De segunda-feira (16) que passou à madrugada desta quinta-feira (18), quatro dias, por 37 horas, no mais prolongado julgamento da história do judiciário sul-mato-grossense, o conselho de sentença condenou pela 6ª vez Jamil Name Filho, 47 anos, deve cumprir de prisão, desta vez por contratar pistoleiros, informante, para matar um desafeto que o surrou numa boate, em Campo Grande, em outubro de 2016, perto de oito anos atrás.
Na mais demorada audiência judicial, Jamilzinho foi condenado a 15 anos por ser apontado pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul como mandante do assassinato a tiros de Marcel Hernandes Colombo, o Playboy da Mansão, morto aos 31 anos de idade, sentado num bar situado na Avenida Fernando Corrêa da Costa.
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Também foram condenados por este crime como comparsas de Jamilzinho, o policial federal Everaldo Assis, 65, (condenado a 8,4 anos), o conhecido Jabá, o ex-guarda civil Marcelo Rios (15 anos), 47, outro já sentenciado por homicídio e Rafael Antunes (2,4 anos, em regime aberto), 33, também ex-guarda civil de Campo Grande.
Os advogados dos quatro réus da sessão judicial em questão, oito ao todo, juntos, desprestigiaram as investigações conduzidas pela Polícia Civil e MPE acerca do assassinato de Marcel Colombo.
Para eles, os promotores que agiram na acusação – Moisés Casarotto, Gerson Eduardo Araújo Luciana Amaral e Oldegardo dos Santos – para condenar Jamilzinho, recorreram as investigações da Omertá, operação deflagrada na segunda metade de 2019 que apontou Jamil Name pai e Jamil Name filho como chefes de milícia armada. Os dois foram capturados e levados para presídio federal, no Rio Grande do Norte. Dois anos depois, em 2021, o pai morreu aos 83 anos de idade, vítima da Covid-19.
Os advogados chiaram com os promotores por eles fundamentarem as acusações contra Jamilzinho no caso do assassinato de Colombo com trechos das investigações da Omertá (o mesmo que lei do silêncio, termo que define um código de honra de organizações mafiosas na Itália).
Na reta final do julgamento, Márcio Widal, defensor de Marcelo Rios, pôs num telão instalado na sala do júri, cópias de boletins policiais cujo conteúdo mostrava ocorrências envolvendo brigas motivadas pelo Playboy, em que ele ameaçava desafetos.
Numa dessas aparições, um áudio revela diálogo de Playboy e um certo Marcos. Só aparece a voz de Playboy cobrando dinheiro que havia emprestado e que se não recebesse poderia partir para a briga, inclusive com tiros.
Outros boletins indicam que vítimas do rapaz registraram queixas contra ele por violência física, algumas em bares, inclusive no mesmo que foi assassinado em outubro de 2018.
É dito também por Widal que Playboy tinha históricos de briga na cidade de Dourados e também na prisão, onde ficou por um período por crime de descaminho.
Para um dos advogados de Jamilzinho, Pedro Paulo Sperb Wanderley, investigadores do crime acerca da morte de Playboy deveriam investigar as circunstâncias das brigas envolvendo o rapaz, mas isso não teria ocorrido.
“Por que nessas brigas [apontadas nos boletins policiais] não foi levantado absolutamente nada? Nenhum depoimento, nenhuma diligência, nada sobre outras linhas investigatórias”, disparou o defensor.
Os promotores reagiram e disseram que os defensores não tinham pesquisado bem o processo, pois ali havia provas incontestáveis que ligariam Jamilzinho e os outros réus no assassinato de Playboy.
Choros
No primeiro dia de julgamento duas pessoas ouvidas choraram, uma delas o delegado da Polícia Civil, Tiago Macedo, que agiu na Operação Omertá. Ele parou de falar ao recordar que, durante as investigações, soube que seu nome constava numa lista de pessoas que seriam mortas pela milícia de Jamilzinho.
Advogados de defesa dos denunciados até zombaram das lágrimas do policial e disseram “nunca ter visto” um delegado chorar em depoimento.
Marcedo, antes, havia dito que teve de mudar a rotina, envolvendo, inclusive, a família. O policial e colegas investigadores, quando saíam para a rua ou iam para casa eram transportados em carros blindados.
Outra a chorar foi a ex-mulher de Marcelo Rios, um dos réus. Antes, Eliane Benitez Batalha havia prestado depoimento e revelado situações que implicavam o ex e os Name.
Já no julgamento, ela disse que no relatados antes teria sido torturada, daí “inventou” declarações. Ela disse ainda que foi ameada junto com dois filhos pequenos, por policiais, dentro do Garras. Contou, ainda, que o caso foi revelado à OAB (Ordem dos Advogados de MS), mas a questão foi arquivada.
Fala irada
No segundo dia do julgamento, prestou depoimento o sentenciado por mandar matar Playboy, Jamilzinho, no caso.
Como fez em outros julgamentos, negou participação. Questionado se conhecia Juanil Miranda, pistoleiro ligado aos Name, segundo o MPE, e que teria matado Playboy, Jamilzinho, firme no tom da voz e aparentando irritação, disparou:
“Passei a ver nomes que eu nunca vi. Eu fiquei assim sem entender nada, nada, o senhor José Carlos [outro pistoleiro, já morto] disse que só viu Juanil na minha casa, é uma mentira deslavada, descarada. Se você achar uma foto de Juanil na minha casa, me condene”, bradejou Jamilzinho.
A pergunta a ele feita era do juiz Aluízio dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, que anunciou as sentenças na madrugada dessa quinta-feira.
Tirada à força
Também no segundo dia do julgamento, uma mulher foi retirada à força por policiais por ter protestada contra um dos jurados, o ex-guarda civil Marcelo Rios.
Ela aproximou-se do réu e disse que ele era um assassino por ter o filho dela.
A mulher era mãe de um guarda civil que trabalhava com Rios e morreu por suicídio, oficialmente. Ocorre que, segundo ela, o filho teria sido morto, não se matado. Ela foi levada para a delegacia por prática de crime, o conhecido perseguição ao sossego.