Jamil Name Filho, 47 anos, apontado pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul, como chefe de milícia armada, em parceria com o pai, Jamil Name, morto em junho de 2021, aos 82 anos, vítima da Covid-19, teria planejado mandar matar Marcel Costa Hernandes Colombo, 31, o conhecido ‘Playboy da Mansão’, dentro de um presídio, em dezembro de 2017. O macabro propósito deu errado, por motivo ainda desconhecido. Mas foi posto em prática em outubro do ano seguinte, em 2018.
Informação em questão foi recordada na manhã desta segunda-feira (16) no depoimento do delegado da Polícia Civil, Tiago Macedo dos Santos, integrante da força-tarefa que investigou o crime e a milícia dos Name.
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Jamilzinho e três acusados pelo crime são julgados pelo assassinato a partir de hoje.
Jamilzinho Name, conforme investigações do MPE, mandou matar Colombo por força de uma desavença entre os dois, em 2016, numa boate situada na Avenida Afonso Pena, em Campo Grande. Os dois trocaram insultos e Jamilzinho levou a pior. Playboy deu-lhe um soco no rosto, golpe que provocou sangramento no nariz do rival.
Daí em diante, a vingança teria sido articulada, com nuances comparáveis ao filme o Poderoso Chefão, constelado pelos famosos Marlon Brando e Al Pacino.
Até a execução de Colombo, Jamilzinho recorreu a parceiros dele ligados ao crime, como guardas municipais, polícia federal e pistoleiros.
Além de Jamilzinho, são julgados Marcelo Rios, Rafael Antunes Vieira, ex-guardas metropolitanos de Campo Grande e o policial federal Everaldo Monteiro de Assis.
O delegado Tiago, ouvido no Tribunal do Júri na condição de testemunha disse que os investigadores souberam da intenção de Jamilzinho, o de matar Playboy, a partir do depoimento de uma tia da vítima, logo depois do crime.
Depoimento a companheira de Marcelo Rios, o ex-guarda municipal, réu no processo, também contribuiu com a apuração do assassinato. Eliane Batalha narrou ter ficado sabendo que o desfecho da briga de Jamilzinho e Playboy da Mansão “não passaria em branco”.
Daí Playboy da Mansão, já sabendo que era jurado de morte, teria sido aconselhado a deixar a cidade “por um tempo”. E isso ocorreu. Marcel Colombo foi embora para Cuiabá, a capital de Mato Grosso, cidade distante 700 quilômetros de Campo Grande.
No entanto, ele logo retornou. Ainda segundo depoimento do delegado Tiago, Colombo, por duas ocasiões, uma num bar no centro de Campo Grande e outra indo até a casa de Jamilzinho, os dois se encontraram. Nos encontros, Colombo teria implorado pelo perdão do acusado.
Playboy da Mansão teria tentado pedir desculpas a Jamilzinho pelo entrevero na boate, mas sem sucesso. No bar, ainda segundo disse o delegado no depoimento desta segunda-feira, depois de ouvir o apelo de Colombo, Jamilzinho o teria despachado respondendo-lhe: “vai seguir a sua vida”.
De novo, Colombo quis o perdão de Jamilzinho indo até a casa do acusado, mas a conversa não avançou.
Também conforme o depoimento do delegado, Jamilzinho teria ordenado seu comparsa Marcelo Rios a determinar a morte de Colombo ainda na prisão. O rapaz tinha sido capturado em dezembro de 2017 por crime ligado a descaminho, que é o desvio de mercadoria para não serem tributadas.
Pela proposta, Rios ganharia R$ 50 mil caso o plano fosse efetivado. Os investigadores souberam da trama por meio de depoimento da companheira do ex-guarda municipal. A razão de Rios não ter levado avante o recado de Jamilzinho ainda não se sabe.
Pelo apurado até agora, foi Juanil Miranda Lima, pistoleiro, quem matou Colombo. No dia do crime ele guiava uma motocicleta. Num bar na Avenida Fernando Corrêa da Costa, o matador desceu andou até uma mesa onde Colombo conversava com amigos e disparou tiros. O rapaz morreu ali.
Juanil sumiu e a polícia não tem notícia do paradeiro dele. A arma do crime, supostamente uma pistola, nunca foi apreendida.
O julgamento, segundo cálculos da justiça, deve terminar na quinta-feira (19), mas pode ser estendido até a sexta (20).
Playboy da Mansão ganhou este apelido porque promovia festas aos fins de semana e, quando detido, mostrou dinheiro, cédulas de dólares, entre os quais a um cinegrafista que captava sua imagem. Ele disse que logo sairia deixando a entender que ele tinha poder para conquistar logo a liberdade.
Na metade do ano passado Marcelo Rios e Jamilzinho foram condenados a 23 anos de prisão pela morte de um estudante de Direito, em Campo Grande.
Jamilzinho cumpre a prisão em presídio federal, em Mossoró, no Rio Grande do Norte, junto com Marcelo Rios. Ele não quis vir para o julgamento. Participa da sessão por meio de videoconferência.
Delegado chora
No depoimento do delegado Tiago Macedo dos Santos, ocorreu uma pausa. O policial, ao narrar que assim que soube da intenção da milícia de Jamilzinho, que seria o de matar os policiais que o investigava, ficou em silêncio, depois chorou. Recordou que o filho tinha um ano de idade.
A informação de que as autoridades seriam alvos da milícia chegou aos investigadores por meio de um bilhete escrito por um interno que não mora em Mato Grosso do Sul, numa cela de presídio, no Rio Grande do Norte.
O texto foi registrado num papel higiênico. O encarcerado, depois de ouvir as conversas das ameaças, disparadas por outros detentos, entregou o escrito a uma agente penal que acionou as autoridades de MS.