Acostumados a condenar e até comemorar os adversários com base nas operações da Polícia Federal, o MDB e os aliados experimentam o “próprio veneno”. Abalados com a prisão do ex-governador André Puccinelli, pré-candidato a governador, a cúpula ignorou as provas de pagamento de propina e lavagem de dinheiro e decidiu partir para o ataque. Em vídeo divulgado nas redes sociais, o partido suspeita de alguém “poderoso” – com poderes quase divinos – na orquestração para derrubar a principal liderança da sigla.
[adrotate group=”3″]
Conforme a tese propagada entre os fãs do ex-governador, alguém calculou milimetricamente o dia da prisão, resultado de oito meses de investigação da Polícia Federal, de análise de dois procuradores da República e do juiz federal Bruno Cezar da Cunha Teixeira, titular da 3ª Vara Federal de Campo Grande.
Veja mais:
Filho de André locou quitinete no Indubrasil para ocultar provas, conclui PF
André tinha “poupança das propinas” e ignorou fases da Lama Asfáltica, diz juiz
MPF usou novas provas e decisão do STF para pedir prisão de 10, mas juiz decretou só de três
Justiça determina e PF prende, pela 2ª vez, André Puccinelli e filho
Todo o trabalho, conforme a tese emedebista, foi calculado para que o ex-governador, o filho, o advogado André Puccinelli Júnior, e o “dono” do Instituto Ícone, João Paulo Calves, fossem presos na véspera da convenção. Só que a convenção do MDB foi adiada no início do mês para o dia 4 de agosto.
Em 14 de novembro, quando foi preso pela primeira vez, por determinação do juiz federal Ney Gustavo Paes de Andrade, com base a delação do empresário Ivanildo da Cunha Miranda, homologada em agosto, a prisão ocorreu a quatro dias de André assumir o comando do MDB e oficializar a intenção de disputar o Governo pela primeira vez.
Conforme a tese do MDB, o “poderoso” previu que nesta sexta-feira o Instituto Ranking publicaria pesquisa colocando André na liderança, com Reinaldo Azambuja (PSDB) em segundo e o juiz federal Odilon de Oliveira (PDT) em terceiro.
Reinaldo “profetizou” surpresa em julho
Há quatro meses, o governador Reinaldo Azambuja profetizou surpresa nas eleições deste ano. Na ocasião, o tucano até especificou a data do acontecimento que mudaria o quadro eleitoral: em junho ou julho.
Na ocasião, o governador previu que os acontecimentos acabariam unindo o MDB e o PSDB na sucessão estadual.
Confira a matéria aqui.
Outra coincidência, de acordo com a teoria da conspiração para amenizar os efeitos devastadores da prisão, o ministro Alexandre de Moraes teria previsto a prisão no dia anterior, conforme nota do site TopMídiaNews. A publicação não passava de boato de que prisões no fim de julho mudariam a sucessão estadual.
Tucano, com carreira nos governos do PSDB paulista e indicado para o Supremo Tribunal Federal pelo presidente Michel Temer (MDB), amigo de Puccinelli de longa data, Alexandre de Moraes não fez anuncio nenhum. Tanto que não foi o responsável pela prisão.
Outra “pista” para o golpe seria a viagem de um dos pré-candidatos a Brasília. Odilon foi ao Distrito Federal participar do lançamento da candidatura de Ciro Gomes (PDT), como candidato a presidente da República.
Moka, que vai tentar a reeleição e é um dos principais defensores de Temer, acusou o golpe e comprou a tese. “A única coisa que nos estranha é que da vez passada, nos reunimos para o André anunciar a tomada de posse como presidente do partido e anunciando a candidatura e veio a decisão (de prisão). Agora, a nossa convenção seria dia 21 (hoje) e hoje (ontem) é dia 20, novamente essa coisa (prisão) aconteceu”, afirmou o senador, sem esclarecer que a convenção foi remarcada para o dia 4 de agosto.
Plantão deve manter trio preso no fim de semana
O plantão da Justiça Federal não é favorável ao ex-governador André Puccinelli. Ele e os advogados João Paulo Calves e André Puccinelli Júnior devem passar o fim de semana na cadeia.
Na Justiça Federal em Campo Grande, o plantonista é o juiz Bruno Cezar da Cunha Teixeira, titular da 3ª Vara Federal, que decretou a prisão do trio.
