A quebra do sigilo telefônico e o rastreamento dos celulares confirmaram os depoimentos de quatro réus confessos do roubo da propina de R$ 300 mil do corretor de gado José Ricardo Guitti Guímaro, o Polaco. Os detalhes constam da denúncia aceita pela juíza May Melke Amaral Penteado Siravegna, da 4ª Vara Criminal de Campo Grande.
Na terça-feira passada (17), a 2ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul aceitou a denúncia contra o advogado Rodrigo Souza e Silva, 30 anos. O filho do governador Reinaldo Azambuja (PSDB) é acusado de ser o mandante do roubo e se tornou o 8º réu no processo. O caso se transformou em escândalo nacional ao ser reproduzido domingo (22) no Fantástico, da TV Globo.
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A denúncia é assinada pelos promotores Clóvis Amauri Smaniotto e Marcos Alex Vera de Oliveira e foi aceita pela juíza em 17 de agosto do ano passado. O primor de Reinaldo, o sargento da reserva da Polícia Militar, Hilarino Silva Ferreira, o Lino, 53 anos, é acusado de contratar o grupo para roubar o dinheiro e de ter entregue a propina.
O intermediador entre ele e o grupo, conforme o MPE, foi o seu sobrinho, o despachante David Cloky Hoffmam Chita, 35. O líder do grupo era o pedreiro aposentado Luiz Carlos Vareiro, o Véio, 63.
Dos cinco presos pelo Batalhão de Choque no dia 6 de dezembro do ano passado, quatro confessaram participação no crime. Eles contaram que foram contratados a pedido de Rodrigo Souza e Silva para roubar a propina destinada a Polaco. Como o dinheiro era ilícito, eles tinham certeza de que sairiam impunes do episódio, porque o corretor de gado não registraria queixa na Polícia Civil.
A expectativa era de que Polaco fosse receber a propina. No entanto, ele pediu para um amigo, o comerciante Ademir José Catafesta encontrar Lino no estacionamento do Supermercado Comper da Rua Joaquim Murtinho. O empresário aquidauanense confirmou o encontro e o pedido de Polaco.
Este versão, conforme os promotores, foi confirmada com a quebra do sigilo telefônico. No dia do encontro, Catafesta ligou três vezes para o primo do governador, que entregou os R$ 300 mil, e duas vezes para Polaco.
Rastreamento dos telefones celulares e imagens das câmeras de segurança indicam que Hilarino Silva Ferreira saiu da empresa e no carro da Trucadão, que pertence a Rodrigo Souza e Silva, e se encontrou com Catafesta no supermercado. O dinheiro foi transportado no porta-malas dos veículos.
No dia do roubo da propina, Vareiro ligou três vezes para David Chita, que teria repassado o local da entrega da propina e o itinerário de Catafesta. O MPE identificou 22 ligações entre os telefones de ambos.
Os promotores destacam que o músico Jozué Rodrigues das Neves, o Cézar Cantor, 43, fez 312 ligações para Vinícius dos Santos Kreff, 26, responsável pela interceptação de Ademir Catafesta na BR-262. O rastreamento dos celulares confirma que o quinteto estava em Terenos na tarde do crime.
O MPE confirmou 18 ligações de Lino para Polaco entre os 19 de outubro e 29 de novembro de 2017, período em que teria ocorrido a negociação para pagar a propina. Houve ligações do telefone do filho do governador, mas esses dados constam da ação que tramita em segredo.
Dos oito réus neste escândalo, dois estão presos: Fábio Augusto de Andrade Monteiro, 25, e Jefferson Braga de Souza Júnior, o Neguinho. A prisão não tem ligação com este crime.
Conforme a denúncia, o total roubado não foi de R$ 270 mil, como vinha sendo divulgado, mas R$ 300 mil. Os acusados de participar do assalto ficaram com R$ 70 mil, enquanto Vareiro ficou com o restante para entregar ao primo e ao filho do governador do Estado.
Os promotores não incluíram na denúncia o suposto crime de queima de arquivo, porque o grupo não tentou matar Polaco. Conforme depoimento de Véio ao Fantástico, em maio de 2017, o corretor escapou porque estava acompanhado da mulher e do filho. Ele disse que o objetivo era jogá-lo fora da rodovia e mata-lo sem usar arma de fogo.
Já na segunda vez, Polaco escapou porque mandou o comerciante Ademir Catafesta em seu lugar.
Os réus na 4ª Vara Criminal
- Hilarino Silva Ferreira, sargento da PM, 53
- David Cloky Hoffmam Chita, despachante, 35
- Luiz Carlos Vareiro, o Véio, aposentado, 63
- Jozué Rodrigues das Neves, o Cézar Cantor, músico, 43
- Vinícius dos Santos Kreff, autônomo, 26
- Fábio Augusto de Andrade Monteiro, autônomo, 25 (preso)
- Jefferson Braga de Souza, o Jê ou Neguinho (preso)
À TV Globo, o advogado do corretor, José Roberto Rodrigues da Rosa, negou que seu cliente tenha recebido propina para não fazer delação premiada.
O advogado de defesa de Rodrigo, Gustavo Passarelli, destacou que não há provas contra o seu cliente. Ao Correio do Estado, ele anunciou que recorrerá até ao Superior Tribunal de Justiça e provará a inocência do filho de Reinaldo durante a instrução processual.
No sábado e ontem, em entrevista ao Campo Grande News, o governador voltou a defender Rodrigo. Ele classificou a denúncia contra o filho de “covardia”. (veja aqui). Ele classificou os réus confessos como “bandido da pior qualidade”. “A verdade sempre prevalece a mentira”, destacou, citando o julgamento do STJ que o inocentou da denúncia feita pelo Fantástico no dia 28 de maio de 2017.
A juíza May Melke Amaral Penteado Siravegna rejeitou a denúncia contra o filho do tucano. No entanto, no ano passado, ela determinou mandado de buscas e apreensão na casa do advogado. Como o Tribunal de Justiça aceitou a denúncia, ela vai conduzir o julgamento contra os oito suspeitos do roubo da propina.
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