Mário Pinheiro, de Paris – Ninguém sabe, nem procura entender, a origem da tecnologia dos telefones celulares de última geração. O consumismo exagerado imposto pela publicidade de mercado sempre bem chefiado pelo capitalismo selvagem não tem sentimento nem capacidade de compaixão. É uma máquina de lucro, dividendos e o objetivo é ganhar dinheiro e encher a conta bancária dos graúdos.
Crianças, adolescentes e adultos exigem o mais caro dentre eles. Tem pais e mães que acham uma gracinha um nenê que suja fraldas lidar com o celular sem ainda saber andar; julgam que o QI da criança é igual ou melhor que Einstein; outros ignoram tudo e põe o aparelho na mão criança pra que ela pare de choramingar.
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E quem não possui meios favoráveis para compra, rouba com requintes normais, ameaça, violência, pancadaria, morte, outros se endividam, pagam a prestação o aparelho que vira sua segunda vida.
Em São Paulo existe a gangue quebra-vidro especializada no roubo. Outros, de bicicleta ou mesmo a pé, atropelam as vítimas, arrancam das mãos, descem a porrada, enquanto outros usam arma, ameaçam, pedem o desbloqueamento e o Pix. Raras são as pessoas que não possuem o celular.
A matéria prima dos smartphones estão espalhados pela África e é o cobalto que alimenta a febre pela violência e o poder. O cobalto também é conhecido como “diamante de sangue” por algumas ONGs. É um metal raro cuja extração é perigosa aos trabalhadores.
Esta matéria está presente em 80% das baterias de carros elétricos e quase 100% na composição de telefones celulares. A extração do cobalto está concentrado na República Democrática do Congo e o país possui a metade da reserva mundial. O povo congolês vive entre a angustia de ter o que comer e a dura realidade que os grupos rebeldes impõem na exploração do “diamante de sangue”.
Tanto rebeldes quanto membros do governo são explorados pelas multinacionais Glencore, da Suiça, e CMOC, da China. Esses rebeldes invadem vilarejos, matam homens e mulheres, raptam as crianças que viram objeto sexual e futuros soldados. O quilo do cobalto é vendido pelos explorados congoleses por 2,72 euros, aproximadamente R$ 14. Para extrair o minério é necessário estar a 30 metros de profundidade e o trabalho é executado por menores mal vestidos e descalços.
O celular de última geração contém o sofrimento e o sangue de quem jamais poderá comprar um aparelho. A esperança da criança congolesa é apenas sobreviver ao sofrimento e comer em família. O luxo não diz respeito e a angustia se mistura ao cotidiano. O poço onde eles descem para a extração é escuro, sombrio, o cobalto é preto e eles se misturam com as cores.
A exploração das minas faz a fortuna das multinacionais, do governo e dos rebeldes, mas o povo chupa o dedo. Os acionistas chineses e suíços dividem o ganho e deixam a corrupção gangrenar a sede e a fome dos explorados.