No Tribunal Regional Federal da 3ª Região, a plantonista é a desembargadora Lúcia Ursaia.
O relator da Operação Lama Asfáltica, desembargador Paulo Fontes, que já liberou o emedebista no feriado da Proclamação da República, está de folga, conforme o site do TRF3.
O emedebista experimenta o próprio veneno. Ele já defendeu a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que alega ser inocente e vítima de golpe por estar liderando as pesquisas de opinião para presidente da República. “Como cidadão, coerente”, defendeu.
Moka também criticou os aliados de Lula que ingressaram com centenas de pedidos de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça. “Estão brincando com o Judiciário”, escreveu no Twitter na semana passada.
Outro que se viu em apuros com a prisão de mais um aliado foi o ministro Carlos Marun, da Secretaria de Governo. Famoso por defender Eduardo Cunha (MDB), preso e condenado a 14 anos de prisão por corrupção na Operação Lava Jato, ele classificou a prisão de André como “equivocada” e “medida extrema”.
O mais notório político sul-mato-grossense esqueceu o que disse há poucos dias. “O político que não entender que a política mudou vai acabar preso. A política mudou e tinha que mudar. Essas operações já tiveram seus resultados positivos. Penso que devem continuar no âmbito da estrita legalidade”, aconselhou Marun.
O Correio do Estado, que tem entre os sócios um dos principais aliados de André, o pré-candidato a deputado estadual Antônio João Hugo Rodrigues, comprou a teoria da conspiração. “MDB suspeita de golpe eleitoral”, publicou na manchete deste fim de semana.
Antônio João já festejou prisão feita pela Polícia Federal. Em novembro de 2015, quando o então senador Delcídio do Amaral foi preso, ele publicou longo artigo para comemorar o acontecimento. “O tempo é senhor da razão”, escreveu, celebrando pelo ex-petista ter sido preso e ele continuar solto. “O lindão, ex-senador, agora é tão somente mais um presidiário”, celebrou em artigo (veja aqui).
Como tudo na política brasileira, até isso mudou, Delcídio foi absolvido neste caso e tenta retornar às eleições deste ano, pasmem, com o apoio de Antônio João.
Nem uma consideração dos fãs do ex-governador sobre as evidências de integrar organização criminosa, que teria desviado mais de R$ 300 milhões dos cofres públicos.
A Polícia Federal aponta evidências de que ele tentou ocultar provas, continuava recebendo propinas da Águas Guariroba (que pretende elevar a conta de água dos campo-grandenses em até 22% neste ano) e da JBS e usava o dinheiro supostamente desviado para bancar a defesa de presos na Operação Lama Asfáltica.
Agora é preciso encontrar as digitais de alguém com tantos poderes, a ponto de saber a jogada dos adversários e fazer todos os acontecimentos, que dependem de tanta gente, evoluírem para atingirem o ápice em um único dia.
Enquanto o MDB, que já foi acusado de articular a cassação de Alcides Bernal em 2014, acusa o golpe, muita gente começa a ver as digitais da justiça divina nos últimos acontecimentos.
Mas Delcídio, agora aliado de André, é exemplo de que é melhor ir com calma para não cometer injustiça com ninguém.
Preso, ex-governador tem o apoio de nove partidos para disputar Governo
As principais lideranças do MDB anunciaram, em coletiva nesta sexta-feira, que vão manter a pré-candidatura de André Puccinelli a governador do Estado, apesar da prisão preventiva decretada pela Justiça.
O partido descartou lançar o presidente da Assembleia Legislativa, Junior Mochi (MDB), como plano B. Se tivesse liberado para disputar mandato, Delcídio poderia assumir a candidatura. No entanto, o ex-senador ainda nem ingressou no STF para recuperar os direitos políticos.
Acusado de chefiar uma organização criminosa, receber propinas e ocultar provas da PF, Puccinelli segue em alta. O seu nome para disputar a sucessão estadual conta com nove partidos: PHS, PMN, PEN, PSDC, PRTB, PR, PTC, PRP e Avante.
Ele não conta com prestígio apenas entre os políticos. Conforme pesquisa do Ranking, divulgada pelo Jornal de Domingo, o emedebista também é o favorito da população.
O atual cenário é a prova cabal de que a classe política brasileira, mesmo corrupta, é a cara do seu povo. Se quiser mudar, o eleitor vai precisar mudar primeiro.