O transporte de passageiros por meio de aplicativos se consolida como fenômeno em Campo Grande e fura o ferrenho bloqueio da “máfia do transporte” coletivo. Nos últimos seis anos, houve queda de 10,363 milhões no número de passageiros pagantes, o que representa perda de receita de R$ 40,9 milhões só em 2018.
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A situação pode ficar pior neste ano para as empresas de ônibus, acostumadas a contar com o apoio incondicional das autoridades e do poder público para barrar qualquer ameaça. A previsão é de que a fuga de passageiros continue de forma avassaladora em 2019, com menos 2,7 milhões de usuários pagantes – queda de R$ 10,7 milhões no faturamento.
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O decréscimo no número de passageiros consta da ação de antecipação de provas, protocolada pelo Consórcio Guaicurus no dia 2 deste mês na 1ª Vara de Fazenda Pública e Registros Públicos de Campo Grande. As empresas querem perícia para comprovar perdas de R$ 76 milhões e elevar a tarifa atual de R$ 3,95 para R$ 4,46.
A estatística comprova que a população vem buscando alternativa ao transporte coletivo caro e ruim, com ônibus lotados, longo período de espera e viagens longas. Nos últimos anos, conforme o consórcio, o tempo das viagens passou a ser mais longo, frustrando a expectativa de redução.
Apesar da isenção de impostos de R$ 35 milhões aprovada pelo prefeito Marquinhos Trad (PSD), as empresas não trocaram os ônibus velhos. Os usuários passaram a se deparar com mais frequência com problemas com ônibus quebrados e goteiras dentro dos veículos.
A primeira debandada ocorreu durante o “boom” da era petista, marcada pelo aumento na renda e aumento no crédito para aquisição de automóveis e motocicletas. Parte dos passageiros optou pelo transporte individual.
A debandada se consolidou com a chegada dos aplicativos, como Uber, Urban, 99, entre outros, que chegaram a ser chamadas de “onda” pelo prefeito da Capital. Ao se manifestar em outra ação, que levou à anulação do decreto municipal contra os aplicativos pelo juiz David de Oliveira Gomes Filho, da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, as empresas de ônibus admitiram que o novo serviço era competitivo.
Conforme a defesa do Consórcio Guaicurus, ao permitir a “vaquinha” entre os usuários, o Uber acabou ficando mais barato e substituindo o transporte coletivo, que é concessão pública e regulamentada pelo município. Além do custo, o aplicativo é mais confortável e rápido.
Os números explicam o desespero da “máfia do ônibus”, denominação para o grupo de quatro empresas que controlam o serviço há décadas na Capital: Cidade Morena, Jaguar, São Francisco e Campo Grande.
Confira a evolução por ano
Ano | Passageiros pagantes |
2013 | 56.588.707 |
2014 | 57.213.328 |
2015 | 55.468.058 |
2016 | 52.625.636 |
2017 | 48.660,85 |
2018 | 46.224.947 |
2019 (*) | 43.514.042 |
(*) previsão |
O número de passageiros transportados por ano despencou de 56,588 milhões, em 2013, para 46,224 milhões no ano passado. Esta diferença representa 28.393 passageiros pagantes por dia circulando de ônibus na cidade, o que representa perda de R$ 40,936 milhões anuais para o grupo.
O consórcio prevê fuga de mais 2,730 milhões neste ano, quando a expectativa é de transportar 43,514 milhões de pessoas. A média diária será de 119,2 mil passageiros, contra o recorde de 156.748 registrados em 2014. Considerando-se esse número, o prejuízo pode chegar a R$ 51,6 milhões neste ano.
O aumento no número de usuários em 2014 pode ser reflexo da redução na tarifa em junho de 2013, adotada pelo então prefeito Alcides Bernal (PP), que seguiu a decisão dos prefeitos no País e cedeu às históricas manifestações de rua.
Outra curiosidade é que os aplicativo conseguiram furar a muralha construída pelas empresas de ônibus a qualquer outro tipo de transporte alternativo de passageiros. As vans nunca chegaram a fazer mais do que duas viagens na cidade sem serem retiradas de circulação pela polícia e pelos fiscais da Agetran.
O novo serviço teve a sorte de cair na simpatia da população, mas, principalmente, de ser socorrido pelo Poder Judiciário. Pela primeira vez, a Justiça ouviu o clamor popular e ignorou os apelos do milionário e poderoso lobby do transporte coletivo.
Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal avalizou o transporte por meio de aplicativos, que foi elogiado publicamente pelo ministro Marco Aurélio.
Além do conforto e da eficiência garantida ao usuário, o serviço conta com aproximadamente 30 mil motoristas na Capital e mantém o preço baixo graças à concorrência acirrada. Atualmente, dez aplicativos disputam os clientes no município.
Com dificuldades no Poder Judiciário, onde ainda mantém a luta, o consórcio tem outra saída para mudar o contrato e impor restrições ao transporte individual de passageiros por meio de aplicativos, os vereadores.
Os parlamentares devem se manifestar nos próximos meses e enfrentar o impacto da decisão nas eleições de 2020 ou só analisar a situação depois do fechamento das urnas.
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