendem se a matéria for ruim. Senão, ninguém compra o jornal”, afirmou.
A crítica causou a fúria da TV Globo, que fez editorial para responde-lo no Jornal Nacional de ontem. “O ministro da saúde encontrou uma outra maneira de agradar o presidente: criticou o trabalho da imprensa, afirmando que os meios de comunicação são sórdidos, porque na visão dele só vendem se a matéria for ruim”, leu a apresentadora Ana Paula Araújo.
“Na pandemia de um vírus letal contra o qual não há medicamente ou vacina é estarrecedor que ele não reconheça que o nosso trabalho, o trabalho de todos os colegas jornalistas, daqui da Globo, mas também de todos os veículos, é um remédio poderoso: dar informação para que o povo possa se proteger. Há muitos trabalhos essenciais, dos médicos e enfermeiros em primeiro lugar, mas nós jornalistas estamos nas redações e nas ruas arriscando nossa saúde, para cumprir nossa missão. E fazemos isso com orgulho”, destacou a jornalista.
O ministro descartou pedir demissão. Ele teria prometido a Bolsonaro não capitalizar politicamente com as ações de combate ao coronavírus, trabalho que já lhe rendeu elogios nos meios de comunicação e por representantes da sociedade.