O corretor de gado José Ricardo Guitti Guímaro, o Polaco, passou mal na primeira noite na cela da Polícia Federal em Brasília, onde se apresentou na tarde desta segunda-feira. Com a prisão temporária decretada pelo ministro Félix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça, ele propôs, em abril deste ano, fazer delação premiada contra o governador Reinaldo Azambuja (PSDB), candidato à reeleição e acusado de integrar organização criminosa que causou R$ 209,7 milhões aos cofres estaduais em dois anos.
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Em maio do ano passado, Polaco ganhou fama nacional ao ser exibido no Fantástico, da TV Globo, recebendo R$ 30 mil em propina paga pelo empresário José Albert Miri Berger ao ex-chefe da Casa Civil, Sérgio de Paula. O dinheiro era para o Governo manter os incentivos fiscais para o curtume Braz Peli.
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No início de dezembro deste ano, Polaco voltou aos holofotes com a história do roubo da propina. Conforme o aposentado Luiz Carlos Vareiro, 61 anos, suposto “laranja” na Ciacom, ele foi contratado por Rodrigo Souza e Silva, filho do governador, para roubar R$ 270 mil em propina destinada ao corretor de gado.
Agora, conforme o despacho de Fischer, o plano não era só recuperar a propina, como matar Polaco para evitar a delação premiada. O corretor foi um dos 14 que teve a prisão temporária decretada pelo ministro na Operação Vostok.
De acordo com o advogado José Roberto Rodrigues da Rosa, Polaco tem diabete e pressão arterial. A tensão nos últimos causaram crises e causaram a internação do seu cliente em quatro oportunidades.
Na noite de ontem, na sede da PF em Brasília, conforme o advogado, Polaco teve nova crise de diabetes. “O diabete dele passou de 400”, contou. No entanto, ele foi medicado, apresentou melhora e conseguiu dormir sem a necessidade de ser encaminhado ao hospital.
Polaco deve prestar o primeiro depoimento a partir das 16h desta terça-feira. No entanto, o advogado ainda não chegou à capital federal.
Sobre a proposta de delação, o advogado explicou que ainda não conversou com o cliente se manterá a proposta. Ele teria desistido porque houve demora da Procuradoria Geral da República em responder sobre o acordo proposto.
Em carta encaminhada em abril deste ano, Rosa informava que Polaco revelaria valores da propina paga ao governador Reinaldo Azambuja, desvios de valores para pagamento de campanha e meios da lavagem de capitais.
Para comprovar o suposto envolvimento do tucano, o corretor pretendia apresentar notas fiscais, documentos, bilhetes manuscritos e cheques que indicariam com segurança a participação do chefe do Poder Executivo e de um dos seus filhos no suposto esquema criminoso. O filho de Reinaldo, Rodrigo foi um presos pela Polícia Federal na Operação Vostok.
No entanto, Polaco e a família acabaram desistindo a delação premiada e decidiram mudar para outro Estado. De acordo com a PF, ele estava residindo em Trairão, no interior do Pará, a mais de 2,2 mil quilômetros de Aquidauana.
Como havia pedido proteção, o advogado não sabe se o motivo da mudança foi medo ou porque simplesmente desistiu de fazer a delação premiada, esquecer o rumoroso caso em decorrência dos problemas de saúde.
Contratado no início do ano para encaminhar a colaboração premiada, José Roberto ainda não sabe se o cliente vai manter a proposta de colaborar com as autoridades ou permanecerá em silêncio no interrogatório previsto para hoje.
O depoimento de Polaco pode complicar ainda mais a situação de Reinaldo. No despacho, Felix Fischer aponta que a quebra de sigilo apontou movimentações suspeitas de R$ 40 milhões nas contas do tucano, enquanto outros R$ 11 milhões nas de Rodrigo. Laudo teria apontado que as notas emitidas seriam falsas.
Em périplo pelos jornais e emissoras de televisão, o governador Reinaldo Azambuja classificou as denúncias como calúnias de criminosos e picaretas. Ele rechaça ter recebido qualquer propina em troca de incentivos fiscais.
No início do ano, o filho do governador denunciou o promotor Marcos Alex Vera de Oliveira na corregedoria do MPE. No entanto, o caso acabou arquivado.
Reinaldo anunciou ainda que fará representação no Conselho Nacional do Ministério Público contra o vazamento da operação para a imprensa. Em campanha pela reeleição, onde cobra explicações dos adversários, o tucano tem ressaltado que é vítima da velha política.