O empresário Luciano Potrich Dolzan contou, em depoimento na audiência de instrução e julgamento na 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, a saga espetacular de como ficou milionário. Genro do empresário João Amorim, ele tinha renda anual de R$ 18 mil a R$ 20 mil, entre 2006 e 2009, até adquirir a LD Construções e passar a exibir patrimônio de R$ 39,2 milhões em 2011. Ainda conseguiu emprestar R$ 18,3 milhões à esposa entre 2011 e 2014.
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Após se tornar milionário, ele se uniu à Financial Construtora para formar o consórcio CG Solurb e ganhar a licitação bilionária da coleta de lixo de Campo Grande, realizada no último ano da gestão do tio, o então prefeito da Capital, Nelsinho Trad (PSD). O atual senador foi casado com a ex-deputada Antonieta Amorim (MDB), que é irmã de João Amorim e tia de Ana Paula, mulher de Luciano.
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O empresário foi interrogado na quinta-feira (21) pelo juiz David de Oliveira Gomes Filho, da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos. O Ministério Público Estadual denunciou o pagamento de propina de R$ 29,245 milhões a Nelsinho para favorecer a Solurb. Este dinheiro teria sido usado para comprar a Fazenda Papagaio.
O objetivo da ação é anular o contrato com a Solurb, que deverá render ao grupo R$ 2,1 bilhões em 25 anos, e obrigar a prefeitura a realizar nova licitação. Além de condenar os empresários a pagar R$ 100 milhões aos cofres públicos.
A principal dúvida do magistrado foi como o empresário conseguiu acumular uma fortuna em tão pouco tempo. Entre 2006 e 2009, conforme as declarações do Imposto de Renda, ele tinha renda de R$ 18 mil a R$ 20 mil como administrador da agência de publicidade da irmã. Em 2010, Luciano Dolzan adquiriu a Socenge Construções por R$ 1,5 milhão e assumiu de R$ 2,5 milhões a R$ 3 milhões em dívidas. A única ajuda de fora, na ocasião, foi doação de R$ 700 mil da irmã.
Luciano contou que assumiu a construtora quando o dono estava doente e acabou falecendo dois anos depois. Mesmo sem lastro patrimonial ou financeiro, ele contou que renegociou dívidas e acabou sendo beneficiado pelos contratos que a empresa tinha com a prefeitura, de onde vinha 80% do faturamento.
A ousadia nos negócios continuou em 2011, quando começou a preparar a empresa para participar da licitação da coleta do lixo. Ele contratou o contador Olímpio Teixeira, que teria ajudado na elaboração do edital de licitação do lixo, para fazer auditoria e definir o patrimônio da LD Construções. O levantamento acabou elevando o patrimônio da empresa de R$ 6,5 milhões para R$ 39,2 milhões entre fevereiro e outubro de 2011.
Luciano Potrich explicou que se juntou à Financial para formar o consórcio porque a empresa era responsável pela coleta e a LD tinha contratos de varrição de ruas. Ele não participou da licitação nem soube dar detalhes para rebater as suspeitas de direcionamento para favorecer a Solurb.
Antes mesmo de participar da licitação, o jovem empreendedor de sucesso conseguiu retomar o sonho que tinha quando morava em Maracaju: ser produtor rural. Então, em 2011, ele fez o primeiro empréstimo, de R$ 2,8 milhões, à esposa Ana Paula para que ela fizesse investimentos em imóveis rurais.
Em depoimento ao magistrado, ele contou que emprestou R$ 18,3 milhões à mulher entre 2011 e 2014. Como houve polêmica envolvendo a compra da Fazenda Papagaio, ele acabou perguntando e descobriu que Ana Paula destinou R$ 2,8 milhões para a aquisição da polêmica propriedade.
De acordo com a Polícia Federal, a fazenda foi comprada com dinheiro de propina, que saiu dos cofres do município de Campo Grande. Os policiais garantem ter rastreado o dinheiro, que saiu da prefeitura, passou pela conta da Solurb, de Luciano e de Ana Paula, até chegar em Antonieta Amorim, que era casada com Nelsinho.
Luciano afirmou que não sabe se a esposa fez algum empréstimo para a tia na época. “Não sei o que ela fez com o dinheiro”, garantiu, sobre o destino dos R$ 18,3 milhões.
O empresário negou que João Amorim seja sócio oculto da LD Construções. Para explicar a utilização do pátio e equipamentos da Proteco pela LD Construções, como apontou a PF, ele disse que perdeu o imóvel em 2015 e acabou alugando um anexo na construtora do sogro. Somente nesta ocasião, para otimizar os custos, eles acabaram usando o mesmo espaço.
Até mesmo na compra de R$ 4,6 milhões em imóveis e equipamentos da Proteco, de acordo com Luciano, não houve qualquer ajuda do sogro. Amorim confirmou a versão do genro, ao garantir que tudo foi negociado a preço de mercado.
Sobre a suspeita das ligações familiares terem lhe favorecido na licitação do lixo, Luciano afirmou que não tinha convívio social com o tio da esposa, o senador Nelsinho Trad.
Ana Paula não recebeu empréstimo apenas do marido. Em depoimento à Justiça, João Amorim contou que emprestou mais de R$ 50 milhões à filha. Ele contou que regularizou a situação junto à Receita Federal e vem pagando os impostos.
O dono da Proteco garantiu que esta operação foi a forma encontrada para garantir o futuro das três filhas. Ele considerou o empréstimo melhor do que doação.
O julgamento contou com os depoimentos de outros dois réus, Antônio Fernando de Araújo Garcia, dono da Financial e Solurb, e da ex-deputada Antonieta Amorim. A audiência será retomada na terça-feira (26) com as testemunhas de acusação.