Acusado de chefiar organização criminosa por 40 anos e receber R$ 1,8 bilhão em propinas, o ex-presidente da República, Michel Temer (MDB), teve apoio de quatro deputados federais sul-mato-grossenses para não ser investigado nem julgado em 2017. Ele foi preso ontem junto com o ex-ministro das Minas e Energia e ex-governador do Rio de Janeiro, Moreira Franco (MDB).
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Uma das principais defensores do ex-presidente, a deputada federal Tereza Cristina (DEM) conseguiu ser reeleita e ainda virou ministra da Agricultura, Abastecimento e Pecuária do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que se elegeu defendendo o combate à corrupção. Geraldo Resende (PSDB) não conseguiu ser reeleito, mas ficou como suplente e ainda ganhou o comando da Secretaria Estadual de Saúde na gestão de Reinaldo Azambuja (PSDB).
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O terceiro integrante do quarteto é o ex-ministro Carlos Marun (MDB), que se transformou no principal integrante da tropa de choque de Temer. Ele preferiu não testar o desgaste nas urnas e ganhou, como prêmio pela fidelidade, o cargo de conselheiro da Itaipu, com salário de R$ 27 mil. O empregão foi mantido por Bolsonaro.
Elizeu Dionizio (PSB) pagou o preço por ter defendido o ex-presidente das acusações de corrupção passiva, obstrução da Justiça e chefiar organização criminosa. Ele não foi reeleito. O socialista ficou marcado pela mudança brusca em relação ao então presidente Temer.
Logo após o vazamento da delação da JBS, que acusava o emedebista de receber propina de R$ 500 mil por semana e de comprar o silêncio do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB), Dionizio condenou veementemente a conduta de Temer e propôs o seu impeachment. No entanto, bastou uma reunião com o então presidente, para mudar de opinião e defender a sua permanência no cargo.
De Mato Grosso do Sul, dos oito deputados, quatro votaram pelo prosseguimento da denúncia contra Temer nas duas ocasiões: Dagoberto Nogueira (PDT), Luiz Henrique Mandetta (DEM), Vander Loubet (PT) e Zeca do PT.
Mandetta não disputou a reeleição e virou ministro da Saúde de Bolsonaro. Vander e Dagoberto se reelegeram no ano passado. Zeca tentou uma vaga de senador e ficou em 5º lugar na disputa.
Agora, com a prisão de Temer, os jornais divulgaram que ele é alvo de dez inquéritos por corrupção. O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara do Rio de Janeiro, decretou a prisão pelo suposto pagamento de propina no caso da construção da usina nuclear de Angra 3.
De acordo com o Ministério Público Federal, Temer chefiou organização criminosa que desviou recursos públicos por 40 anos. Só em propina, o grupo do ex-presidente teria recebido R$ 1,8 bilhão, que equivale a metade do orçamento da Prefeitura de Campo Grande, cidade com 843 mil habitantes.
Só o coronel João Batista Lima, amigo e acusado de ser operador de Temer, teria recebido R$ 32 milhões em propina entre 2010 e hoje.
“Estranho seria se o Michel Temer não estivesse preso… A forma como ele praticava os crimes é algo que nos causou muita surpresa, mesmo depois de três anos da Lava Jato”, afirmou o procurador da República Eduardo El Hage.
Como amigo, Marun já demonstrou indignação com a prisão e visitou o ex-presidente na Polícia Federal nesta quinta-feira. Ele disse que o emedebista está “triste e indignado” com a prisão que considera ilegal.
O cidadão ainda deve se perguntar, 40 anos é muito tempo para se praticar crimes impunemente. E o mais grave, quantos brasileiros pagaram com a vida pela falta de remédios, de médicos, de hospitais, de condições dignas para sobreviver, enquanto o dinheiro era desviado por uma organização criminosa.
E ainda teve gente chocada com a forma como a prisão de Temer, o mais impopular presidente da história brasileira, ocorreu ontem.
O interessante no absurdo dos valores de parte da sociedade brasileira, a denúncia de que chefiava um esquema criminoso por 40 anos e desviou R$ 1,8 bilhão não causou espanto. E isso precisa mudar.