Dois estudos divulgados nesta semana apontam fatores que devem resultar em um cenário catastrófico no Pantanal. O bioma é o que mais perdeu superfície de água nos últimos 38 anos no País e projeção indica probabilidade da área queimada, devido ao solo seco, exceder 2 milhões de hectares até o final de 2024.
Levantamento do MapBiomas Água divulgado nesta quarta-feira (26) mostra que, em comparação a 1985, o Pantanal perdeu 80,7% de sua superfície de água. O bioma respondeu, no ano passado, por 2% de toda a superfície de água do total nacional. Há 38 anos, esse percentual era de 10%.
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O MapBiomas considera a superfície de água aquela que fica pelo menos 6 meses alagada. Segundo o levantamento, em 2023 essa área do Pantanal foi de 382 mil hectares. Em 1985, era um território cinco vezes maior, ocupando 1,9 milhão de hectares. Cada hectare equivale a 10 mil m².
O estudo destaca que houve redução da área alagada e do tempo de permanência da água. No ano passado, apenas 2,6% do bioma estavam cobertos de água.
O ano de 2023 foi 50% mais seco que o de 2018, quando ocorreu a última grande cheia no bioma. Segundo o MapBiomas, em 2018, a água no Pantanal já estava abaixo da média da série histórica, que compara os dados desde 1985.
A entidade ressalta que, em 2024, não houve o pico de cheia e que o ano registra um pico de seca, que deve se estender até setembro e gera expectativa de um cenário alarmante.
O Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro publicou uma nota técnica que aponta que a probabilidade da área queimada no Pantanal exceder 2 milhões de hectares até o final de 2024 é superior a 80%.
A análise da Nota Técnica 01/2024 foi feita com base na evolução das áreas afetadas pelo fogo e condições climáticas no Pantanal de 1º de janeiro a 23 de junho de 2024.
A nota enfatiza a “necessidade urgente de políticas e ações coordenadas para a prevenção e combate aos incêndios, a probabilidade da área queimada exceder 2 milhões de ha até o final de 2024 é superior a 80%.”
“Enquanto o Cerrado e a Caatinga estão experimentando aumento na superfície da água devido à criação de hidrelétricas e reservatórios, outros, como a Amazônia e o Pantanal, enfrentam grave redução hídrica, levando a significativos impactos ecológicos, sociais e econômicos. Essas tendências, agravadas pelas mudanças climáticas, ressaltam a necessidade urgente de estratégias de adaptação de gestão hídrica”, avaliou, em nota, Juliano Schirmbeck, coordenador técnico do MapBiomas Água.
Situação de emergência
Com o Pantanal em chamas, o governador Eduardo Riedel (PSDB) decretou, na segunda-feira, 24 de junho, situação de emergência nos municípios afetados por incêndios florestais. A medida vale para fogo em parques, áreas de proteção e preservação nacionais, estaduais ou municipais, assim como em casos de propagação de fogo sem controle, ou em qualquer tipo de vegetação que possa acarretar queda na qualidade do ar.
Neste período fica autorizado a mobilização de todos os órgãos estaduais para atuarem sob a coordenação da Defesa Civil do Estado, em ações que envolvem resposta ao desastre, reabilitação do cenário e reconstrução.
No último fim de semana, um vídeo com o Pantanal ardendo em chamas diante da festa de São João em Corumbá viralizou nas redes sociais e teve repercussão nacional. Internautas até iniciaram uma campanha para suspender o tradicional banho em Corumbá.
Duas equipes da Força Nacional de Segurança Pública foram deslocadas do Distrito Federal e do Rio Grande do Sul para reforçar o trabalho de combate ao fogo no Pantanal, em especial em Mato Grosso do Sul. A seca extrema, considerada a maior dos últimos 70 anos, intensificou as queimadas no bioma meses antes do período de maior incidência de fogo.
A previsão é que os 40 agentes em 15 viaturas, que partiram de Brasília, cheguem a Corumbá nesta quinta-feira (27). O segundo grupo, em dez caminhonetes e um caminhão de suprimentos, tem previsão de chegada à região no sábado (29).