Foi aos 13 anos que a empresária e futura dentista Adriana Fontoura começou a trabalhar. Era necessário, explica, já que morava em Pedro Gomes, cidade distante 305 quilômetros de Campo Grande, e precisava fazer o próprio “dinheirinho”. A cidade do interior foi trocada pela Capital de Mato Grosso do Sul, mas deixou as marcas de uma infância feliz em uma típica família liderada por uma mãe.
Adriana, hoje aos 35 anos, recorda da tranquilidade em Pedro Gomes e, ainda, da falta de oportunidades oferecidas pela cidade. “A minha infância foi mais ou menos tranquila. Eu morei no interior, vivia muito no sítio, trabalhava bastante, trabalhava na roça junto com os meus avós. Minha mãe foi mãe solteira, teve três filhas, criou as três com a ajuda dos meus avós. Então foi assim, foi feliz, porém foi um pouco difícil pra minha mãe criar três filhos sozinha”.
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Da maneira como foi criada pela mãe, Adriana aprendeu que é preciso trabalhar para conquistar objetivos em um mundo moldado para homens. “Nós tivemos suporte dos nossos avós maternos e, por isso, minha mãe tem todas as filhas bem equilibradas hoje. Já sentia, contudo, a dificuldade em ser mulher na infância, mesmo pelas questões relacionadas às oportunidades. E o serviço de casa, por exemplo, sempre sobrava para nós, as mulheres. O primo, por ser menino, não precisava fazer o trabalho doméstico”.
Como forma de criar as próprias oportunidades, Adriana começou a trabalhar como babá. “Comecei aos 13 anos e, mais tarde, eu fui para o ramo de vendas de varejo. Trabalhei em várias lojas em Pedro Gomes e, depois, vim para Campo Grande, após me separar do meu primeiro casamento. Também trabalhei no Shopping Campo Grande, quando eu conheci meu esposo, em 2016, eu tive a minha segunda filha. Nessa época, decidimos abrir uma marcenaria, onde eu atuo hoje na parte administrativa e na parte de vendas, e ele, mais a equipe dele, na parte de produção”.
Ao equilibrar a vida de empresária, esposa e mãe, Adriana foi colocada à frente de mais um desafio por conta do diagnóstico da menina mais nova. No conjunto de ações necessárias para gerir o cotidiano, põe em prática o legado da família materna. “Eu tenho uma filha de 15 anos e uma de seis, diagnosticada com autismo. Eu sempre tento explicar para sobre a mulher não ser um sexo frágil. Afirmo que, sim, a mulher pode. Pode ser uma agrônoma, pode ser uma juíza. Ensino que não existem limites para nós mulheres. Eu sempre tento explicar isso, porque podemos fazer tudo o que um homem faz”.
Se pode ser babá, mãe, empresária, também pode ser dentista. “Comecei o primeiro semestre agora de Odontologia. Fico pensando que há anos eu já não estudava. E há momentos que me embanano porque os nomes científicos, mas eu sei que vai dar certo”.