Campo Grande se tornou refém do Consórcio Guaicurus, formado por quatro empresas da família Constantino. Após se livrar de uma CPI na Câmara dos Vereadores e ganhar subsídio de R$ 12 milhões por ano, o grupo vai usar a greve dos motoristas de ônibus – a primeira em 28 anos e que deixou cerca de 160 mil passageiros a pé nesta terça-feira (21) – para elevar a pressão sobre a prefeitura pelo aumento na tarifa do transporte coletivo.
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A paralisação era previsível com o alerta divulgado pelo grupo ontem, de que houve “esgotamento de recursos financeiros” e não pagaria o vale dos trabalhadores (40% do valor). Sem salário, os motoristas de ônibus cruzaram os braços e os veículos não saíram da garagem na manhã de hoje.
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A greve ganha perspectiva de ser longa, já que o próprio consórcio dispensou os funcionários. Ao contrário de outras paralisações, quando os motoristas ficavam na frente da garagem, a atual é marcada pela ausência de funcionários nas empresas. Conforme relatos dos sites da Capital, os motoristas foram dispensados e voltaram para casa.
Sem aviso e surpreendidos pela paralisação, o campo-grandense chegou a esperar por horas no ponto de ônibus. Quem tentou recorrer aos motoristas aplicativos foi surpreendido pelo valor, resultado do excesso de demanda. Em alguns casos, o valor triplicou. Houve motorista pagando R$ 72 pela corrida que custava R$ 30.
Em fevereiro deste ano, a prefeitura negociou com o Consórcio Guaicurus o perdão das dívidas atrasadas e negociou o subsídio de R$ 12 milhões por ano. A medida fazia parte da estratégia para minimizar a crise enfrentada pelo grupo em decorrência da covid-19 e do aumento no custo do óleo diesel. O preço do combustível mais que dobrou desde a posse do presidente Jair Bolsonaro (PL).
“A prefeitura tem feito das tripas coração. Fizemos o reajuste contratual no começo do ano. Fizemos algumas alterações técnicas para fortalecer o sistema. Começamos a pagar as gratuidades. Isso dá quase R$ 1 milhão. Com esse aumento do diesel desequilibrou tudo”, queixou-se o presidente da Agência Municipal de Regulação, Odilon de Oliveira Júnior, surpreendido pela paralisação.
Desde o ano passado, o Consórcio Guaicurus pressiona o município por novo aumento na tarifa de ônibus. O grupo não se conforma com a limitação do aumento em 5% pelo então perfeito Marquinhos Trad (PSD). O valor da passagem do ônibus urbano subiu de R$ 4,20 para R$ 4,40.
As empresas queriam reajuste de 21,93% em dezembro do ano passado, o que elevaria a tarifa para R$ 5,12 na Capital. Com os novos reajustes do diesel neste ano, o preço deve subir muito mais, apesar de ficar devendo em conforto, qualidade e pontualidade. O serviço de transporte coletivo de Campo Grande é precário e péssimo.
Nem os vereadores da Capital servem para ajudar a população no atual momento. Em agosto do ano passado, 13 vereadores assinaram a proposta para criar a CPI do Consórcio Guaicurus. No entanto, o presidente da Câmara, Carlos Augusto Borges, o Carlão (PSB), vetou a investigação em uma canetada e nenhum, pasmem, nenhum vereador foi capaz de questionar a decisão do socialista. Um dos vilões da greve é Carlão.
O que mais falta acontecer para que os vereadores de Campo Grande ouçam o clamor do povo e sejam uteis, pelo menos, uma vez na vida?