A guerra entre os vereadores de Campo Grande e o deputado federal Loester Trutis (PSL) acabou com o marasmo da política e se tornou ótima oportunidade para discutir o papel dos parlamentares. O pesselista criticou o excesso de moções, mas a seu estilo, usando palavras de baixo calão. Delegado Wellington de Oliveira (PSDB) se sentiu ofendido e uniu quase toda a Câmara na reação, que aprovou, caindo na armadilha do adversário, moção de repúdio.
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Como parte da estratégia para divulgar a destinação de parte do salário para ajudar atletas e estudantes, Trutis deu início à polêmica ao postar nas redes sociais que moção de congratulação não seria reconhecimento porque atleta precisa de ajuda financeira. “Enfia a moção no cu”, postou, sem meias palavras ou esconder a intenção.
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O tucano sentiu-se ofendido porque tinha proposto moção de congratulação a um atleta. O vereador afirmou que foi ameaçado por Trutis por meio de áudio. “Ele vai fazer uma nota de repúdio na Câmara. Estou cagando para nota de repúdio, se realmente ele fizer. Mas se ele realmente fizer isso, fala para ele que ele tem o telhado de vidro e eu vou para cima dele com força, que eu não citei o nome dele. Se ele citar meu nome em uma nota oficial da Câmara, bicho, ai ele vai ter que aguentar porque ai eu vou ser especifico no nome dele”, teria dito o deputado, conforme reprodução do Campo Grande News.
Além de ameaçar levar o caso para a polícia, já que é delegado, Wellington ocupou a tribuna da Câmara nesta quinta-feira (2) e comandou a reação contra o deputado do PSL. A moção não teve os votos dos vereadores Vinicius Siqueira (DEM) e Papy (SD).
“Embora tenha usado palavras de baixo calão, reflete a opinião dele e de parte da população. Como parlamentar ele tem direito de expressar. Se começarmos a dar moções de repúdio por opiniões, estaremos violando uma garantia constitucional”, justificou-se Siqueira.
Trutis não deixou barato o repúdio e entrou na guerra, atacando todos os vereadores e pondo mais lenha na fogueira das vaidades.
O deputado chamou o tucano de “vereadorzinho”, “pífio” e “medíocre”. Além disso, postou uma lista de problemas da Capital, que segundo ele, estariam sendo negligenciados pelos vereadores, como a taxa mínima da água (R$ 12), o superfaturamento da obra de revitalização da 14 de Julho (que pode elevar o contrato de R$ 49 milhões para R$ 61 milhões), o contrato do Consórcio Guaicurus (com 78 ônibus velhos) e fiscalizar os postos de saúde.
Na Câmara, a reação que uniu todos partidos e ideologias não poupou Trutis. Para o delegado Wellington, a certidão de antecedentes criminais do deputado federal não é exemplo para ninguém. Ele foi chamado de “despreparado”, “Tiririca do MS”, “analfabeto”e “desqualificado”.
Eleitores de Trutis foram ao delírio no Facebook. “Aplaudo de pé”, reagiu uma seguidora, que citou os problemas da cidade, como taxa da água e sumiço dos ônibus articulados. “Excesso de moções é ridículo”, postou Huldo Júnior.
“Em Campo Grande é mais fácil ganhar uma oração do cão, do que de vereador um tostão”, escreveu outro. Trutis diz que os vereadores poderiam ajudar muito mais ao destinar parte dos salários para ajudar estudantes e atletas. “Não uso verba de gabinete como se fosse sua”, alfinetou Wellington.
“Nessa câmara tem no máximo meia dúzia que salva”, postou Trutis no Facebook, colocando em xeque o papel dos vereadores, que vão buscar a reeleição em 2020.
A reação dos parlamentares focou no vocabulário chulo usado a exaustão pelo deputado federal. A vereadora Dharleng Campos (PP) ressaltou que mulheres, crianças e adolescentes acompanham as redes sociais e as palavras de baixo calão deveriam ser evitadas.
O companheiro de partido, Valdir Gomes, enxergou quebra do decoro o uso do termo “enfiar no cu”. O vereador disse que não devolveria o xingamento porque Trutis poderia gostar do conselho. “É o Tiririca de Mato Grosso do Sul”, afirmou, referindo-se ao comediante que conquistou o mandato de deputado federal por São Paulo debochando do próprio cargo.
Eduardo Cury (SD) fez o discurso mais incisivo contra Trutis, o qual chamou de “meliante”, “desqualificado” e “analfabeto”, que não teria preparo para exercer o cargo de deputado federal.
O vereador Betinho disse que Trutis envergonha o povo sul-mato-grossense. “Eu vou continuar fazendo moção de congratulação”, prometeu.
Para Otávio Trad (PTB),o deputado causa revolta pelas palavras de baixo calão e por adotar postura que não é de um integrante do Congresso Nacional.
Até o presidente da Câmara, João Rocha (PSDB), manifestou-se sobre a polêmica. Ele disse que o parlamentar deve respeitar o voto e falar por toda a comunidade.
O bombardeio continua na internet e nos grupos de whatsapp nesta sexta-feira (3). Da troca de farpas, a sociedade tem a oportunidade de se questionar: os vereadores da Capital estão cumprindo o seu papel de fiscalizar o prefeito Marquinhos Trad (PSD) e garantindo ações para melhoria da qualidade de vida da população?
Eleito na onda de Jair Bolsonaro (PSL) e com postagens polêmicas nas redes sociais, Trutis deve mudar de postura para se adequar ao cargo de deputado federal?
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