Investigada na Operação Antivírus, que causou a queda da cúpula do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), a Digix doou R$ 865 mil na reta final das eleições de 2014 para a Produtora CasaBrasil, responsável pela campanha vitoriosa do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), segundo o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).
A produtora foi um dos 29 locais que a Justiça autorizou o cumprimento dos mandados de busca e apreensão na terça-feira (29). O foco da investigação é a Pirâmide Central Informática, que recebeu investimento de R$ 2 milhões da Digix para ampliar o capital social de R$ 5 mil para R$ 500 mil um mês antes de ganhar, sem licitação, o contrato de R$ 7,4 milhões do órgão de trânsito.
Graças à quebra do sigilo bancário da Digix, nome comercial adotado no ano passado pela DigithoBrasil, os promotores descobriram os repasses frequentes para o ex-deputado estadual Ary Rigo (PSDB), que seria sócio oculto da empresa. O ex-deputado admite que fez lobby junto à prefeitura neste ano, mas nega que seja um dos donos.
Na operação, o juiz Mário José Esbalqueiro Júnior, da 2ª Vara de Execução Penal de Campo Grande, determinou a prisão preventiva e temporária de 12 pessoas, entre as quais, o sócio da Digix, Jonas Schimidt das Neves, e dos sócios da Pirâmide, José do Patrocínio Filho, Anderson da Silva Campos e Fernando Roger Daga. O Tribunal de Justiça concedeu habeas corpus aos 12.
Os promotores suspeitam que os donos ocultos da Pirâmide sejam a Digix e Luiz Alberto de Oliveira Azevedo, técnico da Secretaria Estadual de Fazenda e ex-assessor da Secretaria Estadual de Governo (ele se demitiu após ser preso na operação). A companhia de informática pelo repentino repasse de R$ 2 milhões antes do Detran contratar a Pirâmide sem licitação. Já o servidor aparece em gravações acertando o salário a ser pago pela empresa.
Além disso, a operação descobriu que a Digix repassou R$ 865 mil para a Produtora CasaBrasil entre 8 de agosto e 17 de outubro de 2014, em plena campanha eleitoral.
A M2 Comunicações, nome oficial da produtora, fez a campanha de Reinaldo em 2014, que venceu Delcídio do Amaral no segundo turno.
Para os promotores, é muito estranho a Digix realizar o repasse para a produtora durante as eleições. O pagamento foi considerado atípico e estranho porque não havia relação entre as duas empresas antes. Não houve prestação de serviço pela produtora à empresa de Jonas Schimidt das Neves. O repasse foi descoberto graças à quebra do sigilo bancário entre 1º de janeiro de 2013 e março de 2015.
O objetivo do mandado de busca e apreensão na CasaBrasil teve o objetivo de ampliar a investigação sobre esse repasse.
O Jacaré procurou o governador Reinaldo Azambuja, por meio da assessoria de imprensa, na sexta-feira para falar sobre o repasse, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
A eleição do tucano foi bom negócio para Digix, já que os repasses tiveram aumento de 50%, conforme o Portal da Transparência. Em 2012, ainda na gestão de André Puccinelli (PMDB), a empresa recebeu R$ 40,491 milhões do Estado.
Neste ano, considerando-se o valor empenhado de janeiro até o mês de agosto, já está assegurado o repasse de R$ 60,796 milhões.
No último ano da gestão peemedebista, foram repassados R$ 59,1 milhões. No primeiro ano da administração tucana, o total repassado chegou a R$ 60,367 milhões. Em 2016, foram pagos R$ 69,6 milhões.
A CasaBrasil foi habilitada para prestar serviços ao Governo estadual, segundo a investigação feita pelos promotores. No entanto, apesar da empresa ter produzido vídeos do Governo e ter acompanhado a Caravana da Saúde, não há nenhum repasse para a produtora no Portal da Transparência.
O Governo estadual também não se manifestou sobre a produtora, se presta serviço e por que a contratação não consta do site onde são divulgados os pagamentos feitos a todos os fornecedores do Estado.
Na prestação de contas do tucano à Justiça Eleitoral, não há doação feita pela DigithoBrasil. Oficialmente, Reinaldo arrecadou R$ 25,323 milhões para ser eleito governador em 2014.
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