O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) teve êxito na estratégia para anular o impacto da Operação Vostok, da Polícia Federal. O apoio dos jornais foi fundamental para ajudar o tucano a crescer na reta final. Por outro lado, o juiz federal Odilon de Oliveira (PDT) tropeçou em momentos importantes da campanha e teve mais sorte do que mérito para chegar ao segundo turno.
Mesmo com a frustração de não conseguir ganhar no primeiro turno, como delineou nos últimos dias do primeiro turno, o tucano conseguiu minimizar o impacto das denúncias em parte do eleitorado. Reinaldo é acusado de receber R$ 67,7 milhões em propinas e de causar prejuízo de R$ 209,7 milhões aos cofres estaduais. O STJ determinou o bloqueio de R$ 277 milhões do governador, da esposa e dos três filhos.
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Reinaldo usou o depoimento do corretor de gado José Ricardo Guitti Guímaro, o Polaco, que ameaçou fazer delação premiada em abril deste ano, para iniciar a contra ofensiva. Preso na Operação Vostok, ele prestou depoimento em outro inquérito aberto contra o tucano. Neste caso, que foi tema de reportagem do Fantástico, o tucano é acusado de integrar um grupo que teria cobrado R$ 500 mil em propina para reativar o incentivo do curtume Braz Peli.
De acordo com o advogado José Roberto da Rosa Rodrigues, Polaco desistiu da delação e inocentou a cúpula do Governo da cobrança de propina em troca da manutenção dos incentivos. O depoimento foi reforçado pelo empresário José Alberto Berger, da Braz Peli, que recuou da acusação feita ao Fantástico e deu nova versão à Polícia Federal.
Com base nos novos depoimentos, o MPF pediu o arquivamento do inquérito 1.198, divulgado pelo Correio do Estado no último dia do horário eleitoral. O caso será julgado pela Corte Especial do STJ no dia 17 deste mês.
Reinaldo conseguiu convencer parte do eleitorado de que a denúncia feita na Vostok seria arquivada. Só que esta operação é apurada em outro inquérito, o 1.190, cujo relator é o ministro Felix Fischer.
Graças ao amplo apoio dos jornais, sites e emissoras de televisão, as denúncias contra o tucano não tiveram repercussão no primeiro turno.
O tucano soube usar o apoio do prefeito da Capital, Marquinhos Trad (PSD), que foi assíduo no horário eleitoral.
Por outro lado, o juiz Odilon sofreu com baixas inesperadas, como a desistência do pecuarista Chico Maia, primeira opção para o Senado do Podemos, e do senador Pedro Chaves (PRB), que chegou a declarar apoio ao tucano.
O magistrado se envolveu em polêmica desnecessária, como a manifestação sobre a ditadura militar. Outro problema foi o péssimo desempenho no segundo debate do Midiamax, no qual se atrapalhou e confundiu uma das perguntas.
Outro problema é o marketing do pedetista, que passou toda a primeira fase da campanha sem contar sua história. As sentenças do magistrado contra narcotraficantes praticamente foram ignoradas durante toda a campanha.
Odilon tem o ponto alto na própria história, já que começou a frequentar a escola aos 16 anos, quando deixou a roça, e, por méritos próprios, conseguiu ser aprovado em concursos de procurador e de juiz federal.
A escolha do candidato a vice-governador, o bispo douradense Marcos Vitor, da igreja evangélica Sara Nossa Terra, foi um acerto. Em Dourados, terra também do candidato a vice-governador Murilo Zauith (DEM) na chapa de Reinaldo, Odilon ganhou de 42,70% a 40,36%.
No entanto, faltou expor mais o vice para reduzir a rejeição entre os evangélicos, que foram bombardeados com fakenews contra o magistrado durante a campanha eleitoral.
O juiz conseguiu minimizar o impacto das acusações do ex-chefe de gabinete Jedeão de Oliveira, que teve a delação premiada recusada pelo MPF. No entanto, jornais aproveitaram a denúncia para desgastar Odilon e repetiram a exaustão as acusações contra o candidato.
Na reta final, Odilon contou com a sorte para chegar ao segundo turno: o crescimento dos candidatos Junior Mochi (MDB) e Humberto Amaducci (PT). O emedebista teve 11,61% dos votos, enquanto as pesquisas não arriscavam mais de 7%. O petista teve 10,26%, o dobro do previsto em todas as pesquisas.
Resultado final |
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Reinaldo Azambuja | 576.993 |
Juiz Odilon de Oliveira | 408.969 |
Junior Mochi | 150.115 |
Humberto Amaducci | 132.638 |
Marcelo Bluma | 16.544 |
João Alfredo | 8.095 |
Reiniciando a campanha com a totalização dos votos, a articulação política de Odilon e o marketing mais ofensivo pode ser fundamental. O candidato poderá apostar na frente partidária contra a corrupção, para contar com o apoio dos eleitores de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT).
Reinaldo já tinha antecipado o apoio a Bolsonaro no primeiro turno e poderá tentar o apoio de Mochi, de quem foi aliado até março deste ano.
No entanto, a vitória da advogada Soraya Thronicke (PSL) ao Senado, sem aliança e mega estrutura, mostra que o eleitor está cansado de conchavos. Vai vencer o candidato que se mostrar mais coerente, objetivo nas propostas e combativo contra a corrupção.
Na eleição não basta ter boas intenções, é preciso convencer o eleitor de que, com sua história política, de vida e atuação ao longo dos anos, fez prevalecer os princípios.
Curiosidades da eleição
Balanço
Reinaldo ganhou em 66 cidades, inclusive nos três maiores colégios eleitorais: Campo Grande (44,31% a 33,52% de Odilon), Corumbá e Ponta Porã. Em Maracaju, que administrou por dois mandatos, 58,98% a 26,09% do pedetista
Maior índice do tucano
Reinaldo obteve 74,19% em Taquarussu, contra 10,27% do juiz Odilon
Pior desempenho de Reinaldo
A situação foi pior para o governador em Coxim, terra de Júnior Mochi. O emedebista teve 53,01% dos votos e juiz Odilon, 22,95%. Reinaldo ficou em 3º lugar e somente com 15,34%
Balanço do PDT
Juiz Odilon ganhou em cinco municípios, incluindo a segunda e a terceira maior cidade do Estado, Dourados e Três Lagoas.
Maior percentual do pedetista
O maior índice de Odilon foi registrado em Três Lagoas, com 52,42%, contra 29,64%. Se dependesse dos treslagoenses, ele seria eleito n primeiro turno
Empate
Reinaldo e juiz Odilon empataram em Novo Horizonte do Sul, com 37,41% a 37,01%, com ligeira vantagem do tucano. A diferença foi menor nos municípios de Ivinhema, Deodápolis e Nova Andradina
Maior vitória de Mochi
Vencedor em sete cidades, o candidato do MDB obteve o maior percentual em Costa Rica, onde ficou com 53,15%, contra 21,74% de Reinaldo
Onde o PT foi bem
Humberto Amaducci venceu em Mundo Novo, cidade que comandou três vezes e alcançou 35,67%. Ele foi bem votado nos municípios próximos, como Eldorado e Itaquiraí.
PSOL foi melhor
João Alfredo não venceu, mas ficou em segundo lugar em Ribas do Rio Pardo, onde conquistou 29,06% dos votos, contra 38,5% do tucano