O ex-governador André Puccinelli (MDB) quer voltar ao comando da Prefeitura de Campo Grande após 20 anos para atender “apelos” do MDB, de amigos e até filiados de outros partidos para “resolver a esculhambação da administração pública” da Capital. Ele promete arrumar as contas do município em dia em três anos com a ajuda do Governo do Estado. O emedebista é o 3º pré-candidato a prefeito a participar da série de entrevistas de O Jacaré.
Com a experiência de dois mandatos como prefeito de Campo Grande, dois como governador do Estado, ex-deputado estadual e ex-deputado federal, Puccinelli lamenta a situação financeira da prefeitura, que compromete mais de 55% da receita com o pagamento de salários e não possui condições de realizar investimentos.
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Segundo o emedebista, a participação da cidade no rateio do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadoria e Serviços) despencou de 22,58%, em 2004, para 11,98% neste ano. Puccinelli acusou a prefeita Adriane Lopes de ter perdido o prazo para recorrer contra mais um corte, que tem prejudicado a Capital com a redução nos repasses estaduais. “Ouso dizer que não teria baixado”, gaba-se, caso tivesse se mantido no comando do município.
Quando comandou a cidade, André tinha rixa com o então governador Zeca do PT e conseguiu bancar os investimentos sem a ajuda do Governo estadual. “Sobrava 15% para investimento, hoje, sem a ajuda estadual, não tem”, lamenta.
O pré-candidato também critica o comprometimento de 55% da receita com pessoal. Ele lembra com saudosismo que na sua época só comprometia 42% e ainda conseguiu recuperar parte dos salários do funcionalismo municipal. Ele critica o pagamento de supersalários, o que comprometa o engajamento dos servidores.
“É preciso valorização salarial e profissional para ter o engajamento do servidor”, propõe. Para reduzir o gasto com pessoal, Puccinelli não tem medo de antecipar a medida: “os supérfluos e desnecessários terão que ser mandados embora”.
O emedebista lamentou as mudanças feitas por Nelsinho Trad (PSD), que teriam tornando a folha de pagamento mais complexas com novas nomenclaturas. Há 20 anos, ele conta que em duas horas conseguia propor reajuste de salários para todos os 27 mil servidores. Atualmente, devido a complexidade, poderia levar até dois dias.
Um dos mais graves problemas, na sua opinião, é a saúde, onde a população sofre com a falta de remédios nos postos de saúde, desde os mais simples, como dipirona, e a falta de médicos. Para resolver a falta de profissionais, ele pretende retomar uma prática das suas gestões, que era cobrar meta dos médicos, que eram obrigados a atender 16 pessoas no turno de quatro horas. “A fiscalização era constante”, lembra, inclusive cita que não é bem-querido até hoje entre os colegas de profissão. Puccinelli é cirurgião geral.
Sobre a falta de medicamentos, o ex-prefeito culpa a atual gestão por falhar na realização das licitações. “É culpa do gestor público”, alfineta, sem citar o nome de Adriane, a atual prefeita. “Falta organização”, lamenta.
O ex-governador criticou que a tarifa do transporte coletivo custe caro mesmo com a isenção de ISS e pagamento de subsídio do poder público. E voltou a insinuar que o Consórcio Guaicurus tem aliados para manter a atual sistema, considerado ruim e caro pelo usuário. “Para resolver, eu colocaria na Agereg (Agência Municipal de Regulação) técnicos competentes que não fariam acerto com o Consórcio Guaicurus”, cutuca, sem apresentar provas ou nominar quem fez o acerto com o poderoso grupo do transporte coletivo.
André promoveria mudanças no transporte coletivo, como a volta dos famosos fresquinhos, como eram chamados os veículos com ar-condicionado e custavam mais caros em relação ao ônibus comum. “Vivia cheio”, lamenta, sobre o fim dos ônibus executivos. Ele disse que há condições de manter a tarifa abaixo dos R$ 5.
O emedebista é taxativo sobre a gratuidade no transporte coletivo, uma bandeira dos candidatos a prefeito da Capital, Camila Jara (PT) e Professor André Luís (PRD), e até pelo colega de partido, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). “Tarifa zero é demagogia, se eu for prefeito, não vai ter”, avisa. André não cogita nem retomar o passe livre aos domingos, que conseguiu implantar no segundo ano de gestão como prefeito.
Na área de infraestrutura e mobilidade urbana, o ex-prefeito critica a deterioração da Avenida Ernesto Geisel, que vem sendo engolida pela erosão. Para André, a via deveria ser recuperada, com quatro faixas para veículos e a implantação de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), que interligaria as regiões sul e norte da Capital. Ele lembra que a proposta foi de Jaime Lenner no início dos anos 80 do século passado e ainda seria viável para a Capital a beira de contar com um milhão de habitantes.
André pretende concluir o sistema de integração do transporte coletivo com a construção de novos terminais, mas atualizaria o projeto. Previstos desde a sua gestão, que terminou há 20 anos, os terminais dos bairros Parati, Tiradentes e Seminário, nunca saíram do papel.
De acordo com o ex-governador, o campo-grandense clama por um gestor que exerça autoridade. “A cidade está clamando por isso, por gestor que não dê privilégio para ninguém”, enfatizou.