As autoridades sanitárias dos países envolvidos na prevenção às infecções causadas pelo coronavírus não escondem a apreensão em relação aos dados registrados na Itália. Até terça-feira (24), a Covid-19 matou 18.295 pessoas, a maioria na Itália (6.820). Também são elevados dos números na Espanha (2.804), Irã (1.934) e França (1.100). Em todos esses países, as infecções levaram apenas duas semanas para ultrapassar os dois dígitos, levando o mundo a 411.242 casos identificados. Os questionamentos, contudo, estão na letalidade das contaminações porque, a despeito do elevado número de infeções, há países com baixos índices de mortes.
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Para essa diferença entre a taxa de infeções e a quantidade de vítimas fatais da covid-19 são apontadas teorias que vão da conspiração à falta de obediência da população ao isolamento social. Em entrevista para a agência RIA Novosti, o órgão oficial de comunicação da Rússia, o chefe da comissão de especialistas do Comitê Estadual de Saúde da República Popular da China Zhong Nanshan alerta que o isolamento social é imprescindível.
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Foi assim, explicou o sanitarista, que a situação na China foi controlada. Desde que foi descoberta, em 29 de dezembro de 2019, esta terça-feira, a covid-19 matou 3.277 pacientes na China, onde foram identificados 81.171 doentes. Há duas semanas não são registrados casos de transmissão comunitária. Para os viajantes que chegam ao território chinês é aplicada quarentena compulsória.
A quarentena e o quase completo isolamento social também constam das explicações para a evolução das infecções de covid-19 na Alemanha, onde foram registrados 32.781 casos e 155 mortes. Na Deutsch Welle, órgão oficial de comunicação do governo germânico, a explicação está na dureza das medidas impostas para isolamento e na ampla oferta de leitos, condição não vivida pelos vizinhos europeus.
Se o isolamento é a explicação inicial para a redução das contaminações, o que explicaria a quantidade de mortes na Itália e Espanha? Nanshan, explica que isolar a população não é a única medida para barrar as infecções. O sucesso da China, destaca, foi da ampla verificação dos contatos estabelecidos pelas pessoas infectadas porque uma pessoa pode transmitir o vírus mesmo antes de manifestar os sintomas de pneumonia típicos da covid-19.
Os números da pandemia no mundo
País | Casos |
China | 81.171 |
Itália | 69.176 |
Estados Unidos | 53.794 |
Espanha | 39.885 |
Alemanha | 32.986 |
Irã | 24.811 |
França | 22.304 |
Há uma semana, a OMS (Organização Mundial de Saúde) bate na mesma tecla e aconselha as autoridades sanitárias a testar todos, mesmo quem está assintomático. No caso dos países europeus, apenas quem já havia manifestado sintomas foi testado. Foi assim na Itália, na Espanha e permanece assim em Portugal.
A Lusa, agência de notícias portuguesa destacou nesta terça-feira entrevista com o primeiro ministro António Costa, que aponta ser “impossível testar 10 milhões portugueses”. Equipamentos de teste foram disponibilizados no Porto, mas somente pacientes destinados pelas unidades de saúde têm acesso aos kits.
À RIA Novost, Nansha aponta o risco da conduta. “Eu não concordo com a abordagem de países individuais quando eles fazem testes apenas de pacientes, para que você possa perder casos latentes de infecção. Para todos os visitantes do exterior, é necessário fazer testes para ácidos nucléicos e é melhor tirar amostras do nariz, não da nasofaringe”, diz Zhong Nanshan.
Como a doença é causada por um patógeno ainda em processo de conhecimento, faltam evidências sobre a imunização de quem foi curado da pneumonia provocada pela covid-19.
A medida para evitar a transmissão, considerando a falta de vacina, é reforçar o trabalho não farmacológico, como insiste a RIA Novorst Lia Wannian, do Comitê Estadual da República Popular da China. “Na China, foram utilizadas medidas não farmacológicas de caráter público, a saber: isolamento, supervisão médica, contatos limitadores e equipamentos de proteção individual. Isso nos permitiu conter a propagação da infecção e reverter o aumento da taxa de incidência. É isso que devemos fazer em outros países. E quanto antes, melhor”, pontuou.
No Brasil, apesar dos esforços para conter a epidemia, ainda não há registros de medidas semelhantes às aplicadas pela China. Naquele país, os territórios foram fechados de maneira isolada e somente moradores tinham autorização de entrada. Isso ocorreu mesmo nos bairros e alojamentos residenciais. Foram ainda implantadas triagem e desinfecção de ruas, do lixo doméstico e hospitalar.
Monitores de temperatura estavam disponíveis em zonas controladas, mas de passagem essencial, como para supermercados e farmácias. Para as empresas onde não foi possível manter o trabalho a partir de casa, também foi implantado o protocolo de aferir diariamente a temperatura dos empregados. O transporte coletivo foi mantido, mas o fluxo de passageiros limitado. Veículos do transporte coletivo, túneis e estações de metrô foram desinfetados várias vezes ao dia.
Outra preocupação que pautou o trabalho chinês foi centrada na proteção dos trabalhadores da saúde. Em Wuhan, em princípio, não houve reforço nos equipamentos de proteção individual e 3 mil médicos foram infectados. “Os médicos devem se proteger o máximo possível e só então lidar com a salvação de outras pessoas”, enfatiza Zhong Nanshan.