A morte de um menino de cinco anos expõe as falhas, de novo, não só no combate ao mosquito, como no atendimento às vítimas da dengue em Campo Grande. O pior é que a cidade não está preparada para enfrentar a nova epidemia, já que dois dos três maiores hospitais estão superlotados, sem medicamentos e insumos para receber os pacientes.
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Depois do alívio de ficar dois anos livre da doença, o campo-grandense vai ser obrigado a apelar para a fé e ao milagre para não ser picado pelo mosquito, porque a rede pública, mais preparada para enfrentar a doença, está em colapso.
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A situação é tão grave que o prefeito Marquinhos Trad (PSD) reconheceu a epidemia e já decretou situação de emergência nesta segunda-feira (25). Foram notificados 6.027 casos até ontem, o dobro do registrado em 12 meses do ano passado (2.847) e em 2017 (3.292).
Sem mortes nos últimos dois anos, a Secretaria Municipal de Saúde já investiga dois óbitos neste ano, de um idoso de 74 anos e uma criança de cinco anos.
A história de Sidney dos Reis Nantes, 5 anos, é revoltante e comovente. O garoto apresentou os sintomas na quinta-feira (21) e foi encaminhado à Unidade de Pronto Atendimento do Bairro Universitário, conforme relato da tia, Camila Lima de Arruda, 28 anos, ao jornal Midiamax.
O menino fez exames e foi liberado. No dia seguinte, o posto de saúde perdeu o exame do garoto. Somente no sábado, 48 horas depois de ser encaminhado à UPA, o menino foi diagnosticado com dengue hemorrágica e encaminhado para internação.
Só que não havia leito disponível na rede hospitalar de Campo Grande. Sidney só foi encaminhado no início da noite de domingo ao Hospital Universitário, onde teve cinco paradas cardíacas.
“A gente ainda acredita em um milagre, porque no caso dele, só isso mesmo. A negligência do SUS com meu sobrinho foi demais. Se tivessem diagnosticado e internado ele antes, ele estaria bem”, relatou a tia ao site. Minutos depois da entrevista, após o garoto sofrer mais oito paradas, ele não resistiu e morreu.
Não é a única criança com os sintomas do tipo mais grave da doença internada em Campo Grande. O município enfrenta epidemia do tipo 2, o que ataca mais crianças e idosos, e já foi registrada nos anos de 2009 e 2010.
A Secretaria Estadual de Saúde já reconhece a epidemia da doença em dez cidades de Mato Grosso do Sul e risco alto em mais 15. Famílias e foliões dispostos a viajar no Carnaval devem reforçar a mala com repelentes.
Na Capital, o índice de infestação do pernilongo está em 2%, o dobro do recomendável pelo Ministério da Saúde, e chega a 7,3% em alguns bairros, como Universitário e Alves Pereira, na saída para São Paulo.
O discurso do prefeito não difere dos antecessores que já enfrentaram epidemia, como André Puccinelli (MDB), Nelsinho Trad (PSD) e Alcides Bernal (PP): de que os focos estão dentro das casas. Isso é verdade e os moradores devem eliminar todos as vasilhas e locais com água parada.
No entanto, é fato também, que o ciclo da epidemia se repete e ainda não apareceu um prefeito com capacidade para livrar a Capital de uma nova tragédia. Até quando a incompetência vai continuar causando mortes?
O atual ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, era secretário municipal da Capital quando houve epidemia semelhante, causada pelo vírus tipo 2.
Geraldo Resende, secretário estadual de Saúde, admitiu que falta remédio no HR, o que todo mundo já sabia.
Oremos!